ASPECTOS MOTIVACIONAIS NO PROGRAMA DE FISIOTERAPIA EM IDOSOS DA CIDADE DE MANAUS

Idoso
Idoso

Fisioterapia

21/10/2015

INTRODUÇÂO

Nas últimas décadas, observa-se um aumento na proporção de idosos no país. Estudos mostram que a estatística geral dessa população seja de 8,6%, com estimativa de crescimento para 15,1% em 2025. Entre os fatores que explicam esse fenômeno está a queda nos índices de natalidade, além do aumento da expectativa de vida, devido a avanços na área da saúde e de saneamento, causando grandes mudanças no perfil dos usuários dos serviços médicos, ambulatoriais e hospitalares, assim como no modo de tratamento dado a essa população mais sensível (SCHEMIDT et al., 2012).

 A qualidade de vida é uma grande aliada para um envelhecimento saudável. É valido destacar que esse processo não é um fator patológico, mas sim natural na vida de qualquer pessoa (LIVRAMENTO et al., 2013). Nesse período da vida, são mais comuns as doenças, pois o organismo já não é mais como antes, devido o corpo do idoso sofrer inúmeras modificações, assim como incapacidades funcionais, sensação de inutilidade, dentre outros agravantes (SALVADOR, 2009).

São importante que haja pesquisas de satisfação junto aos pacientes para adequar os serviços conforme a necessidade de cada um (CARVALHO et al., 2013). Além da satisfação, é válido reconhecer os aspectos que motivam essa classe a participar de programas de fisioterapia, portanto, se faz necessário compreender o papel da fisioterapia no que diz respeito a tal tema, assim também como a compreensão da motivação em indivíduos idosos.

A fisioterapia é uma área de saúde a qual tem uma maior aproximação com o paciente e em que o tempo vai além de uma visita rotineira, envolve contato físico e requer geralmente um feedback do paciente, a fisioterapia, com essas características, pode influenciar a satisfação do paciente ou até mesmo na motivação (MENDONÇA, 2007).

Com isso, este estudo teve como objetivo identificar os principais motivos que levam os idosos a participarem do programa de fisioterapia do Centro de Convivência do Idoso da Aparecida, traçando o perfil socioeconômico e a satisfação dos idosos em relação ao tratamento fisioterapêutico.

 

METODOLOGIA

Pesquisa de abordagem qualitativa descritiva exploratória transversa,  abordagem  no Centro de Convivência do Idoso (CCI) do bairro Aparecida, na cidade de Manaus/AM, sendo utilizados os registros de fichas de encaminhamentos e avaliações de idosos que frequentam o serviço de Fisioterapia da Instituição, com disponibilidade em participar da pesquisa, idosos de ambos os gêneros, maiores de 60 anos,no período de janeiro de 2013 a abril de 2014, previamente autorizado pelo responsável da Instituição onde foi realizada a pesquisa.

A coleta de dados foi realizada após o projeto de pesquisa ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas – FHEMOAM, sob o Parecer n. 566.617, e com a aceitação dos pacientes, por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCL.

A abordagem da pesquisa foi feita inicialmente com levantamento de dados na coordenação no setor de Fisioterapia do CCI, em seguida entrou-se em contato com os idosos, foi realizada uma reunião com o objetivo de apresentar a pesquisa e seu conteúdo, e em seguida houve um encontro com os mesmos, explicando e apresentando os termos do TCL.

Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados dos pesquisados foram questionários e entrevistas. A entrevista aplicada foi do tipo semiestruturada, contendo a obtenção de informações sobre o entrevistado e o assunto. O questionário foi desenvolvido com uma série ordenada de perguntas, abertas e fechadas, limitado em extensão, houve um intervalo de 2 meses, para a aplicação dos questionários socioeconômicos e entrevistas, compostos de 20 questões abertas e fechadas, com o método qualitativo exploratório.

A amostra foi estimada em 40 participantes, escolhidos pelo critério de conveniência e análise dos dados mediante a assinatura do TCLE. Após a avaliação de 40 prontuários coletados, 15 prontuários contavam com pacientes desistentes e altas do tratamento, ficando no total 25 pacientes para as devidas coletas. Os dados foram armazenados em planilhas no programa de computador Microsoft Excel 2010.

Na comparação entre avaliações categóricas independentes foi utilizado o teste de Exato de Fisher e nas dependentes (percepção de saúde antes e depois) foi implementado o teste de McNemar.

Os resultados foram apresentados por meio da estatística descritiva, através da distribuição absoluta (n) e relativa (%) para as variáveis categóricas; e para as variáveis contínuas a apresentação ocorreu pela média, desvio-padrão e mediana, com o estudo da simetria pelo teste de ShappiroWilk.

As análises foram realizadas no programa SPSS (StatisticalPackage for the Social Sciences) versão 20, sendo que para critérios de decisão estatística adotou-se o nível de significância de 5% (IC 95%).

