Aspectos psicossomáticos da psoríase

Aspectos psicossomáticos da psoríase
Aspectos psicossomáticos da psoríase

Fisioterapia

20/06/2012

Curso de Fisioterapia Dermato-funcional - Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos – CBES
Autores:
Fernanda da Silva Rodrigues1
Alice Flores2
Ivone Isabel Moser3
1 Fisioterapeuta Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional
2 Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Dermato-Funcional
3 Fisioterapeuta Mestre em Gestão de Políticas Públicas

Resumo: A Psoríase é uma doença inflamatória crônica da pele, mediada pelo sistema imune e caracterizada pela presença de lesões em placa ou pápulas, eritematosas e descamativas, podendo ser exacerbada por influência de fatores emocionais. Objetivo: verificar a existência de uma influência dos diversos fatores de ordem psicossocial no aparecimento e decurso da psoríase e observar se a baixa autoestima influencia no aparecimento das lesões nos portadores de psoríase. Metodologia: foram incluídos nesse estudo 350 pacientes portadores de psoríase, aos quais foi aplicado um questionário com 22 questões fechadas com conteúdos de interesse da pesquisa, tendo sido a coleta dos dados realizada no período de agosto a setembro de 2011. Resultados: amostra foi composta de 37% do sexo masculino e 63% do sexo feminino. Com relação à beleza, 44% da amostra sentiam-se menos bonitos pela doença e 42% acreditam que sentir-se bonita(o) pode significar sentir-se feliz. Quanto ao sentimento de felicidade, 35% afirmaram sentirem-se um pouco mais felizes se não fossem portadores de psoríase e 38% da amostra referem que o quadro desta dermatose piora muito quando sentem-se infelizes. Conclusão: a partir dos dados apresentados neste estudo, conclui-se que os distúrbios dermatológicos podem ter relação muito próxima com o estresse e problemas emocionais.

Abstract:
Psoriasis is a chronic inflammatory disease of the skin, mediated by the immune system and characterized by the presence of plaque lesions or papules, erythematous, scaly, and may be exacerbated by the influence of emotional factors. Objective: To verify the existence of an influence of various psychosocial factors in the onset and course of psoriasis and see if the low self-esteem influences the appearance of lesions in patients with psoriasis. Methodology: This study included 350 patients with psoriasis, which was applied a questionnaire with 22 closed questions with content of interest to the research being conducted to collect data for the period August-September 2011. Results: Sample was composed of 37% male and 63% female. With regard to beauty, 44% of the sample felt less beautiful by the disease and 42% believe that feel beautiful can mean being happy. As for the feeling of happiness, 35% said they felt a little happier if they were not suffering from psoriasis and 38% of the sample reported that the picture of dermatosis worsens when they feel unhappy. Conclusion: From the data presented in this study, we conclude that the dermatological disorders may have very close relationship with stress and emotional problems. INTRODUÇÃO
A pele é um órgão de comunicação e percepção visível, tornando-se o meio para o contato físico e para a transmissão de sensações físicas e emoções. Forma, portanto, um canal de comunicação pré-verbal no qual os sentimentos são expressos e podem ser experimentados e observados. As ligações existentes com o sistema nervoso tornam a pele altamente sensível às emoções, independente da consciência. A pele expressa os sentimentos, mesmo quando não se está ciente deles, e ajuda a aprender e conhecer mais sobre o ambiente. (SABBAG, 2006).

A partir do novo entendimento da doença proposto pela psicossomática e pela psiconeuroimunologia, a pele passa a dizer muito mais do que se está habituado a entender sobre ela, pois se acredita haver outros aspectos, muitas vezes não visíveis, que exercem grande influência. Considerada um órgão de extensão do sistema nervoso e um órgão imunitário, assim como representante da autoimagem do indivíduo, também passa a ser expressão de sua consciência. Várias doenças dermatológicas são manifestações de comportamentos obsessivos como a tricotilomania, a alopécia e a psoríase. A descamação da psoríase e a perda de pelos na alopecia criam comportamentos repetitivos e tem comorbidades psiquiátricas como depressão, transtorno bipolar e alcoolismo. (SOUZA, 2005).

A psoríase possui um forte componente hereditário onde estão envolvidas respostas imunológicas específicas, mas o que interessa é o fato destas possíveis respostas imunológicas encontrarem-se em estado de repouso, até que seja ativada por algum evento. (FITZGERALD, 2009).

A psoríase atinge de 1% a 3% da população mundial e no Brasil estima-se que existam cerca de 3 milhões de indivíduos afetados. Ocorrem igualmente os dois sexos e tem faixas etárias dos 15 a 20 anos e dos 55 a 60 anos.

A associação entre os problemas emocionais e a doença cutânea parece clara, entretanto, é difícil decidir se a mente influencia a doença ou vice-versa. Usualmente, são ambas verdadeiras. Tem-se provado que o stress psicológico perturba a permeabilidade da barreira epidérmica, o que poderá precipitar alguns distúrbios inflamatórios como a psoríase.

