As relações existentes entre o sistema imunológico e as atividades físicas
A prática de atividades físicas influencia diretamente no sistema imunológico
Medicina
16/11/2013
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a prática regular de atividades físicas traz uma série de benefícios ao indivíduo, sendo recomendada por muitos profissionais de saúde aos seus pacientes, principalmente àqueles que se encontram em estado sedentário. No tocante aos aspectos da Imunologia, isso não é diferente, pois o treinamento físico moderado melhora os sistemas de defesa do organismo, principalmente por estabelecer uma comunicação entre os sistemas nervoso, endócrino e, principalmente, o imunológico, de modo a modular a resposta imune (5). Sendo assim, o presente tema tem sido foco de muitos estudos, de ampla abordagem epidemiológica, destacando os aspectos concernentes à promoção da saúde e à prevenção de doenças.
Destaca-se aqui o exercício físico agudo (intenso), que é visto como resposta ao estresse e que envolve um conjunto de aspectos sistemáticos apresentados ao longo deste artigo, ressaltando a diminuição da resposta imune frente a alta intensidade dos exercícios empregados.
SISTEMA IMUNOLÓGICO: ASPECTOS FUNDAMENTAIS
O sistema imunológico trabalha com o combate à ação de microrganismos invasores em diversas patologias, além da remoção de células mortas entre outras estruturas não mais necessárias ao mecanismo celular, como também na ação das células de memória para o reconhecimento dos agentes infecciosos, na buscar por descartá-los do organismo sem que haja danos, buscando sempre manter a integridade do indivíduo.
Segundo Leandro et al. (5), "as células que constituem [esse sistema] originam-se a partir de células hematopoéticas pluripotentes, localizadas na medula óssea, e as diferenciações posteriores ocorrem não só aí como também noutros locais específicos do organismo. As populações leucocitárias compreendem os granulócitos polimorfonucleares (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), os monócitos/macrófagos e os linfócitos (linfócitos T, B e células Natural Killer [NK])".
Em casos de infecção e/ou lesão tecidual, a produção de citocinas se torna fundamental na resposta no local acometido, pelo seu papel de modular algumas funções celulares, acionando os linfócitos B e induzindo a produção de anticorpos para a neutralização de antígenos, numa resposta imune adaptativa ou adquirida. Por outro lado, os casos de resposta imune inata são representados pela fagocitose (englobamento das partículas sólidas invasoras). Essa indução está relacionada com a ação das imunoglobulinas como sistema de imunidade humoral (IgA, IgD, IgE, IgG e IgM – com função de anticorpo), que são excretadas por células plasmáticas que derivam dos linfócitos B, desempenhando um papel importante na neutralização de toxinas e opsonização de antígenos, como também na destruição celular e no processo fagocitário mencionado, ressaltando o auxílio do sistema complemento (conjunto de proteínas séricas) nesse processo.
O sistema complemento permite a produção de diferentes fragmentos de proteína que resultam em efeitos biológicos distintos, como os citados anteriormente, ressaltando a indução de reações inflamatórias (6). E as citocinas, em sua produção, são moduladas por um conjunto de estímulos, como estresse hormonal e oxidativo, além do estímulo extenuante (8).
TREINAMENTO FÍSICO MODERADO X TREINAMENTO FÍSICO INTENSO
Partindo do pressuposto de que os exercícios físicos consistem em contrações concêntricas, isoméricas, excêntricas, isoladas/combinadas do organismo (7), com energia fornecida por meio da quebra das altas ligações dos fosfatos da molécula de trifosfato de adenosina ou ATP (4), a sua prática é comumente classificada de acordo com o esforço realizado, o que permite a sua classificação como leve, moderado ou intenso. Tal classificação é oriunda de testes de esforço máximo, que incluem a frequência cardíaca, o consumo máximo de gás oxigênio, como também a concentração de lactato sanguíneo. É fato que o exercício moderado mantém os níveis dos testes citados como normais, ao passo que melhoram os sistemas de defesa do organismo. Contudo, a grande intensidade dessas atividades demonstra o enfraquecimento desse sistema.