 

RESULTADOS

Os resultados apresentados referem-se a uma amostra de 25 investigados, predominantemente do sexo feminino, com 80,0% (n=20). A média de idade foi de 67,0 (±7,4) anos, com idades mínima e máxima de 56 e 83 anos, respectivamente.

O estado civil casado representou 48,0% (n=12) da amostra, seguido daqueles que se declararam viúvos, com 28,0% (n=7). A grande maioria dos investigados declarou saber ler e escrever, 96,0% (n=24), e esta mesma proporção relatou ter frequentado a escola. A profissão “aposentado(a)” representou 64,0% (n=16) dos casos, seguida da ocupação “do lar”, 24,0% (n=6).A composição familiar em sua maioria foi composta por esposa/marido, 48,0% (n=12), seguida dos filhos(as), 24,0% (n=6).Nas informações de cunho religioso, verificou-se que toda a amostra declarou ter religião, sendo que a mais mencionada foi a católica, 72,0% (n=18).

No que se refere aos motivos que levaram os investigados a participarem da fisioterapia, 96,0% (n=24) relataram a presença de doenças/patologias. Nas informações referentes à percepção da saúde, os resultados apontaram que antes da fisioterapia 56,0% (n=14) mencionaram a saúde ruim e 28,0% (n=7) relataram a saúde regular. Quando esta mesma questão foi realizada depois da fisioterapia, verificou-se que 52,0% (n=13) relataram saúde boa e 32,0% (n=8) saúde ótima (McNemar; p<0,001), apontando que ao final da fisioterapia ocorreu um aumento significativo dos casos com avaliação da saúde ótima (28% - n=7) e boa (40,0% - n=40),e consequentemente uma redução no número de casos onde a saúde foi classificada como ruim (56,0%).

E no que diz respeito a como o investigado se sente após o início da fisioterapia, 60,0% (n=15) relataram que “hoje se sentem mais satisfeitos”, enquanto que 40,0% (n=10) mencionaram que “hoje se sentem mais motivados”.

Sobre os resultados evidenciados, tem-se que, dos 13 casos que perceberam a sua saúde como “Ótima”, 7 relataram que houve alterações após a fisioterapia; dos 13 casos que caracterizaram o estado de saúde como “Boa”, todos relataram que houve alterações após a fisioterapia; e dos 4 casos onde a saúde foi definida como regular, todos mencionaram que houve alterações após a fisioterapia. Dessa forma, devemos acreditar que, independentemente da percepção de “como está sua saúde”, praticamente todos relataram alterações após a fisioterapia.

 

DISCUSSÃO

Dentre os investigados, foi constatada a prevalência do gênero feminino (80%), corrobando com os achados de Nunes et al. (2010), que realizaram um estudo transversal, onde 58,5% dos idosos corresponderam ao gênero feminino e 41,5% ao gênero masculino.

Em relação ao tempo que o investigado participava do programa de fisioterapia proporcionado pelo CCI, a grande maioria dos idosos informou o período de 0 a 5 anos (92,0%), devido ao diagnóstico clínico dos mesmos serem de patologias crônicas. De acordo com Bueno et al. (2008), as alterações relacionadas à idade se dão em todo o corpo, ocorrendo diversas mudanças funcionais no organismo do idoso, dentre as quais a redução da massa magra, aumento do tecido adiposo corpóreo e a menor eficiência de bombeamento do coração, podendo haver alteração do fluxo sanguíneo entre outras alterações, o que predispõe o tempo de tratamento.

Quando questionados sobre o que os motivou a continuar no programa de fisioterapia por todo esse tempo, 92% dos idosos afirmaram que o principal motivo foi a melhora no quadro clínico.  Bonardi et al. (2007) afirmam em seu artigo, que a saúde está entre o valor mais importante na vida dos idosos (48%) avaliados em seu estudo, e a família ocupa o segundo lugar (23%).

Quanto à percepção do idoso sobre sua saúde antes e depois da fisioterapia, 56% mencionaram a saúde ruim e 28,0% saúde regular antes do tratamento fisioterapêutico, após o tratamento, 52% relataram saúde boa e 32% saúde ótima. A comparação desses resultados aponta que, após o tratamento fisioterapêutico, ocorreu um aumento significativo dos casos com avaliação da saúde ótima e saúde boa, aumento de 28% e 40%, respectivamente. Consequentemente houve redução (56%) nos casos em que a saúde foi classificada como ruim. Resultado semelhante foi encontrado no estudo de Petyk et al (2011) composto por 20 idosas do sexo feminino com idade igual ou superior a sessenta anos.O resultado encontrado nas amostras teve uma diferença significativa, o percentual antes da intervenção teve um escore médio de 68,75 ± 21.27% e, após a intervenção, ficou em 81,25 ± 27%.

