Aprendizagem e Autismo

Atualmente se sabe que o autismo não é um transtorno único
Atualmente se sabe que o autismo não é um transtorno único

Medicina

17/09/2012

Segundo Rotta (2006) apud Bleurer (1911), Bleurer usou pela primeira vez a palavra “autismo” para determinar a perda de contato com a realidade, e grande dificuldade ou impossibilidade na comunicação. Em 1943, Kanner descreveu onze crianças que tinham de iguais comportamentos originais, que correspondia adequadamente ao conceito de autismo. Percebeu nessas crianças uma dificuldade inata em estabelecer contato afetivo e interpessoal.



Asperger mais tarde descreveu outros casos de crianças com algumas descrições parecidas com o autismo, que também demonstravam dificuldades na comunicação social. Mas apresentavam uma inteligência mais preservada. Atualmente se sabe que o autismo não é um transtorno único, mas sim uma síndrome de desenvolvimento complexo, que é definido por meio de um ponto de vista comportamental, que demonstra etiologia múltipla e caracteriza-se por graus variados de gravidade.


Nas manifestações clínicas dos diferentes quadros, observa-se a influência de fatores associados que não necessariamente fazem parte das manifestações principais do autismo. Podemos verificar entre elas a habilidade cognitiva, que é de grande importância.


Como já foi descrito, as manifestações que definem o autismo incluem deficits qualitativos na interação social e na comunicação, comportamentos repetitivos e estereotipados e um repertório de interesses restritos.


As alterações na interação social em crianças autistas podem manifestar-se como isolamento ou atitudes sociais impróprias, pobre contato visual, dificuldade em participar em atividades e grupos, indiferença afetiva ou manifestação inapropriada de afeto, assim como falta de empatia social ou emocional.


Algumas manifestações podem, com o tempo, amenizar, mas outras podem aparecer devido à fase que a criança está passando, como adolescência. Os adolescentes podem ter interpretações equivocadas a respeito de como são percebidos pelos outros, e o adulto autista, mesmo com capacidade cognitiva, tende a se isolar por ter grandes dificuldades em estabelecer relacionamentos afetivos.



A comunicação pode apresentar diferentes graus de dificuldades, tanto na habilidade verbal quanto na não verbal. Algumas crianças podem não desenvolver essa capacidade de comunicação social e outras podem desenvolver mais de maneira precária, com imaturidade; pode ser uma fala caracterizada por jargões, ecolalia, reversão de pronomes, prosódia anormal etc. Outras podem apresentar grande dificuldade em iniciar e manter uma conversa apropriada. Esses deficits de linguagem e comunicação permanecem na vida adulta e uma grande quantidade de autistas permanece não verbal.



Alguns adquirem habilidades verbais, mas apresentam deficits persistentes em estabelecer conversação por falha na reciprocidade. Uma das características é a dificuldade que eles apresentam em compreender o aspecto abstrato da comunicação, como piadas, sutilezas nas conversas, abstrações, ditados populares, assim como dificuldades em perceber e interpretar a linguagem não verbal, como a linguagem corporal e expressões faciais.

O autista, por apresentar seus comportamentos estereotipados e repetitivos tem resistência a mudanças, insistência em determinadas rotinas, apego excessivo a determinadas rotinas e encantamento com o movimento de determinadas peças, principalmente com movimentos de rotação. Muitas crianças, às vezes, mostram-se muito interessadas em determinado brinquedo, mas esse encantamento ou interesse é somente em manuseá-lo ou alinhar de maneira estereotipada e não usá-lo para sua finalidade simbólica.



Embora exista a importância dos fatores biológicos na gênese do autismo, ainda não existe um marcador específico para esse transtorno. Sendo assim, o diagnóstico do transtorno autista e o conhecimento de seus limites continuam uma decisão clínica e tem de se tomar cuidado para não se tornar arbitrária.



