No âmbito da LDB, as Línguas Estrangeiras Modernas recuperam, de alguma forma, a importância que durante muito tempo lhes foi negada. Consideradas, muitas vezes e de maneira injustificada, como disciplina pouco relevante, elas adquirem, agora, a configuração de disciplina tão importante como qualquer outra do currículo, do ponto de vista da formação do indivíduo. Assim, integradas à área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, as Línguas Estrangeiras assumem a condição de ser parte indissolúvel do conjunto de conhecimentos essenciais que permitem ao estudante aproximar-se de várias culturas e, consequentemente, propiciam sua integração num mundo globalizado.
No presente documento, Procuramos traçar um breve panorama sobre a situação das Línguas Estrangeiras Modernas, principalmente no Ensino Médio, tanto a partir de uma perspectiva diacrônica quanto de uma perspectiva de interação e inter-relação delas com a área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Procurar-se-á, também, esboçar as diferentes relações que elas propiciam, a partir da sua aprendizagem, com o mundo do trabalho no qual o aluno estará ou não inserido e com sua formação geral.
As discussões sobre a importância de se aprender uma ou mais línguas estrangeiras remontam há vários séculos. Em determinados momentos da história do ensino de idiomas, valorizou-se o conhecimento do latim e do grego e o consequente acesso à literatura clássica, enquanto, em outras ocasiões, privilegiou-se o estudo das línguas modernas.
No Brasil, embora a legislação da primeira metade deste século já indicasse o caráter prático que deveria possuir o ensino das línguas estrangeiras vivas, nem sempre isso ocorreu. Fatores como o reduzido número de horas reservado ao estudo das línguas estrangeiras e a carência de professores com formação linguística e pedagógica, por exemplo, foram os responsáveis pela não aplicação efetiva dos textos legais. Assim, em lugar de capacitar o aluno a falar, ler e escrever em um novo idioma, as aulas de Línguas Estrangeiras Modernas nas escolas de nível médio acabaram por assumir uma feição monótona e repetitiva que, muitas vezes, chega a desmotivar professores e alunos, ao mesmo tempo em que deixa de valorizar conteúdos relevantes à formação educacional dos estudantes.
Evidentemente, não se chegou a essa situação por acaso. Além da carência de docentes com formação adequada e o fato de que, salvo exceções, a língua estrangeira predominante no currículo ser o inglês, reduziu muito o interesse pela aprendizagem de outras línguas estrangeiras e a consequente formação de professores de outros idiomas. Portanto, mesmo quando a escola manifestava o desejo de incluir a oferta de outra língua estrangeira, esbarrava na grande dificuldade de não contar com profissionais qualificados. Agravando esse quadro, o país vivenciou a escassez de materiais didáticos que, de fato, incentivassem o ensino e a aprendizagem de Línguas Estrangeiras; quando os havia, o custo os tornava inacessíveis a grande parte dos estudantes.
Assim, as Línguas Estrangeiras na escola regular passaram a pautar-se, quase sempre, apenas no estudo de formas gramaticais, na memorização de regras e na prioridade da língua escrita e, em geral, tudo isso de forma descontextualizada e desvinculada da realidade.
Ao figurarem inseridas numa grande área — Linguagens, Códigos e suas Tecnologias —, as Línguas Estrangeiras Modernas assumem a sua função intrínseca que, durante muito tempo, esteve camuflada: a de serem veículos fundamentais na comunicação entre os homens. Pelo seu caráter de sistema simbólico, como qualquer linguagem, elas funcionam como meios para se ter acesso ao conhecimento e, portanto, às diferentes formas de pensar, de criar, de sentir, de agir e de conceber a realidade, o que propicia ao indivíduo uma formação mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais sólida.
É essencial, pois, entender-se a presença das Línguas Estrangeiras Modernas inseridas numa área, e não mais como uma disciplina isolada no currículo. As relações que se estabelecem entre as diversas formas de expressão e de acesso ao conhecimento justificam essa junção.