Após o início da fisioterapia dos investigados, o resultado obtido mostra que a maioria está satisfeitos (60,0%), porém nem todos se sentem motivados (40,0%). O estudo de Suda et al. (2009)confirma mostra resultado semelhante em seu artigo, realizado na Clínica Escola de Fisioterapia de Santo André/SP com uma amostra 51 pacientes com idade média de 47,6 (±14,8) anos, constatou alto nível de satisfação com o atendimento fisioterapêutico (55%).

Os resultados obtidos demonstram que há um maior percentual no que se refere à satisfação do que à motivação, atentando assim para a necessidade de estudos relacionados à motivação para melhor adequação dos serviços às suas necessidades.

 

CONCLUSÃO

Diante dos achados observa-se que o objetivo do trabalho foi alcançado, uma vez que este era identifica o motivo da adesão no programa de fisioterapia e a satisfação dos idosos com o tratamento fisioterapêutico. Com relação a motivação a melhora no quadro clinico foi o principal aspecto relatado pelos idosos entrevistados, quanto a satisfação com o tratamento, destaca se a diferença entre a percepção da saúde antes e após o tratamento ou seja a melhora no quadro clinico tanto os motivam quanto os satisfazem para que os idosos permaneçam. Evidencia-se então a importância do profissional fisioterapeuta na promoção da saúde dos idosos.

 

REFERÊNCIAS

 

SCHIMIDT, Teresa Cristina Gioia; DA SILVA, Maria Julia Paes. Percepção e compreensão de profissionais e graduandos de saúde sobre o idoso e o envelhecimento humano. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 46, n. 3, p. 612-617, 2012.

 

LIVRAMENTO, G., Fagundes, P., Winter, G., Bernardes, V., &Krause, M. (2013). Estudo longitudinal do nível de atividade física de mulheres idosas. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde.

 

SALVADOR, Marlene, KALININE, Iouri.; RUA, Marcelino Ramos. A importância da atividade física na terceira idade: uma análise da dança enquanto atividade física. Revista Primeiros Passos. 2009.

 

CARVALHO, Vanessa Lôbo de; CAVALCANTE, Diêgo Magalhães; SANTOS, Luana Priscila Donato dos;  PEREIRA, Milena Damasceno. Satisfação dos pacientes atendidos no estágio curricular de fisioterapia na comunidade. Revista Fisioterapia e Pesquisa [online]. 2013, v.20, n.4, p. 330-33.

 

MENDONÇA, K.M.P.P;  GUERRA, R.O. Desenvolvimento e validação de um instrumento de medida da satisfação do paciente com a fisioterapia. Revista Brasileira de Fisioterapia, v. 11, n. 5, 2007.

 

NUNES, D. P., Nakatani, A. Y. K., Silveira, E. A., Bachion, M. M., & Souza, M. D. (2010). Capacidade funcional, condições socioeconômicas e de saúde de idosos atendidos por equipes de Saúde da Família de Goiânia (GO, Brasil). Ciênc saúde coletiva.

 

BUENO, Júlia Macedo, et al. Avaliação nutricional e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos pertencentes a um programa assistencial. Revista Ciência & Saúde Coletiva,v.13, n.4, Rio de Janeiro, 2008.

 

BONARDI, Gislaine; SOUZA, Valdemarina Bidone Azevedo e; DE MORAES, João Feliz Duarte. Incapacidade funcional e idosos: um desafio para os profissionais. Scientia Medica, v. 17, n. 3, p. 138-144, 2007.

 

PETYK, J.; GUEDES, J. M.; SEBBEN, V. Os Efeitos de um Programa de Fisioterapia em Idosas. Perspectiva, Erechim, v. 35, n. 129, p. 103-112, 2011.

 

SUDA, Eneida Yuri; UEMURA, Missae Dora; VELASCO, Eliane. Avaliação da satisfação dos pacientes atendidos em uma clínica-escola de Fisioterapia de Santo André, SP. Revista Fisioterapia e Pesquisa. v. 16, n. 2, p. 126-131, 2009.

 

Autores:

Joelma Magalhaes da Costa

Glauciane Miranda

Wolter Maeli da Silva Moura

Maria de Jesus Paula da Silva

Janaísa Gomes Dias de Oliveira

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Joelma Magalhães da Costa

por Joelma Magalhães da Costa

Graduada em Fisioterapia; Especialização em Acupuntura; Especialização em Fisiologia Humana; Titulo de Especialista em Traumato-Ortopedia; Mestre em Ciências da Reabilitação, Na Linha de Pesquisa em Avaliação e Reabilitação das Disfunções do Sistema Estomatognático - ATM; Participa e atua em cursos, congressos, pesquisas e projetos referentes ao Sistema Musculoesquelético, ATM e Dor Orofacial.

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