Geneticista

Medicina

06/03/2008

O papel da Genética na Medicina

Genética médica é uma especialidade que se ocupa do estudo dos transtornos da genética humana.

    Em 2003 comemoramos os 50 anos da descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick. Neste período uma avalanche de conhecimento foi produzida, em ritmo cada vez mais acelerado, principalmente a partir do início da década de 60. As questões fundamentais criadas pelo Dogma Central da Biologia Molecular postulado por Watson e Crick, foram sendo paulatinamente respondidas à medida que a tecnologia de investigação do DNA foi sendo aprimorada. estes avanços em no conhecimento permitiram estabelecer a função do gene com uma precisão e abrangência jamais alcançados. Neste contexto a genética médica foi reconhecida como a especialidade que lida com o diagnóstico, o tratamento e o controle dos distúrbios hereditários. Mas a atuação da genética médica estendeu-se além dos distúrbios genéticos, pela percepção do papel cada vez mais abrangente do gene na determinação da saúde do indivíduo. Hoje em dia os geneticistas médicos e humanos fazem parte da elite que estuda a fronteira do conhecimento humano, investigando os determinantes da variabilidade e hereditariedade no Homem. Com o advento do Programa Genoma Humano a importância desta especialidade da Medicina ascendeu a um grau nunca antes atingido. A responsabilidade social e a cobrança de posições éticas, também, têm sido enormes. É difícil antever o contexto social em que atuarão os futuros geneticistas médicos e humanos e a inserção da Genética Médica neste contexto. A imaginação humana geralmente é bastante catastrofista e os cenários de ficção científica mostram geralmente os geneticistas como vilãos das estórias e a prática médica nesta área transformada em business (leia várias opiniões sobre o filme GATACA). Esperemos, contudo, que o indispensável controle social sobre os pesquisadores e médicos garanta uma passagem para o futuro sem surpresas desagradáveis.

Relevância da Genética para Prática Médica

Ainda que a Genética Médica tenha se tornado uma especialidade reconhecida e respeitada, o conhecimento básico da genética humana não faz parte do ferramental do médico brasileiro. Com o extraordinário impacto na mídia do Projeto Genoma Humano e a inserção do Brasil no esforço de genômica, aliados aos testes de DNA para paternidade, criminalística e pedigree, os pacientes têm trazido aos médicos e demais pessoal de saúde questões mais ou menos complexas, que demandam um conhecimento da Genética Humana acima daquele que o médico pode encontrar em publicações leigas. Os pacientes, entretanto, merecem esta atenção do profissional médico, que deve saber os princípios da Genética Humana e a correlação entre estes princípios, a prática médica e o bem estar do paciente. Listamos a seguir alguns pontos importantes a serem compreendidos pelo profissional médico e outros profissionais da saúde.

       A existência de formas alternativas (alelos) de um gene numa população, sem que isto implique em doença, mas apenas, e na maior parte das vezes, em variedade;

      A existência de fenótipos similares, ocasionados por mutações e variações em genes e regiões distintas (loci distintos) do genoma;

    A importância das interações gene-a-gene e gene-ambiente na determinação das doenças. É indispensável que o médico perceba que a medicina caminha para um serviço personalizado, em função do background genético do paciente, que determina, junto com o meio ambiente e o modus vivendi, sua posição no binômio saúde-doença;

      O papel das mutações somáticas no câncer e no envelhecimento;

      A exequibilidade do diagnóstico pré-natal e de testes pré-sintomáticos;

      A expectativa da terapia gênica.

Estes temas mostram que a Genética Humana permeia todas as especialidades médicas, não se atendo a uma ou outra. A cada dia o público se torna mais consciente do papel dos genes na determinação não apenas da doença, mas da susceptibilidade ou resistência às doenças infecciosas, da propensão familiar a certos distúrbios e a um número maior ou menos de temores pouco fundamentados na ciência, mas que desafiam o médico na sua prática, pela sua posição de autoridade na sociedade e pela expectativa do paciente de que o profissional médico possa responder a contento suas indagações. estas indagações estendem-se, com freqüência, aos familiares do paciente. De fato, há que ressaltar este aspecto importante da genética Médica: a atenção fundamental à história familiar, tantas vezes rejeitada a segundo plano na práxis médica atual.