Não nos comunicamos apenas pelas palavras; os gestos dizem muito sobre a forma de pensar das pessoas, assim como as tradições e a cultura de um povo esclarecem muitos aspectos da sua forma de ver o mundo e de aproximar-se dele. Assim, as similitudes e diferenças entre as várias culturas, a constatação de que os fatos sempre ocorrem dentro de um contexto determinado, a aproximação das situações de aprendizagem à realidade pessoal e cotidiana dos estudantes, entre outros fatores, permitem estabelecer, de maneira clara, vários tipos de relações entre as Línguas Estrangeiras e as demais disciplinas que integram a área.
Numa perspectiva interdisciplinar e relacionada com contextos reais, o processo ensino-aprendizagem de Línguas Estrangeiras adquire nova configuração ou, antes, requer a efetiva colocação em prática de alguns princípios fundamentais que ficaram apenas no papel por serem considerados utópicos ou de difícil viabilização.
Embora seja certo que os objetivos práticos - entender, falar, ler e escrever - a que a legislação e especialistas fazem referência são importantes, quer nos parecer que o caráter formativo intrínseco à aprendizagem de Línguas Estrangeiras não pode ser ignorado. Torna-se, pois, fundamental, conferir ao ensino escolar de Línguas Estrangeiras um caráter que, além de capacitar o aluno a compreender e a produzir enunciados corretos no novo idioma, propicie ao aprendiz a possibilidade de atingir um nível de competência linguística capaz de permitir-lhe acesso a informações de vários tipos, ao mesmo tempo em que contribua para a sua formação geral enquanto cidadão.
Nessa linha de pensamento, deixa de ter sentido o ensino de línguas que objetiva apenas o conhecimento metalinguístico e o domínio consciente de regras gramaticais que permitem, quando muito, alcançar resultados puramente medianos em exames escritos. Esse tipo de ensino, que acaba por tornar-se uma simples repetição, ano após ano, dos mesmos conteúdos, cede lugar, na perspectiva atual, a uma modalidade de curso que tem como princípio geral levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situações da vida cotidiana.
Na verdade, pouco ou nada há de novo aí. O que tem ocorrido ao longo do tempo é que a responsabilidade sobre o papel formador das aulas de Línguas Estrangeiras tem sido tacitamente, retirado da escola regular e atribuído aos institutos especializados no ensino de línguas.
Assim, quando alguém quer ou tem necessidade, de fato, de aprender uma língua estrangeira, inscreve-se em cursos extracurriculares, pois não se espera que a escola média cumpra essa função.
Às portas do novo milênio, não é possível continuar pensando e agindo dessa forma. É imprescindível restituir ao Ensino Médio o seu papel de formador. Para tanto, é preciso reconsiderar, de maneira geral, a concepção de ensino e, em particular, a concepção de ensino de Línguas Estrangeiras.
Nesse sentido, vários pontos merecem atenção. Um deles diz respeito ao monopólio linguístico, que dominou nas últimas décadas, em especial nas escolas públicas. Sem dúvida, a aprendizagem da Língua Inglesa é fundamental no mundo moderno, porém, essa não deve ser a única possibilidade a ser oferecida ao aluno. Em contrapartida, verificou-se, nos últimos anos, um crescente interesse pelo estudo do castelhano. De igual maneira, entendemos que tampouco deva substituir-se um monopólio linguístico por outro. Se essas duas línguas são importantes num mundo globalizado, muitos são os fatores que devem ser levados em consideração no momento de escolher-se a(s) Língua(s) Estrangeira(s) que a escola ofertará aos estudantes, como podem ser as características sociais, culturais e históricas da região onde se dará esse estudo. Não se deve pensar numa espécie de unificação do ensino, mas, sim, no atendimento às diversidades, aos interesses locais e às necessidades do mercado de trabalho no qual se insere ou virá a inserir-se o aluno.
