O Doce Gosto do Açúcar e as Amargas Consequências Causadas Pelo Abuso

Açúcar é considerado um vilão
Açúcar é considerado um vilão

Medicina

24/10/2012

Pela primeira vez na história, o número de casos de doenças crônicas não-transmissíveis superou o de doenças infecciosas. Em setembro passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que doenças cardíacas, câncer e diabetes são responsáveis por 35 milhões de mortes ao ano. Em um comment publicado na revista Nature em fevereiro, cientistas apontam que o tabaco, o álcool e a dieta são os principais fatores de risco que desencadeiam doenças crônicas não transmissíveis.

E no quesito dieta, a maioria dos profissionais da saúde não acredita que o principal vilão seja a gordura saturada, mas. o açúcar. Quimicamente, o açúcar que ingerimos proveniente da cana é chamado de sacarose. Esta molécula é um dissacarídeo formado por dois monossacarídeos: a glicose e a frutose.

O açúcar não é prejudicial apenas pelo fato de ter muitas calorias. Pesquisas recentes comprovaram que a ingestão exagerada de frutose dispara processos que levam à intoxicação do fígado e a outras doenças crônicas (hipertensão, infarto do miocárdio, dislipidemia, pancreatite, obesidade, disfunção hepática). Estatísticas revelam que, nos últimos 50 anos, o consumo mundial de açúcar triplicou. "Evolutivamente, o açúcar estava disponível aos nossos ancestrais por meio das frutas apenas em determinadas épocas do ano ou através do mel.

Mas, atualmente, o açúcar vem sendo amplamente adicionado a comidas processadas, limitando a escolha do consumidor. Se, por um lado, a natureza dificultou seu consumo, por outro, o desenvolvimento tecnológico e o estilo de vida adotados pelo homem o facilitou" dizem os pesquisadores. De acordo com os autores, este problema não ocorre só em países desenvolvidos.

Todo país que adotou uma dieta ocidental, caracterizada por alimentos de baixo custo e altamente processados, tiveram aumento no índice de obesidade e doenças relacionadas à síndrome metabólica (hipertensão, problemas cardiovasculares, diabetes etc.). Atualmente, o número de obesos supera em 30% o de desnutridos.

No artigo, os pesquisadores mostram que o açúcar faz mais mal à saúde do que a simples adição de calorias. Ele induz o desenvolvimento de doenças de síndrome metabólica, que inclui:
(1) hipertensão (a glicose aumenta o nível de ácido úrico que, por sua vez, eleva a pressão arterial);
(2) aumento de triglicerídeos e resistência à insulina através da síntese de gorduras no fígado; (3) diabetes, causada pelo aumento da produção de glicose no fígado combinado com a resistência à insulina e ;
(4) envelhecimento, causado por danos em lipídios, proteínas e DNA através de ligações não enzimáticas entre a frutose e outras moléculas.

Além disso, a frutose produz no fígado efeitos tóxicos semelhantes ao do álcool. "Isso não é nenhuma surpresa, pois o álcool é derivado da fermentação do açúcar", complementam. Retirado de Lustig et al. 2012. Segundo os autores do artigo, os impactos na economia causados pelos gastos na saúde com doenças crônicas não transmissíveis, além do bem-estar comum, justificam o controle do consumo de açúcar.

Eles sugerem algumas alternativas para tornar o açúcar um pouco menos frequente na alimentação como colocar impostos sobre produtos industrializados açucarados, limitar da venda de tais produtos em escolas e a definição de uma idade mínima para a compra de refrigerantes.

Medidas semelhantes foram eficientes para diminuir o consumo do álcool e do tabaco nos Estados Unidos e Europa. Mas, diferentemente do álcool ou do tabaco, que são produtos não essenciais ao consumo, o açúcar está em alimentos, o que dificulta a sua regulação.

Além disso, o açúcar é barato, palatável e tem um mercado consumidor amplo, assim, há poucos incentivos para a indústria alimentícia moderar o seu uso. "Regular o consumo de açúcar não será fácil, especialmente nos 'mercados emergentes' de países em desenvolvimento, nos quais refrigerantes são mais baratos do que leite ou mesmo água", destacaram. Os autores terminam com a frase de alerta: "É hora de voltarmos às atenções ao açúcar".

Denise Lopes Vido Professora da Del Sole Doutoranda em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente - Instituto de Botânica de São Paulo. Para saber mais, leia o comentário The toxic truth about sugar, de Robert H. Lustig, Laura A. Schmidt e Claire D. Brindis, publicado em fevereiro de 2012, disponível para assinantes da Nature em www.nature.com.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Daniele Sá Vido

por Daniele Sá Vido

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