De acordo com Martinez e Alvarez-Mon (6), "o estresse produzido pelo exercício físico intenso e sustentado é acompanhado por um aumento da descarga de catecolaminas (adrenalina e noradreanalina), que exercem influência sobre uma série de processos fisiológicos, representando um fator a mais na modulação da imunidade. As alterações da função imunológica podem ser acompanhadas por alterações gerais e tissulares locais que cursam com patologia inflamatória. Em consequência ao estado inflamatório gerado pelo exercício, as alterações da função imunológica são seguidas por modificações sistêmicas caracterizadas por hipertermia, astenia, predisposição a infecções, [principalmente nas vias aéreas superiores (3)], fadiga e alterações tissulares, que conduzem a uma redução do desempenho desportivo".
Essa vulnerabilidade pode ser relacionada com a diminuição da concentração, a nível plasmático, da glutamina, o que reduz a sua funcionalidade leucocitária, pois os músculos esqueléticos são a principal fonte desse aminoácido livre em sua forma circulante no organismo, fundamental ao metabolismo. Esse efeito sobre a concentração de tal substância varia com a intensidade do esforço realizado, o que não se altera em exercícios de baixa intensidade, o que difere em competições como corridas de maratona, que exigem esforço em longo prazo (4). Não é a toa que já existe a suplementação de glutamina com o objetivo de reduzir os casos de infecções (incidências).
É importante ressaltar que qualquer atividade realizada, seja esta de grande ou pequeno esforço, provoca variações fisiológicas, psicológicas e neuroendócrinas no indivíduo, causando alterações positivas ou negativas dos leucócitos, das populações de linfócitos, como também na função imunológica, visto que os mecanismos aqui apresentados se encontram interligados. Não se pode deixar de lado uma série de fatores que concomitantemente influenciam neste quadro, tais como: idade, sexo, fatores genéticos, ergonômicos, ambientais, anátomo-fisiológicos, metabólicos e nutricionais. Tais fatores estão relacionados com a suscetibilidade a processos infecciosos como também às reduções da capacidade imunológica do sujeito, dentre outros aspectos.
Por outro lado, os esportes de competição causam grande ansiedade aos sujeitos envolvidos, o que desencadeia uma série de modificações neuroendócrinas e cardiovasculares, que podem causar algum conflito a nível imunológico (5). Destaca-se o aumento da atividade simpática, com também dos níveis (sanguíneos) de hormônios como vasopressina, noradrenalina, glucagon, GH, ACTH, entre outros. Há casos em que ocorre lesão celular, inflamação muscular, além da predisposição a outros tipos de enfermidades.
O estudo apresentado por Borges, Teixeira e Ferreira (1) sugere que a suplementação com hidratos de carbono após a prática esportiva influencia na quantidade de leucócitos, linfócitos e neutrófilos plasmáticos, sendo que não foi significativo no tocante ao número de monócitos, o que parece ser benéfico também pela atenuação das taxas plasmáticas de diversos hormônios importantes, como GH, cortisol, citocinas e catecolaminas, como também na circulação linfocitária total pós-exercício, sendo que se trata de algo que necessidade de pesquisas complementares para evidenciar ainda mais esses argumentos.
Em relação à resposta imunológica para a inflamação, constata-se que "o processo inflamatório originado após a lesão tecidual deve se restaurar eficientemente para recuperar o equilíbrio homeostático. A resposta inflamatória é um mecanismo importante que representa uma interação complexa entre os agentes patogênicos, os componentes parenquimatosos celulares e teciduais, a vascularização e os componentes celulares do sangue e do plasma. [...] Uma vez presentes nos tecidos, as células inflamatórias podem ser estimuladas a liberar produtos de degranulação, incluídos metabólitos oxigênio-reativos e proteases, assim como mediadores lipídicos biologicamente ativos como o leucotrieno B4, o fator ativador plaquetário e diversas citocinas e quimiocinas" (7). Esse processo contribui para a redução dos níveis circulantes de mediadores pró-inflamatórios, além do aumento da atividade antiinflamatória 92).