Evidentemente, é fundamental atentar para a realidade: o Ensino Médio possui, entre suas funções, um compromisso com a educação para o trabalho. Daí não poder ser ignorado tal contexto, na medida em que, no Brasil atual, é de domínio público a grande importância que o inglês tem na vida profissional das pessoas. Torna-se, pois, imprescindível incorporar as necessidades da realidade ao currículo escolar de forma a que os alunos tenham acesso, àqueles conhecimentos que, de forma mais ou menos imediata, serão exigidos pelo mercado de trabalho.
Por outro lado, como a lei prevê a possibilidade da inclusão de uma segunda Língua Estrangeira Moderna em caráter optativo, parece conveniente vincular tal oferta também aos interesses da comunidade. É preciso observar a realidade local, conhecer a história da região e os interesses da clientela a quem se destina esse ensino. Em suma: é preciso, agora, não mais adequar o aluno às características da escola, mas, sim, a escola às necessidades da comunidade.
Experiência importante, nessa mesma linha de concepção da oferta de Línguas Estrangeiras Modernas e dos objetivos de sua aprendizagem, é a dos Centros de Estudos de Línguas Estrangeiras, nesses Centros, os alunos têm a oportunidade de aprender outra(s) Língua(s) Estrangeira(s), à sua livre escolha entre as opções que o Centro oferece, além daquela que figura na grade curricular. Tais Centros, criados ao final da década de 80, em muitas ocasiões têm apresentado resultados altamente satisfatórios.
O que aí se verifica é uma afluência de condições que propiciam uma aprendizagem significativa, como podem ser a possibilidade de o aluno optar pelo idioma que mais lhe interessar e o foco desses cursos centrarem-se na comunicação em lugar de centrar-se na gramática normativa. Convém, pois, ao inserir um ou mais idiomas estrangeiros na grade curricular, procurar aproveitar os pontos positivos dessas e de outras experiências semelhantes, no sentido de que o Ensino Médio passe a organizar seus cursos de Línguas, objetivando tornar-se algo útil e significativo, em vez de representar apenas uma disciplina a mais na grade curricular. Por tratar-se de uma iniciativa que já conta com aproximadamente dez anos de existência, sem dúvida suas contribuições serão de grande valia para os objetivos que a nova LDB postula com relação às Línguas Estrangeiras no Ensino Médio.
Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Línguas Estrangeiras Modernas.
Ainda um aspecto bastante relevante a considerar, já esboçado anteriormente, diz respeito às competências a serem atingidas nos cursos de línguas. Atualmente, a grande maioria das escolas fundamenta as aulas de Língua Estrangeira no domínio do sistema formal da língua objeto, isto é, pretende-se levar o aluno a entender, falar, ler e escrever, acreditando que, a partir disso, ele será capaz de usar o novo idioma em situações reais de comunicação.
Entretanto, o trabalho com as habilidades linguísticas citadas, por diferentes razões, acaba centrando-se nos preceitos da gramática normativa, destacando-se a norma culta e a modalidade escrita da língua. São raras as oportunidades que o aluno tem para ouvir ou falar a língua estrangeira. Assim, com certa razão, alunos e professores desmotivam-se, posto que o estudo abstrato do sistema sintático ou morfológico de um idioma estrangeiro pouco interesse é capaz de despertar, pois sem torna difícil relacionar tal tipo de aprendizagem com outras disciplinas do currículo, ou mesmo estabelecer a sua função num mundo globalizado.
Ao pensar-se em uma aprendizagem significativa, é necessário considerar os motivos pelos quais é importante conhecer-se uma ou mais línguas estrangeiras. Se em lugar de pensarmos, unicamente, nas habilidades linguísticas, pensarmos em competências a serem dominadas, talvez seja possível estabelecermos as razões que de fato justificam essa aprendizagem.
Dessa forma, a competência comunicativa só poderá ser alcançada se, num curso de línguas, forem desenvolvidas as demais competências que a integram e que, a seguir, esboçamos de forma breve:
• Saber distinguir entre as variantes linguísticas.
• Escolher o registro adequado à situação na qual se processa a comunicação.