Este estudo teve como objetivo verificar a existência da influência dos diversos fatores de ordem psicossocial no aparecimento e decurso da psoríase e averiguar se a baixa auto estima influencia no aparecimento das lesões. Método
O estudo caracteriza-se como um estudo transversal e teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do CBES. A amostra foi composta por pacientes portadores de psoríase diagnosticada pelo profissional médico. Os pacientes concordaram participar do estudo assinando um Termo de Consentimento Livre e esclarecido sobre a pesquisa. A coleta de dados foi realizada entre os meses de agosto e setembro de 2011. Foi utilizado um questionário modificado contendo 22 questões sobre atividades diárias, escola e/ou trabalho, relacionamentos pessoais, lazer e com relação à qualidade de pele, sentimento de felicidade e os aspectos psicológicos como agravante da patologia. Como critérios de inclusão o portador da patologia deveria ser maiores de 18 anos. Foram excluídos da pesquisa os pacientes que não se enquadravam nos critérios de inclusão.

Os dados foram codificados de 1 a n, este relativo ao numero de alternativas possíveis para cada pergunta do questionário. As questões foram classificadas a partir do efeito da psoríase sobre a percepção de beleza e felicidade do paciente com psoríase. Estes foram analisados utilizando analise de frequência a partir dos percentuais de respostas relativas ao total do grupo de participantes do estudo (n = 350). Todos os procedimentos estatísticos foram conduzidos utilizando o pacote estatístico SPSS 16.0.

Resultados
A amostra foi composta por 350 participantes sendo 37% do sexo masculino e 63% do sexo feminino. Na tabela 1 são apresentadas as frequências de ocorrência para as faixas etárias predeterminadas no estudo.

Tabela 1. Frequência de ocorrência para as faixas etárias. N = 350.

Faixa etária Frequência de ocorrência
18 a 25 anos 13%
26 a 31 anos 20%
32 a 37 anos 13%
38 a 43 anos 11%
44 a 49 anos 13%
50 a 55 anos 11%
56 a 61 anos 9%
62 a 67 anos 7%
Acima de 67 anos 3% Na tabela 2 são apresentadas as frequências de ocorrência da percepção dos pacientes com psoríase quanto à beleza e felicidade.

Tabela 2. Frequências de ocorrência da percepção dos pacientes com psoríase quanto à beleza e felicidade

Questões Muitíssimo Muito Um pouco Nada
18 9% 20% 44% 27%
19 25% 29% 35% 11%
20 33% 38% 21% 9%
21 21% 42% 30% 7%

Discussão
Martins et al. (2004) registra que em um estudo realizado no Reino Unido envolvendo 369 pacientes com psoríase grave, observou-se que a doença provocou grande impacto na qualidade de vida.

Ginsburg (1993) relata que o impacto da psoríase na qualidade de vida de 100 pacientes com idade variando entre 20 e 70 anos mostrou que 99% deles já haviam vivenciado experiências de rejeição social. Pacientes com psoríase relatam que sua condição clínica desencadeia sentimentos de raiva, depressão, vergonha e ansiedade, culminando no isolamento social.

Devido ao grande impacto social e aos prejuízos psicológicos causados pela psoríase, muitos pacientes sofrem de estresse emocional considerável, e são comuns baixa auto estima, ansiedade e depressão. (FONTAINE, 1996)

Um estudo de 2009 (JANCOVIC) procurou entender a relevância de fatores psicossomáticos (nomeadamente os acontecimentos de vida desencadeantes de stress, falta de apoio social e vinculação insegura) no agravamento da psoríase. Os seus resultados mostraram que em comparação com os controles, os pacientes com psoríase reportaram mais acontecimentos de vida no último ano. Notou-se uma associação ligeira no que toca a apoio social e agravamento/exacerbação da psoríase. Os pacientes com psoríase também pontuaram mais nas escalas de ansiedade e vinculação evitante. Os seus resultados confirmaram a relevância dos fatores psicossociais na psoríase. Relativamente ao Stress, há estudos que mostram haver associação entre stress e psoríase (JANCOVIC, 2009; SAINT-MEZARD, 2003; VISWANATHAN, 2005; NALDI, 2005) resultados significativos não só apoia a contribuição do stress no agravamento da psoríase como responsabiliza a norepinefrina por esse efeito. (SAINT-MEZARD, 2003). Outro estudo releva a adrenalina e o cortisol sérico. (NALDI, 2005) É interessante notar que, num estudo, apesar de não ter sido encontrada qualquer associação entre stress e psoríase, continuam a apoiar a hipótese de que esta doença possui um componente psicossomático, na medida em que, registraram uma forte associação entre vinculação evitante e o agravamento da psoríase em placas (os autores acreditam que poderá aumentar a quantidade de stress percepcionado, podendo afetar a intensidade ou duração da resposta psicológica ao stress). (MROWIETZ, 2009)

A associação entre os problemas emocionais e a doença cutânea parece clara, contudo, é difícil decidir se a mente influencia a doença ou vice-versa. Usualmente, são ambas verdadeiras (PSORIASIS, 1978). Tem sido provado que o stress psicológico perturba a permeabilidade da barreira epidérmica o que poderá precipitar alguns distúrbios inflamatórios tais como psoríase. (JAFFERANY, 2007). Também, segundo FORTUNE et al. (2003), fatores psicossociais podem contribuir para a exacerbação da psoríase em 40% a 80% dos casos.

