"A formação em obstetrícia: competência e cuidado na atenção ao parto"

Medicina

01/01/2008

Tese de Doutorado
Título original A formação em obstetrícia: competência e cuidado na atenção ao parto
Autor Hotimsky, Sonia Nussenzweig
E-mail sonianhotimsky@uol.com.br
Unidade Faculdade de Medicina (FM)
Área de concentração Medicina Preventiva
Orientador ¤ Schraiber, Lilia Blima

Banca Examinadora ¤ Barbosa, Rosâna Machin
¤ Diniz, Carmen Simone Grilo
¤ Falcão, Marcia Thereza Couto
¤ Oliveira, Ana Flavia Pires Lucas D
¤ Schraiber, Lilia Blima

Data da Defesa 17/08/2007
Palavras-chave ¤ Aprendizagem
¤ Obstetrícia/educação
¤ Parto obstétrico/educação

Resumo Original
Esta tese consiste em uma análise da formação em obstetrícia durante a graduação em medicina, baseada em pesquisa etnográfica realizada em duas escolas conceituadas. Objetivou-se estudar o modo como se articulam a competência técnica e científica e o cuidado ou relação com a paciente no ensino teórico e prático da assistência ao parto. As técnicas utilizadas na coleta de dados foram: observação participante, entrevistas semi-estruturadas e, de modo complementar, a análise de livros-texto e protocolos assistenciais. O trabalho abrangeu uma caracterização das propostas curriculares e um exame da experiência dos alunos quanto ao ensino teórico e prático, incluindo sua supervisão nas diversas atividades assistenciais. Ênfase maior recai sobre o desenvolvimento de conhecimentos científicos na formação. Mesmo no internato ênfase é colocada na aprendizagem da construção e encenação de narrativas clínicas, privilegiando-se a transmissão oral do conhecimento e a memória em relação ao registro escrito e à consulta ao prontuário das pacientes. Pautado em parte por assim chamadas concepções "clássicas", que sustentam uma visão patológica da fisiologia do parto, o exercício da prática envolve condutas que têm sido questionadas a partir das evidencias científicas ou até abandonadas em outros contextos As decisões acerca das condutas ou tratamentos adotados não são compartilhadas com as mulheres atendidas que frequentemente não são consultadas ou sequer informadas à respeito. Por vezes juízos de valor também influenciam o julgamento clínico e a tomada de decisões médicas. Há poucos parâmetros para avaliar as atitudes dos alunos em sua interação com as pacientes. Nos serviços em que há maior interação entre alunos e pacientes, a supervisão é menor. Existem acordos informais entre os assistentes na divisão de plantões que se contrapõe aos organogramas formais dos serviços obstétricos vinculados as Faculdades de medicina pesquisadas. Esses acordos subordinam os objetivos institucionais da boa formação e assistência em obstetrícia aos interesses individuais e coletivos dos profissionais obstetras responsáveis pela supervisão do ensino. Componente do currículo oculto, esses acordos servem de modelo para outros envolvendo residentes e/ou alunos. Ao longo da formação dos estudantes de medicina, as interações entre os sujeitos em relação no exercício do ato médico contribuem de diversas maneiras para desqualificar a prática médica da obstetrícia como técnica moral-dependente.
Título em Inglês Obstetric training: competence and care in birth assistance
Palavras-chave em Inglês ¤ Delivery obstetric/education
¤ Learning
¤ Obstetrics/education

Resumo em Inglês
This thesis consists of an analysis of obstetric training during medical school. It is based on ethnographic research undertaken at two acknowledged medical schools. The objective was to study how technical and scientific competence and care, that is, the relationship with the patient, are articulated in theoretical and practical training of birth assistance. The techniques employed in fieldwork were: participant observation, semi-structured interviews and, in a complementary form, the analysis of textbooks and assistance protocols. A characterization of the curriculum offered by the schools and an examination of students experience with respect to learning the theory and practice of obstetrics, including the supervision of the various activities involving obstetric assistance are discussed. Description and analysis of the scission between the development of technical and scientific competence in the educational process was undertaken. The implications of this scission for training in the practice of medicine as a moral dependent technique are discussed. Great emphasis is placed on the development of scientific knowledge during training. Even in the clinical years, emphasis is placed on learning to construct clinical narratives, placing priority on memory and the oral transmission of knowledge rather than written registration and consultation of patiente's charts. Learning and training is based in part on so-called "classical" concepts, which sustain a pathological approach to birthing. In training, this approach involves norms of conduct that have been questioned by scientific evidence and that have even been abandoned in other contexts. Obstetrical decisions involving conduct and training are not taken in conjunction with the women receiving assistance who frequently are not even consulted or informed of these decisions. Sometimes prejudices influence medical judgment and decision-making. There are few parameters to evaluate student attitudes in their interaction with patients. In the work stations where students interact more with patients there is less supervision. Informal arrangements between assistants with respect to rounds conflict with the formal schedules of the obstetric services associated to the medical schools where research was undertaken. These arrangements subordinate the institutional objectives of good medical practice and assistance to the individual and collective interests of the obstetricians responsible for supervising training. These arrangements are a component of the hidden curriculum and serve as a model for other arrangements involving residents and/or students. Throughout the obstetric training of medical students, interactions between the subjects involved in the medical act contribute in several ways to disqualify the medical practice of obstetrics as a morally-dependent technique.

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