• Escolher o vocábulo que melhor reflita a ideia que pretenda comunicar.
• Compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e/ou culturais.
• Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.
• Utilizar os mecanismos de coerência e coesão na produção em Língua Estrangeira (oral e/ou escrita). Todos os textos referentes à produção e à recepção em qualquer idioma regem-se por princípios gerais de coerência e coesão e, por isso, somos capazes de entender, e de sermos entendidos.
• Utilizar as estratégias verbais e não verbais para compensar falhas na comunicação (como o fato de não ser capaz de recordar, momentaneamente, uma forma gramatical ou lexical), para favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido (falar mais lentamente, ou enfatizando certas palavras, de maneira proposital, para obter determinados efeitos retóricos, por exemplo).
É necessário salientar que os componentes acima não devem ser entendidos como segmentos independentes. A compartimentalização que neles figura tem caráter puramente didático.
Todos os componentes, no ato comunicativo, estão perfeitamente inter-relacionados e interligados. Nota-se, pois, que os aspectos gramaticais não são os únicos que devem estar presentes ao longo do processo ensino-aprendizagem de línguas. Para poder afirmar que um determinado indivíduo possui uma boa competência comunicativa em uma dada língua, torna-se necessário que ele possua um bom domínio de cada um dos seus componentes.
Assim, além da competência gramatical, o estudante precisa possuir um bom domínio da competência sociolinguística, da competência discursiva e da competência estratégica.
Portanto, se considerarmos que são essas as competências a serem alcançadas ao longo dos três anos do Ensino Médio, não mais poderá pensar apenas no desenvolvimento da competência gramatical: torna-se imprescindível entender esse componente como um entre os vários a serem dominados pelos estudantes.
Afinal, para poder comunicar-se numa língua qualquer não basta, unicamente, ser capaz de compreender e de produzir enunciados gramaticalmente corretos. É preciso, também, conhecer e empregar as formas de combinar esses enunciados num contexto específico de maneira a que se produza a comunicação. Em outras palavras, é necessário, além de adquirir a capacidade de compor frases corretas, ter o conhecimento de como essas frases são adequadas a um determinado contexto.
Outro ponto a ser considerado diz respeito à forma pela qual as diferentes disciplinas da grade curricular podem e devem interligar-se. Trata-se, ademais, de buscar caminhos para desenvolver o trabalho, relacionando as diferentes competências mencionadas anteriormente.
Um exemplo talvez auxilie a compreender melhor as afirmações anteriores. Se no livro didático utilizado figura a frase, na língua estrangeira objeto de estudo, “Onde é a estação de trens?”, além de chamar a atenção para a adequada construção gramatical do enunciado, será necessário atentar para o contexto onde tal frase poderia ser produzida e para as razões que confeririam importância ao fato de que o aluno seja capaz de produzi-la e de entendê-la. Seria o caso, por exemplo, de verificar-se se o livro didático provém de algum país europeu, onde o trem constitui um meio de transporte muito importante. Sendo assim, nas aulas da Língua
Estrangeira, além de destacar a correção linguística, o professor poderia — ou deveria — estar considerando a importância que um enunciado como o referido pode ter numa situação e contexto real os motivos pelos quais esse meio de transporte é tão utilizado em alguns países e nem tanto no Brasil.
Outro exemplo, talvez mais próximo da realidade dos professores de Línguas Estrangeiras, uma vez que se refere a um conteúdo normalmente abordado em sala de aula: o léxico referente à alimentação. É frequente que esse conteúdo figure sob a forma de exaustivas listas com nomes de alimentos na língua estrangeira, o que dificilmente permitirá que esse vocabulário chegue a tornar-se conhecimento significativo para os alunos. Por outro lado, é comum os alunos sentirem curiosidade por saber como se denomina, na língua objeto, determinado alimento que, muitas vezes é típico do Brasil e pouco — ou nada — conhecido em outros países.