CONCLUSÃO
Não há exatidão experimental e literária que comprove realmente quais são os efeitos dos exercícios físicos sobre o sistema imunológico. O que foi apresentado aqui diz respeito a um conjunto de observações comportamentais e orgânicas presenciadas mediante algum tipo de acompanhamento, buscando a fundamentação na própria literatura. Sabe-se que realmente ocorrem alterações de cunho metabólico, endocrinológico e neuropsicológico, mas não foi explanado a respeito de ações específicas dessas modificações nos componentes celulares como também dos mecanismos imunomoduladores. A execução de tais estudos com certeza implicará na prevenção e na recuperação em relação aos danos causados pelas atividades físicas irregulares, lembrando que "parâmetros como volume e intensidade devem ser observados em sua prescrição para que [delas] se obtenha melhores resultados" (8). No entanto, ressalta-se que as complicações mencionadas não estão relacionadas com os indivíduos que praticam exercícios dentro de limites, de modo a evitar o estresse constante de sua execução.
REFERÊNCIAS
1. BORGES, G.F.; TEIXEIRA, A.M. e FERREIRA, J.P.. Meta-análise do efeito no sistema imunitário da suplementação de hidratos de carbono no exercício físico. Motri. [online]. 2012, vol.8, n.2, pp. 83-97. ISSN 1646-107X.
2. BRITO, Ciro José et al. Exercício físico como fator de prevenção aos processos inflamatórios decorrentes do envelhecimento. Motriz: rev. educ. fis. (Online) [online]. 2011, vol.17, n.3, pp. 544-555. ISSN 1980-6574.
3. COSTA ROSA, Luiz Fernando Pereira Bicudo and VAISBERG, Mauro W. Influências do exercício na resposta imune. Rev Bras Med Esporte [online]. 2002, vol.8, n.4, pp. 167-172. ISSN 1517-8692.
4. GARCIA JUNIOR, Jair Rodrigues; PITHON-CURI, Tânia Cristina and CURI, Rui. Conseqüências do exercício para o metabolismo da glutamina e função imune. Rev Bras Med Esporte [online]. 2000, vol.6, n.3, pp. 99-107. ISSN 1517-8692.
5. LEANDRO, Carol Góis et al. Mecanismos adaptativos do sistema imunológico em resposta ao treinamento físico. Rev Bras Med Esporte [online]. 2007, vol.13, n.5, pp. 343-348. ISSN 1517-8692.
6. MARTINEZ, Alfredo Córdova and ALVAREZ-MON, Melchor. O sistema imunológico (I): conceitos gerais, adaptação ao exercício físico e implicações clínicas. Rev Bras Med Esporte [online]. 1999, vol.5, n.3, pp. 120-125. ISSN 1517-8692.
7. MARTINEZ, Alfredo Córdova and ALVAREZ-MON, Melchor. O sistema imunológico (II): importância dos imunomoduladores na recuperação do desportista. Rev Bras Med Esporte [online]. 1999, vol.5, n.4, pp. 159-166. ISSN 1517-8692.
8. TERRA, Rodrigo; SILVA, Sílvia Amaral Gonçalves da; PINTO, Verônica Salerno and DUTRA, Patrícia Maria Lourenço. Efeito do exercício no sistema imune: resposta, adaptação e sinalização celular. Rev Bras Med Esporte [online]. 2012, vol.18, n.3, pp. 208-214. ISSN 1517-8692.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Samuel José Amaral de Jesus
As publicações neste portal correspondem ao período em que fui Estudante de Graduação em Biomedicina.
Hoje, sou Bacharel em Biomedicina (2015) pela Faculdade Nobre de Feira de Santana (BA), Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela Fundação Visconde de Cairu (BA), Mestrando.
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