Qualidade de Vida: Uma Expressão Multidisciplinar e Polissêmica

Qualidade de Vida é Viver Bem
Qualidade de Vida é Viver Bem

Medicina

07/11/2012

A expressão Qualidade de Vida (QV) foi mencionada pela primeira vez em 1920 por Pigou, em seu livro sobre economia e bem-estar, em que o autor discutiu o suporte governamental para as classes sociais menos favorecidas e o impacto financeiro sobre suas vidas e sobre o orçamento do Estado. Após a Segunda Guerra Mundial, a expressão passou a ser muito mais utilizado, pois a civilização ocidental associou a noção de sucesso à melhoria do padrão de vida, principalmente relacionado com a obtenção de bens materiais, como casa própria, carro, salário, e bens adquiridos.

Com o passar dos anos, o conceito se ampliou, significando, além do crescimento econômico, o desenvolvimento social e, ultimamente, valorizam-se fatores como satisfação, qualidade dos relacionamentos, realização pessoal, percepção de bem-estar, acesso a eventos culturais, lazer, felicidade, solidariedade e liberdade. (ARELLANO, 2008; KLUTHCOVSKY; TAKAYANAGUI, 2007; MACIEL, 2006; SILQUEIRA, 2005).

De acordo com Campolina e Ciconelli (2006), foi em meados da década de 1960 que a expressão passou a ser entendida como QV subjetiva ou percebida pelas pessoas; e foi grandemente influenciada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que declarou que a saúde não é simplesmente a ausência de doença, mas engloba a percepção individual de um completo bem-estar físico, mental e social.

Nas ultimas décadas, essa expressão vem sendo utilizada tanto na linguagem cotidiana como na literatura científica de diferentes áreas do conhecimento, como educação, enfermagem, medicina e psicologia, sendo atualmente um conceito de uso multidisciplinar e por isso de múltiplas definições (DALRI, 2007; NOVATO, 2009).

O grupo da OMS que estuda QV, o WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE (WHOQOL GROUP), sob a coordenação de John Orley, definiu genericamente QV como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (SILVA, 2008, p. 21; WHOQOL GROUP, 1995 apud FLECK, 2000, p. 33). Este mesmo grupo de especialistas da OMS identificou quatro aspectos fundamentais referentes ao construto QV: a subjetividade, a multidimensionalidade, a bipolaridade e a mutabilidade.

A subjetividade diz respeito à percepção do indivíduo sobre seu estado de saúde e funcionalidade, considerando seu impacto no contexto de vida. A multidimensionalidade inclui que a QV é composta por diferentes dimensões, entre elas, as dimensões físicas, psicológica e social. Tais dimensões podem ser positivas, como a mobilidade, ou negativas, como a dor, caracterizando, assim, a QV como um construto bipolar. A mutabilidade, por sua vez, parte do pressuposto que a avaliação da QV pode mudar, em função do tempo, local, pessoa e contexto cultural (ARELLANO, 2008; KLUTHCOVSKY; TAKAYANAGUI, 2007; MACIEL, 2006; SEIDL; ZANNON, 2004; SILVA, 2008).

Tais características corroboram com a definição sobre QV citada por Minayo, Hartz e Buss (2000):
Qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto uma construção social com a marca da relatividade cultural (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, p. 8).

Percebe-se, então, que o conceito sobre QV é amplo para além da significação do crescimento econômico e busca envolver os diversos aspectos do desenvolvimento social, por isso é eminentemente interdisciplinar, sendo necessária a contribuição de diferentes áreas do conhecimento para o aprimoramento conceitual e metodológico do tema.

Referências
ARELLANO, E. B. Avaliação dos programas de qualidade de vida no trabalho-análise crítica das práticas das organizações premiadas do Brasil. 2008. 194 f. Tese [Doutorado em Nutrição Humana Aplicada]. São Paulo: Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, 2008.
CAMPOLINA, A. G; CICONELLI, R. M. Qualidade de vida e medidas de utilidade: parâmetros clínicos para as tomadas de decisão em saúde. Rev. Panam. Salud Pública, 19(2), 2006.
DALRI, R. C. M. B. Riscos ocupacionais entre trabalhadores de enfermagem de unidades de Pronto Atendimento em Uberaba – MG. 2007. 146 f. Dissertação [Mestrado em Enfermagem]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, 2007.
FLECK, M. P. A. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciência & Saúde Coletiva, 5(1): 33-38, 2000.
KLUTHCOVSKY, A. C. G. C; TAKAYANAGUI, A. M. M. Qualidade de vida – aspectos conceituais. Revista Salus-Guarapuava-PR, 1(1), jan-jun. 2007.
MACIEL, E. S. Qualidade de vida: análise da influência do consumo de alimento e estilo de vida. 2006. 187 f. Dissertação [Mestrado em Ciências]. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2006.
MINAYO, M. C. S; HARTZ, Z. M. A; BUSS, P. M. Qualidade de vida e saúde: um debate necessário. Ciênc. Saúde Coletiva, 5(1):7-18, 2000.
NOVATO, T. S. Fatores preditivos de qualidade de vida relacionada à saúde em adolescentes com Diabetes Mellitus do tipo 1. 2009. 175 f. Tese [Doutorado em Enfermagem]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 2009
SEIDL, E. M. F; ZANNON, C. M. L. C. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 20(2): 580-588, 2004.
SILQUEIRA, S. M. F. O questionário genérico como instrumento de mensuração da qualidade de vida relacionada à saúde de pacientes hipertensos. 2005. 117 f. Tese. [Doutorado em Enfermagem]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 2005.
SILVA, A. A. Avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde: percepção sobre as condições de trabalho e de vida entre profissionais de enfermagem, de hospital universitário no município de São Paulo. 2008. 181 f. Dissertação [Mestrado em Saúde Pública]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP, 2008.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Ariely Nunes Ferreira de Almeida

por Ariely Nunes Ferreira de Almeida

Fisioterapeuta e Professora do Magistério Superior do Colegiado de Fisioterapia da Universidade Federal do Amapá. Especialista em Traumato-Ortopedia, Mestre em Ciências da Saúde, aréa de concentração: Epidemiologia e saúde Pública; Linha de Pesquisa: Qualidade de vida e saúde.

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