Por que não buscar outras formas mais adequadas para abordar essa questão? Em lugar de trabalhar com listas que pouco resultado prático oferecem, já que se apoiam, quase exclusivamente, na realidade brasileira, o professor pode tratar o tema da alimentação em conjunto com o professor de Geografia ou História. Pode ser feito um estudo do clima, do solo do país e da cultura onde se fala a língua-alvo, para chegar-se a discutir questões como hábitos alimentares.
Dessa forma, além de trabalhar-se um conteúdo relacionado à competência gramatical, estará sendo desenvolvida, simultaneamente, a competência sociolinguística, posto que aspectos sociais e culturais obrigatoriamente serão abordados. Ademais, será uma maneira de deixar mais evidente que nenhuma área do conhecimento prescinde de outras. Ao contrário, elas estão perfeitamente interligadas e inter-relacionadas e qualquer tentativa de desvinculá-las redundará, com certeza, na criação de contextos altamente artificiais geradores de desinteresse.
Conceber-se a aprendizagem de Línguas Estrangeiras de uma forma articulada, em termos dos diferentes componentes da competência linguística, implica, necessariamente, outorgar importância às questões culturais. A aprendizagem passa a ser vista, então, como fonte de ampliação dos horizontes culturais.
Ao conhecer outra(s) cultura(s), outra(s) forma(s) de encarar a realidade, os alunos passam a refletir, também, muito mais sobre a sua própria cultura e ampliam a sua capacidade de analisar o seu entorno social com maior profundidade, tendo melhores condições de estabelecer vínculos, semelhanças e contrastes entre a sua forma de ser, agir, pensar e sentir e a de outros povos, enriquecendo a sua formação.
De idêntica maneira, tanto por meio da ampliação da competência sociolinguística quanto da competência comunicativa, é possível ter acesso, de forma rápida, fácil e eficaz, a informações bastante diversificadas.
A tecnologia moderna propicia entrar em contato com os mais variados pontos do mundo, assim como conhecer os fatos praticamente no mesmo instante em que eles se produzem. A televisão a cabo e a Internet são alguns exemplos de como os avanços tecnológicos nos aproximam e nos integram do/no mundo.
Mas nem sempre os indivíduos usufruem desses recursos. Isso se deve, muitas vezes, apenas a deficiências comunicativas: sem conhecer uma língua estrangeira, torna-se extremamente difícil utilizar os modernos equipamentos de modo eficiente e produtivo. Daí a importância da aprendizagem de idiomas estrangeiros. Para estar em consonância com os avanços da ciência e com a informação, é preciso possuir os meios de aproximação adequados e a competência comunicativa é imprescindível para tanto.
Em síntese: é preciso pensar-se o ensino e a aprendizagem das Línguas Estrangeiras Modernas no Ensino Médio em termos de competências abrangentes e não estáticas, uma vez que uma língua é o veículo de comunicação de um povo por excelência, sendo por intermédio de sua forma de expressar-se que esse povo transmite sua cultura, suas tradições e seus conhecimentos.
A visão de mundo de cada povo altera-se em função de vários fatores e, consequentemente, a língua também sofre alterações para poder expressar as novas formas de encarar a realidade. Daí ser de fundamental importância conceber-se o ensino de um idioma estrangeiro objetivando a comunicação real, pois, dessa forma, os diferentes elementos que a compõem estarão presentes, dando amplitude e sentido a essa aprendizagem, ao mesmo tempo em que os estereótipos e os preconceitos deixarão de ter lugar e, portanto, de figurar nas aulas.
Entender-se a comunicação como uma ferramenta imprescindível no mundo moderno, com vistas à formação profissional, acadêmica ou pessoal, deve ser a grande meta do ensino de Línguas Estrangeiras Modernas no Ensino Médio.
Competências e habilidades a serem desenvolvidas em Língua Estrangeira Moderna
Representação e comunicação
Escolher o registro adequado à situação na qual se processa a comunicação e o vocábulo que melhor reflita a ideia que pretende comunicar.
Utilizar os mecanismos de coerências e coesão na produção oral e/ou escrita.