Pode-se verificar através desta pesquisa a confirmação da influência dos fatores psicossomáticos no quadro da psoríase, onde 44% da amostra sentiam-se menos bonitos pela doença, 38% sentem que o seu sentimento de infelicidade agrava muito o quadro patológico, 35% acreditam que seriam mais felizes se não fossem portadores da psoríase e 42% acreditam que sentir-se bonita(o) pode significar sentir-se feliz. Em estudos anteriores comprovaram que fatores psicossociais podem contribuir para a exacerbação da psoríase em 40 a 80% dos casos.

Identifica-se a importância de mais estudos serem desenvolvidos, buscando investigar fatores estressantes que podem estar relacionados ao surgimento e/ou agravamento da psoríase. Também é necessário que sejam desenvolvidas estudos comparativos que visem analisar a diferença de fatores desencadeantes (ou de exacerbação) entre as psicodermatoses.

Conclusão

Com os dados apresentados neste estudo, observa-se que os distúrbios dermatológicos podem ter relação muito próxima com o estresse e problemas emocionais, visto que os resultados mostram que fatores psicossociais podem contribuir para a exacerbação da psoríase.

Existe a necessidade de novas pesquisas, envolvendo uma avaliação mais abrangente dos aspectos afetivo/emocionais, a fim de que sejam mais bem compreendidas. Referências
1. SABBAG, C. A pele emocional: Controlando a psoríase. São Paulo, Ed. Iglu, 2006.
2. SOUZA, S. et al, Associação de eventos estressores ao surgimento ou agravamento do vitiligo e psoríase. v.36, n. 2, p.167-174, 2005.
3. FITZGERALD, O., WINCHESTER, R. Psoriatic arthritis: from pathogenesis to therapy. Arthritis Res Ther. 11(1):214. 2009
4. MARTINS, G., ARRUDA, L., MUGNAINI, A. Validação de Questionários de Avaliação da Qualidade de Vida em pacientes de psoríase. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, 2004.
5. GINSBURG, I., LINK, B. Psychosocial consequences of rejection and stigma feelings in psoriais patients. I. J. Deermatol, 1993 In:Martins, G., Arruda, L., Mugnaini, A. Validação de Questionários de Avaliação da Qualidade de Vida em pacientes de psoríase. Anais Brasileiros de Dermatologia, Rio de Janeiro, 2004.
6. FONTAINE, S. Approach psychosomatique Du posoriasis, Nouv. Dermatol, p.15; 628-30, 1996.
7. JANCOVIC, S., RAZNATOVIC, M., MARINKOVIC, J., MAKSIMOVIC, N., JANKPVIC, J., DJIKANOVIC, B. Relevance of Psychossomatic Factors in Psoriasis: A case-control study. Acta Derm Venereol; 89: 364-368. 2009.
8. SAINT-MEZARD, P., CHAVAGNAC, C., BOSSET, S. Psychological stress exerts and adjuvant effect on skin dentritic cell functions in vivo. J Immunol. Oct 15; 171(8): 4073-80. 2003
9. VISWANATHAN, K., DHABHAR, F. Stress-induced enhancement of leukocyte trafficking into sites of surgery or immune activation. Proc Natl Acad Sci USA. Apr 19; 102(16): 5808-13. 2005
10. NALDI, L., CHATENOUD, L. Cigarette smoking, body mass índex, and stressful life events as risk factors for psoriasis: results from na Italian case-control study. J Invest Dermatol. Jul; 125(1):61-7. 2005.
11. ARNETZ, B., FJELLNER, B. Stress and psoriasis: psychoendocrine and metabolic reactions in psoriatic patients during standardized stressor exposure. Psychosom Med. Dec; 47(6):528-41. 1985.
12. MROWIETZ, U., REICH, K. Psoriasis-new insights into pathogenesis and treatment. Dtsch Arztebl Int. Jan;106(1-2):11-8, quiz19. 2009
13. PSORIASIS and stress. BR Med J. Mar 4;1 (6112):530-1. 1978.
14. JAFFERANY, M. Psychodermatology: a guide to undestanding common psychocutaneous disordes. Prim Care Companion J Clin Psychiatry. 9(3): 203-13. 2007.
15. FORTUNE, D., RICHARDS, H., KIRBY, B., McELHONE, K., MARKHAM, T., e ROGERS, S. Psychological distress impairs clearance of psoriasis in patients treated with photochemotherapy. Archives of Dermatology, 139 (6), 752 – 756. 2003.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Fernanda da Silva Rodrigues

por Fernanda da Silva Rodrigues

Fisioterapeuta formada pela Universidade Católica de Pelotas, especialista em Fisioterapia Dermato-funcional pela CBES- POA.

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