Português para estrangeiros

O King's College já tem cerca de 100 alunos aprendendo português
O King's College já tem cerca de 100 alunos aprendendo português

Idiomas

17/04/2014

Até alguns anos atrás, quando algum estrangeiro decidia aprender português, de duas uma: ou tinha um relacionamento amoroso com um brasileiro ou se interessava por algum aspecto da cultura do País, como a música.

Nos últimos anos, universidades e escolas de idiomas de diversos países têm registrado não só um aumento da procura pelos cursos que ensinam o be-a-bá da língua de Camões mas também uma mudança no perfil dos alunos.

Interesse

Desde 2008, o Português vem sendo listado como um dos idiomas prioritários na pesquisa feita pela Confederação Britânica da Indústria (CBI), maior lobby empresarial britânico, para identificar quais habilidades dos trabalhadores podem ser úteis para os negócios.

Entre as escolas que se entusiasmaram com a nova demanda na Grã-Bretanha, estão a United International College London, na qual Claudia trabalha. A escola abriu um curso de Português há um ano e já matriculou 86 estudantes, segundo Javier Zamudio diretor da área de línguas estrangeiras.

"Entre eles, há europeus de diversos países e também alguns latino-americanos", diz Zamudio, calculando que "cerca de 95% dos alunos" estão interessados no português "do Brasil".

O King's College já tem cerca de 100 alunos aprendendo português e as aulas do curso que alia o ensino da língua a lições sobre outros aspectos da cultura brasileira começaram na segunda-feira.

A rede de ensino de idioma Cactus, que oferece aulas de português em 13 unidade, também viu o número de estudantes nesses cursos crescer 107% nos últimos cinco anos segundo Tinka Carrick, sua diretora de marketing. O número de treinamentos oferecidos às empresas quadruplicou, tendo o aumento mais acentuado ocorrido nos últimos dois anos (63% e 77% respectivamente).

Nos EUA, a revista especializada em Educação Language Magazinenotou, em um artigo recente, como o boom na procura pelo português em universidades americanas gerou uma demanda ainda não atendida por mais professores, livros didáticos avançados e dicionários especializados - por exemplo, no vocabulário corporativo.

Lá, há mais de 10 mil alunos matriculados em cursos de português, segundo a Modern Language Association. Os últimos dados da organização, divulgados em 2010, mostravam um crescimento anual de cerca de 10% na procura pelo idioma desde 2006 e a estimativa é que essa tendência tenha se acentuado desde então.

Nova aula de português e cultura brasileira no King's College London.

Na China, até alguns anos atrás apenas 4 universidades ofereciam aulas de português. Hoje são 15 e a ideia de autoridades chinesas é chegar a 30 nos próximos anos.

Além disso, também tem aumentado a procura de jovens estrangeiros por cursos de imersão no Brasil - oferecidos por universidades, instituições e escolas de idioma em cidades brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo e Maceió.

Perfis dos alunos

De acordo com professores e algumas instituições de ensino, a mudança do perfil dos estudantes foi motivada pelo crescimento de três grupos em particular.

Primeiro, jovens profissionais interessados em aprender português para melhorar suas perspectivas de carreira ou procurar emprego no Brasil. Claudia, por exemplo, conta que pelo menos um de seus alunos deixou o curso porque conseguiu trabalho durante umas férias que passou no País.

O segundo grupo de alunos em expansão é formado por funcionários de empresas estrangeiras que começaram a operar no Brasil ou têm ampliado os negócios com o País. Como exemplo, Roberta diz ter três alunos que trabalharam na Olimpíada de Londres e já estão de olho em atuar no Brasil.

Por fim, há uma preocupação crescente de brasileiros expatriados em garantir que seus filhos também tenham um bom nível de português, falado e escrito. "No passado, não havia tanto empenho das famílias de brasileiros que vivem em países estrangeiros em assegurar essa transmissão da língua", afirma Claudia.

"Agora, com a economia europeia em crise, muitos pais procuram as nossas aulas acreditando que um bom português não só pode ser um diferencial no mercado de trabalho daqui, mas também pode garantir que o filho tenha um 'plano B' no futuro - ou seja, que possa voltar para o Brasil caso a crise por aqui se agrave."

Diplomacia cultural

Para Joseph Marques, pesquisador do King´s College que está estudando a cooperação entre os países da comunidade de língua portuguesa (CPLP), o aumento do interesse pelo português abre uma ótima oportunidade para a projeção do soft Power do Brasil no cenário global.

"Quanto maior o conhecimento sobre o idioma e a cultura de um país, mais facilmente podem ser criadas oportunidades de negócio com ele e mais fácil é convencer os outros atores do cenário global de que esse é um país importa do ponto de vista político", acredita.

"Por isso, nesse momento em que todo mundo fala de um 'Brasil gobal', seria oportuno para o País começar a pensar em uma política cultural, uma diplomacia cultural mais séria, que passaria pela promoção da língua portuguesa em diversos países e até em esferas políticas e instituições com a ONU."

Diferentes estimativas listam o português como o quinto ou o sexto idioma mais falado no mundo, mas Marques lembra que o idioma não está entre as línguas oficiais das Nações Unidas (que são árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo).