 Disciplinas dentro da Genética Médica e Humana

Enquanto a Genética Humana pode ser concebida como a ciência que estuda a variação e hereditariedade dos seres humanos, a Genética Médica vinha, até pouco tempo, se interessando apenas pelo sub-grupo de variações que tinham significado médico, isto é, determinavam doença ou, no máximo, risco aumentado de doença. Entretanto, com a compreensão de que variações de um único nucleotídeo (SNPs) são determinantes da variedade entre seres humanos e da maior ou menos susceptibilidade a doenças, tolerância a drogas e muitos outros parâmetros de interesse médico, a Genética Médica está sendo forçada a estender seu campo de interesse para todo o genoma, tarefa sem dúvida hercúlea. Um campo florescente nos últimos anos é a farmacogenômica, uma ciência nova que procura entender como uma associação particular de alelos é capaz de definir parâmetros importantes na ação de drogas, levando, em última instância, a uma terapêutica personalizada. Para a compreensão global do papel do determinante genético na saúde do paciente e da população humana atendida, o profissional médico do século XXI deve compreender as principais áreas de especialização, a saber:

      Citogenética - o estudo dos cromossomos;

      Genética molecular e bioquímica - o estudo da estrutura e da função de genes individuais;

      Genômica - o estudo do genoma, sua organização e funcionamento;

      Genética de populações - o estudo da variação genética nas populações humanas e os fatores que determinam as freqüências alélicas.

      Genética do desenvolvimento - o estudo dos mecanismos genéticos que controlam o desenvolvimento do indivíduo, dentro e fora do útero e mesmo na fase adulta.

      Genética clínica - a aplicação da genética ao diagnóstico e aos cuidados com o paciente (que se ampliam aos seus familiares e, com interface com a saúde pública, à população).

      Consulta genética (aconselhamento genético) - uma nova profissão em saúde, que resultou do amálgama d diversas áreas, como a genética clínica, a psicologia e a assistência social, e que demanda uma equipe completa par assistência ao paciente, e não apenas o médico.

O profissional médico também está envolvido no diagnóstico genético laboratorial e na assistência à população em geral, através de testes de triagem. Esta área está em franca expansão.

Classificação dos distúrbios genético:

    Até recentemente, a prática clinica envolvi a genética apenas para esclarecer o papel da variação genética e das mutações e outras alterações do genoma na etiologia de um grande número de doenças. Podemos considerar que ABSOLUTAMENTE TODAS as doenças são o resultados da interação da ação gênica e do ambiente, mas o papel de um componente e de outro pode variar muito. Podemos dividir os distúrbios com componentes genéticos claros em:

Distúrbios monogênicos

Distúrbios cromossômicos

Distúrbios multifatoriais

Os distúrbios monogênicos são causados por genes mutantes individuais. Isto não que dizer que apenas uma proteína (o produto deste gene) esteja alterada, pois muitas vezes a expressão de um grande número de genes pode ser dependente de uma única proteína. É o caso dos fatores de transcrição, por exemplo, como o FoxP2. Os padrões de heredograma costumam ser óbvios e característicos. As frequências de aparecimento destes alelos mutantes na população costuma ser muito baixa, mas há algumas doenças que são bastante frequentes. Ainda assim, estima-se que as doenças genéticas afetam 2% da população durante todo o tempo de vida. Em um estudo com 1 milhão de crianças, observou-se 0,36% de distúrbios monogênicos graves entre a população ambulatorial pediátrica, mas esta frequência subia para 6 a 8% entre os hospitalizados.

Nos distúrbios cromossômicos, o defeito observado não se deve a genes defeituosos, mas ao excesso ou deficiência de genes normais, contidos num cromossoma ou em parte dele. É o caso da síndrome de Down, onde há 3 cromossomos 21, ao invés dos dois normalmente encontrados no organismo. Como um grupo, este tipo de distúrbios é muito mais comum que os monogênicos, com uma incidência média de 7 casos em 1000 habitantes. Contribui também com metade dos abortos espontâneos até o 3o. mês de gestação

A herança multifatorial parece resultar de uma soma de condições particulares de muitos genes, que resulta em predisposição aumentada para doença ou diretamente na doença.  Muitas vezes estes distúrbios se manifestam por alterações no desenvolvimento do indivíduo, levando a malformações congênitas e inúmeros distúrbios na vida adulta.  As estimativas de freqüência vão de 5% na faixa pediátrica a mais de 60% na população toda.

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