Utilizar as estratégias verbais e não verbais para compensar as falhas, favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido em situações de produção e leitura.
Conhecer e usar as línguas estrangeiras modernas como instrumento de acesso a informações a outras culturas e grupos sociais.
Investigação e pontuação:
Compreender de que forma determinada expressão pode ser interpretada em razão de aspectos sociais e/ou culturais.
Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando textos/contextos mediante a natureza, função, organização, estrutura, de acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época, local, interlocutores participantes da criação e propagação de ideias e escolhas, tecnologias disponíveis).
Contextualização sociocultural:
Saber distinguir as variantes linguísticas. Compreender em que medida os enunciados refletem a forma de ser, pensar, agir e sentir de quem os produz.
Transversalidade e interdisciplinaridade:
Segundo o documento do MEC a respeito dos temas transversais, a educação deve preparar os alunos para serem cidadãos ativos, portadores de direitos e deveres. Para isso, a escola deve preparar o aluno para que esse desenvolva os critérios necessários para sua participação social efetiva. Da mesma forma que os PCNs salientam a importância do ensino das disciplinas tradicionais, assumem também a postura de que existem temas urgentes a serem tratados, como a violência, a saúde, o uso de recursos naturais, os preconceitos, etc. Apesar de esses temas serem tão importantes quanto às disciplinas tradicionais, não são configurados como disciplinas. É aí que entram os temas transversais. São temas propostos que seriam tratados tanto em português, como em matemática, história, geografia, desde que os conteúdos dessas disciplinas assim o permitissem.
A importância dada a determinados campos do conhecimento escolar vem acarretando uma valorização dos conhecimentos necessários à preparação para a vida acadêmica em detrimento do saber utilitário que abrangem às classes sociais menos favorecidas, que necessitam lidar com a prática da realidade para sua própria sobrevivência. Esta importância às disciplinas aplicadas no currículo escolar, uma após as outras sem nenhuma associação, desprezam o conhecimento prévio dos alunos dissociando o conhecimento adquirido na escola, de sua aplicação no cotidiano.
Está aí a importância da interdisciplinaridade que vai propiciar a intercomunicação disciplinar, preparando o aluno para a realidade e para a cidadania efetiva. Isso só será possível com a introdução dos Temas Transversais que vão dar conta da realidade social, não apenas fazendo com que o aluno reproduza o conhecimento, mas transforme-o. A transversalidade se torna, assim, a materialização da interdisciplinaridade na escola.
Temas transversais e ensino de inglês:
Os Temas Transversais sugeridos envolvem um trabalho com a Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, bem como Trabalho e Consumo. Não se trata de novas matérias, mas assuntos que devem perpassar todas as disciplinas ao longo do ano. Como a escola não é uma ilha de ensino e está inserida em determinada comunidade, com seus conflitos, aflições e alegrias, o professor deve criar espaços para que crianças e adolescentes discutam e opinem sobre tais fatos. É essa, justamente, a proposta dos Temas Transversais. Discutiremos nesta seção, como os Temas Transversais podem ser relacionados com o ensino de Língua Inglesa.
Fazer parte de um grupo ou de uma comunidade exige do cidadão conhecer as normas que regem a conduta aceita nos mais variados âmbitos, como o social, o cultural e o político. Os PCNs definem quatro blocos de conteúdos para o ensino da Ética. Eles foram organizados para que os alunos tenham informações sobre como atuar autônomos e criticamente em uma sociedade democrática. Portanto, para falar em Ética é preciso lembrar conceitos como respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo. Na aula de Inglês, poderíamos encorajar esses valores, especialmente o diálogo, ao tratarmos de temas em formato deliberativo. Poderíamos nos utilizar de um modo de tratar temas desenvolvidos nos Estados Unidos e hoje empregados por muitas organizações ao redor do mundo. Ao organizar tais discussões, os alunos são levados a considerar prós e contras de diversas alternativas para os problemas, inclusive os temas sugeridos, como saúde, meio ambiente e orientação sexual.