Hoje, um dos principais promotores do idioma português no mundo é o Instituto Camões, criado em 1992 pelo governo de Portugal. Promover o uso da língua portuguesa também é um dos objetivos centrais da CPLP, organização criada em 1996 - mas, segundo Marques, as iniciativas nessa área ainda são relativamente limitadas.

Em 1989, foi criado o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, com sede em Cabo Verde, porém os investimentos nessa instituição multilateral são escassos.

"Porque não criar um 'Instituto Jorge Amado', 'Machado de Assis', ou algo do tipo, para promover o idioma português e funcionar como uma vitrine da cultura brasileira?", sugere Marques.

O especialista lembra que a China tem mais de 1.000 unidades do Instituto Confúcio espalhados pelo mundo, a França apoia a Aliança Francesa e a Espanha tem o Instituto Cervantes. A Alemanha financia o Goethe Institute. Para a Grã-Bretanha, o trabalho de promoção cultural e linguística é feito pelo Conselho Britânico

"No Brasil, há quem argumente que não há recursos suficientes para uma iniciativa desse tipo e que é preciso priorizar as necessidades internas do país, mas se o Brasil quiser jogar no 'time dos grandes' vai precisar investir", acredita Marques. "É só olhar para o que os outros países fazem e sempre fizeram."

Como ensinar português para estrangeiros.

A aprendizagem de um idioma diferente é sempre um desafio enriquecedor, sendo que se trata de um processo contínuo que implica horas de estudo e dedicação para a obtenção de resultados satisfatórios. Por se tratar de uma língua clássica, o português é um idioma cujo domínio é um fator de diferenciação, uma vez que possui uma enorme riqueza lexical e é uma língua que ganha importância em escala global nos dias de hoje.

1) Para ensinar a língua portuguesa a cidadãos estrangeiros, procure compreender as suas expectativas para o processo de aprendizagem, uma vez que a adaptação dos conteúdos irá variar entre o desejo de um indivíduo em dominar conversações básicas de uso cotidiano ou alguém que pretende obter fluência para utilização em ambiente de negócios. Estruture o conhecimento que irá transmitir de forma temática e, sobretudo, em virtude dos objetivos dos seus educandos.

2) Embora as novas modalidades de ensino enfatizem o uso das novas tecnologias de informação, o ensino presencial e a construção de uma verdadeira relação aluno-professor são de suma importância no processo de aprendizagem. Invista na ministração de aulas físicas e mostre-se disponível para o esclarecimento de dúvidas e para a oferta de sugestões que julgue pertinentes para a aprendizagem da língua portuguesa.

Use as ferramentas e recursos proporcionados pela tecnologia contemporânea como forma de complementaridade aos métodos 'tradicionais' de ensino de idiomas para estrangeiros.

3) Conceba um programa de módulos de desenvolvimento gradual da expressão escrita, na criação de exercícios gramaticais e em métodos de exploração e captação de vocabulário. Incentive as apresentações como forma de estimular a exposição oral e escolha temas da atualidade, que normalmente conferem maior abertura para a participação coletiva.

4) Promova o contato com a cultura portuguesa através de atividades dinâmicas – uma mostra gastronômica, exercícios de audição com recurso a música nacional, visualização de filmes ou promoção de trabalhos de pesquisa sobre hábitos, eventos, personalidades e costumes que caracterizam a identidade lusitana.

5) Incentive a curiosidade pelas obras e autores de referência da cultura portuguesa: Luís de Camões, Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, José Saramago (...), são inúmeras as figuras da literatura clássica e contemporânea que valem a pena conhecer. Aposte na produção de atividades que visem a leitura e discussão de várias obras, fundamentando a importância destes e de outros autores para o desenvolvimento sócio-cultural da literatura lusitana e internacional.

6) E porque cada indivíduo possui características particulares, seja paciente e concentre-se no potencial de cada aluno, incentivando-os a tirar o máximo de partido das suas capacidades.

Atualmente, o Brasil vem ganhando espaço no mercado internacional. Com isso, surgem turistas, pesquisadores, profissionais e estudantes, interessados em morar no país e, consequentemente, aprender o idioma e vivenciar a cultura. É neste contexto que a área de português para estrangeiros aparece, crescendo a cada dia que passa. A procura por profissionais qualificados é grande, mas a demanda é pequena. Não é porque falamos português que estamos preparados para ensinar a língua.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Marta Quarterole dos Santos

por Marta Quarterole dos Santos

Nome: Marta Quarterole dos Santos. Endereço: Avenida Calombé, 2959 - Figueira - Duque de Caxias-RJ. Telefone: 21 3650 - 7850 / 83284684 E-mail: martaquarterole@gmail.com Formação Acadêmica. Ensino Médio Completo Instituição: Colégio estadual Minas Gerais Ensino Superior completo. Instituição: Feuduc Curso: Letras - Licenciatura Plena Habilitação: Português/ inglês. Cursos. Curso de Inglês; Nível Intermediário. Curso de informática; Básico e Avançado. Noções de Administração, Telemarketing, Secretariado, Recepção. Experiência Profissional: Professor-Monitor no Programa Mais Educação. Inicio no projeto: 02/5/2012.

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