Se forem usados os critérios aceitos para definir o autismo, esse não será com certeza um transtorno raro. Dependendo dos critérios de inclusão, a prevalência do quadro autístico tem variado de quarenta a cento e trinta por cem mil, ocupando assim o terceiro lugar entre os transtornos do desenvolvimento, estando na frente das malformações congênitas e da síndrome de Down. Se considerarmos os transtornos globais do desenvolvimento, a prevalência é de dois a cinco casos por mil. Não está muito claro se a prevalência dos transtornos gerais do desenvolvimento tem aumentado. O mais aceitável ou provável é que o aumento do diagnóstico deve-se a um maior preparo dos profissionais da área de saúde em identificar o transtorno. E houve um aumento também do diagnóstico em crianças não tão graves, além também das mudanças que ouve dos critérios diagnósticos do DSM-III e do DSM-IV-R.



Os critérios que são utilizados para o diagnóstico do autismo pode ser encontrado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de psiquiatria o DSM- IV. Assim como em outras bibliografias como CID-10 etc.



Segundo o DSM-IV (1994), pelo menos seis dos doze critérios abaixo devem estar presentes, sendo dois de (1) e pelo menos um de (2) e (3) como: 1- deficits qualitativos na interação social, manifestados por: 1.1- dificuldades marcadas no uso de comunicação não verbal; 1.2- falhas no desenvolvimento de relações interpessoais apropriadas no nível de desenvolvimento; 1.3- dificuldade em procurar, espontaneamente compartilhar interesses ou tarefas prazerosas com outras pessoas; 1.4- falta de reciprocidade social ou emocional. 2- deficits qualitativos de comunicação, manifestados por: 2.1- falta ou atraso no desenvolvimento da linguagem, 2.2- dificuldade marcada na habilidade de iniciar ou manter conversação, em sujeitos com linguagem adequada; 2.3- uso estereotipado, repetitivo da linguagem; 2.4- inabilidade de participar de brincadeiras de faz de conta ou imaginativas de formas múltiplas ou espontâneas para o seu nível de desenvolvimento. 3- padrões de comportamento, atividades e interesses restritos e estereotipados: 3.1- preocupação excessiva, com interesses restritos e estereotipados; 3.2- aderência inflexível a rotinas ou rituais; 3.3- maneirismos motores repetitivos e estereotipados; 3.3- preocupações persistentes com partes de objetos.

Atraso ou função anormal em pelo menos uma das áreas acima presentes antes dos três anos de idade. Deve-se enfatizar que a principal intenção dos critérios propostos para diagnosticar autismo e distúrbios relacionados, refere-se à importância de reduzir as controvérsias entre pesquisadores e clínicos a respeito da delimitação desses transtornos. Essa delimitação prende-se a aspectos de nível comportamental, que constitui a etiologia.



Dentro dos aspectos neurobiológicos, sabe-se que atualmente há um substrato orgânico para o autismo infantil, diferenciando-se das explicações mais antigas, que apontavam para uma etiologia exclusivamente psicogênica. As pesquisas nas áreas de neurofisiologia, neuroimagem, neuropatologia, neuroquímica e neurogenética têm demonstrado cada vez mais componentes neurobiológicos na gênese dos transtornos globais do desenvolvimento.



Considerando os aspectos anatômicos do sistema nervoso central (SNC), tanto no cerebelo quanto no sistema límbico têm sido encontradas alterações estruturais que se devem a situações precoces ao redor da trigésima semana de gestação e que poderiam ter algum vínculo com os achados clínicos ou comportamentais. Ainda estudos mais recentes mostram que os autistas demonstram organização minicolunar cerebral anormal.


Quanto ao cerebelo em estudos de neuroimagem tem-se observado de forma mais frequente a hipoplasia dos lóbulos VI e VII do VERMIS cerebelar, o que, em um estudo de metanálise, foi apresentado em mais de 80% dos autistas que demonstram alguma alteração anatômica cerebelar.




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