Para trabalhar os cuidados com a saúde, nem sempre o ciclo da esquistossomose é a maneira mais fácil de aproximar o estudante da real importância da prevenção. Nem encher o quadro negro com explicações sobre doenças sexualmente transmissíveis, auxilia de modo eficaz à orientação sexual. Em vez disso, é melhor mostrar os conteúdos com base na realidade dos alunos, tentando introduzir os temas a partir de problemas do cotidiano do jovem, como as drogas, a gravidez na adolescência, a AIDS. Como se vê, é tarefa simples encontrar um ponto de partida para motivar a turma. Os PCNs sugerem que na aula de Línguas Estrangeiras sejam exploradas as diferentes conotações atribuídas ao masculino e feminino em vários países e diferentes culturas, ao trabalhar a literatura, a leitura e a tradução de textos. Ao invés disso, seria mais interessante propormos um trabalho sistemático de como a língua está marcada pelo gênero.
O tema da Educação Ambiental se tornou uma das preferências nas escolas brasileiras. Não é difícil introduzir a discussão com os alunos, pois boa parte deles demonstra interesse pelo assunto e carrega informações adquiridas fora da escola, por meio de conversas com outras pessoas ou absorvendo conteúdos dos meios de comunicação. Com isso, a visão deles sobre questões ambientais torna-se mais ampla e, portanto, mais segura diante da realidade em que vivem. Os conteúdos para abordar tal tema foram divididos em três blocos: a forma cíclica da natureza, sociedade e meio ambiente, manejo e conservação ambiental. Embora não haja no documento sugestões de como usar a língua estrangeira para abordar este tema, acreditamos que ela poderia contribuir, refletindo sobre a possibilidade de criação da cidadania planetária na proteção do meio ambiente, analisando trabalhos de organizações mundiais ao usarmos uma língua comum.
A Pluralidade Cultural deve tratar do respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, bem como às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes. Deve, portanto, oferecer ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. Por meio do ensino de outras línguas, os alunos poderiam ampliar horizontes e compreender a complexidade do país. Poderíamos trazer para discussão a classificação do Inglês como língua internacional, com exemplos de como isso vem ocorrendo no Brasil e suas evidências. Não podemos deixar de discutir a forma como as manifestações culturais dessa língua internacional, acabam por influir em nossa própria cultura, as quais podem tomar como exemplo a comemoração do Halloween.
A aprendizagem da segunda língua é um desafio para o aluno. É fundamental que desde o início da aprendizagem da Língua Inglesa o professor desenvolva a autoconfiança em seus alunos, para que eles acreditem na capacidade de aprender. A limitação de recursos disponíveis na escola para a prática de ensino e a reduzida carga-horária da disciplina não devem ser motivo para abrir mão dos objetivos. É importante também ressaltar que a ênfase nas relações humanas e na compreensão do mundo social, do qual a escola faz parte, requer um olhar reflexivo sobre a própria escola, sobre a disciplina que se ensina e sobre a prática pedagógica. Portanto, trabalhar os Temas Transversais não pode ser uma atividade isolada apenas no ensino da língua inglesa, mas sim em conjunto com professores das demais disciplinas.
O desafio enfrentado por grande parte dos professores de Língua Estrangeira poderia ser resumido na seguinte indagação: “Como saber se o que estou ensinando será aproveitado no futuro?” A resposta depende principalmente da realidade vivida pelos alunos, suas expectativas e perspectivas. Mas pode ser resumida ao seguinte lema: o idioma precisa estar a serviço de seu usuário. Nada pior do que, nas poucas horas disponíveis para a disciplina, a turma achar que aprender outra língua é perda de tempo. Por isso, é necessário ter como foco a administração e a organização do ensino da língua estrangeira segundo os olhos dos alunos.
O professor deve deixar claro para o aluno que a língua estrangeira, no caso o Inglês, é considerado um idioma universal, sendo o mais utilizado nos negócios, na internet e no mundo do entretenimento (esses dois últimos estão mais ligados à realidade deles).
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