As dietas milagrosas podem ser mais prejudiciais que benéficas
O elevado consumo de proteínas na dieta oferece riscos à saúde
Farmácia
03/01/2015
Nos últimos anos, as mudanças nos hábitos alimentares têm sido pouco saudáveis. A dieta mediterrânea tem sido substituída por uma dieta desequilibrada com um alto teor de proteínas, chamada de dieta hiperproteica.
Dieta hiperproteica é uma dieta rica em proteínas, em detrimento, na maioria das vezes, de outros nutrientes como carboidratos, gorduras, fibras e vitaminas. Diversos estudos demonstram que, nos países desenvolvidos e na maioria dos países em desenvolvimento, o consumo de proteínas excede as recomendações estabelecidas mundialmente.
O consumo elevado de proteínas em determinadas etapas do crescimento constitui um fator de risco para o desenvolvimento de obesidade em etapas posteriores da vida. As consequências metabólicas são muito variadas, como desequilíbrio do balanço ácido-base do organismo, desequilíbrio do metabolismo ósseo, sobrecarga da função renal e endócrina entre outros. A maioria destes desequilíbrios se relaciona com a acidificação do organismo, causada pela ingestão excessiva de proteína na dieta.
O excesso de proteína provoca uma diminuição no pH, que leva o organismo a implantar mecanismos que alteram o metabolismo, a função hepática, a renal e põe em risco a saúde dos ossos.
A dieta Dukan, uma dieta hiperproteica criada pelo médico francês Pierre Dukan, ganhou muita notoriedade nos últimos anos. Celebridades como Jennifer Lopez, Giselle Bundchen, Penelope Cruz e Kate Middleton tornaram público que eram adeptas da dieta.
Porém, da mesma forma que a fama rendeu milhões de dólares ao seu autor e tornou a dieta Dukan uma das mais famosas do mundo, houve muitas críticas de sociedades médicas e de nutrição, principalmente da British Dietetic Association, que desde 2010 contraindica o seu uso e classifica a dieta Dukan entre as cinco piores “dietas dos famosos”. O auge dos ataques ocorreu em janeiro de 2014 quando a Ordem dos Médicos da França cassou a licença médica do Dr. Pierre Dukan sob a alegação de quebra de código de ética devido à excessiva promoção comercial dos seus produtos.
Como a dieta Dukan restringe muito o consumo de calorias, ela realmente causa relevante perda de peso nas suas fases iniciais. Portanto, as principais críticas à dieta não são em relação a sua efetividade, mas sim quanto aos riscos para a saúde do paciente e sua efetividade a longo prazo.
A principal fonte de energia para as nossas células é a glicose e sua principal origem são os carboidratos. Quando o paciente assume uma dieta sem carboidratos, o organismo precisa lançar mão de alguns mecanismos para obter a energia que necessita. O modo mais simples é através da queima dos estoques de gordura, fazendo com que o organismo produza corpos cetônicos, substâncias ácidas originadas da quebra da gordura em ácido graxo, que são utilizados como fonte energética alternativa à glicose. A dieta Dukan é, portanto, uma dieta cetogênica, e boa parte de seus efeitos colaterais vem deste estado de cetose.
É devido à cetose que o paciente consegue perder peso rapidamente nas primeiras semanas, mas parte desse peso perdido não é gordura, mas sim água. A acidose gerada pelos corpos cetônicos faz com que os rins se sobrecarreguem para impedir que o sangue se torne muito ácido. Isso significa eliminar na urina grandes quantidades de ácido, que costumam ir junto com sódio e água. Portanto, o paciente desidrata nos primeiros dias de dieta. Por isso, indica-se o consumo de pelo menos 1,5 litros de água por dia nas fases iniciais.
Os efeitos colaterais comuns da dieta Dukan são provocados tanto pela desidratação quanto pela cetose e são náuseas, mal-estar, mau-hálito (conhecido como hálito cetônico), xerostomia, dor de cabeça e fraqueza. A falta de fibras colabora para a constipação, por isso recomenda-se a ingestão de farelo de aveia.
O consumo excessivo e quase exclusivo de proteínas aumenta o risco de doenças renais. O aumento nos níveis de ácido úrico e o maior risco de desenvolvimento de gota também são efeitos colaterais possíveis das dietas cetogênicas. A elevação dos níveis de colesterol e a redução da massa óssea são outros problemas potenciais desta dieta.
Durante as diversas fases da dieta, o paciente pode apresentar o famoso “efeito sanfona”, que é a perda e o ganho de peso de forma cíclica. É a pior forma de emagrecer, pois está mais associada a riscos cardiovasculares. É menos perigoso não emagrecer nada do que alternar de forma rápida ganhos e perdas de massa gorda. A dieta Dukan não ensina o paciente a comer melhor e não muda os seus hábitos alimentares, o que acarreta um efeito pobre da dieta a longo prazo.
EFEITO REBOTE
As dietas em que se suprime o consumo de carboidratos e gorduras têm um efeito rebote. O corpo se adapta a baixa ingestão de calorias. Ou seja, o corpo diminui o seu metabolismo para evitar consumir suas próprias reservas de gordura. Quando se volta ao consumo regular de calorias, tem-se o efeito rebote, em que não somente volta-se ao peso habitual, mas pode-se ganhar mais peso porque a reserva de calorias que se tinha acostumado durante o período da dieta é superada pelas calorias que se consome.
Portanto, quando o assunto é perder peso, a melhor alternativa é um conjunto de hábitos saudáveis diários, como uma dieta equilibrada com todos nutrientes necessários, e exercícios físicos.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Rosana de Souza Gonçalves Portela
Farmacêutica-bioquímica com especialização em Atenção Farmacêutica pela Unifal (Universidade Federal de Alfenas/MG). Cursos de atualização em Farmácia Magistral e Farmacologia Clínica em Psicofármacos. Farmacêutica técnica responsável em farmácia de manipulação desde 2005. Docente do curso Auxiliar de Farmácia na Microlins/Alfenas desde setembro de 2015. Palestrante autônoma do Senac/Alfenas.
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