Interdisciplinaridade no ensino da bioquímica

Ramo da ciência que estuda a química da vida
Ramo da ciência que estuda a química da vida

Farmácia

21/05/2014

A disciplina de Bioquímica é parte integrante do currículo de todos os cursos de graduação da Área Biológica, incluindo Farmácia, sendo pré-requisito importantíssimo para compreensão de outras disciplinas. A Bioquímica é o ramo da ciência que estuda a química da vida, dependendo de sistemas sofisticados para dissecar a arquitetura e a operação de sistemas inacessíveis aos sentidos humanos. Além das implicações lógicas à saúde humana, a Bioquímica revela o trabalho do mundo atual, permitindo entender como as coisas funcionam nos organismos vivos e porque existe vida.


É um ramo interdisciplinar da ciência que utiliza princípios e métodos da Química na investigação da composição e das transformações que ocorrem nos seres vivos, a nível celular. Por isso, compreende-se que algumas noções de Química Orgânica (compostos de carbono; funções orgânicas, polaridade e apolaridade, isomeria óptica) e de Química Inorgânica e Geral (átomos, moléculas, ligações e interações químicas, reações químicas, reações de oxi-redução, Reações exotérmicas e endotérmicas) sejam imprescindíveis para o trabalho em Bioquímica. Por ser uma disciplina essencialmente química, são de conhecimento geral as dificuldades que os estudantes enfrentam no aproveitamento desta disciplina, sendo esta considerada uma das mais completas e complicadas da graduação.


É uma disciplina difícil de ser ministrada pela complexidade de seus conteúdos e que tratam de fenômenos micro e macromoleculares difíceis de serem abstraídos e compreendidos pelos alunos. Outra grande dificuldade, diz respeito ao enorme volume de informações atualizadas no campo de Bioquímica e que devem ser inseridas nas aulas, de forma a tornar a disciplina conectada à realidade do aluno e interdisciplinar. Mostrar a interdisciplinaridade da Bioquímica é fundamental para que os alunos compreendam a importância desta disciplina em outras disciplinas.


Como exemplo disso, citam-se os Carboidratos. Observe o quão complexo é ensinar a matéria “Carboidratos” atualmente:
Ao lecionar esta aula em Bioquímica, o professor não deve apenas mostrar o que são os carboidratos, qual a constituição química e para que servem no corpo. O professor deve mostrar também que o consumo em excesso de Carboidratos brancos e pobres em fibras na alimentação (Tecnologia de alimentos) por um indivíduo, pode levar ao aparecimento de doenças crônicas em longo prazo (Patologia), como Obesidade e, por consequência Diabetes e, por consequência Hipertensão Arterial. São doenças crônicas, incuráveis, porém que possuem tratamentos medicamentosos para o seu controle (Farmacologia) e o uso destes medicamentos deve sempre ser instruído ao paciente (Atenção Farmacêutica).


Além disso, doenças crônicas (como estas citadas como exemplo de excesso de consumo de Lipídeos e Carboidratos na alimentação) são doenças que oneram e incham o sistema público de saúde, visto que os medicamentos do tratamento devem ser fornecidos pelo governo na Atenção Básica ou Primária do SUS (Saúde Pública e Assistência Farmacêutica), porém, quando essas doenças não são tratadas, evoluem para problemas sistêmicos e, segundo a Lei Orgânica da Saúde n° 8080 (Lei Orgânica do SUS), “Saúde é um direito de todos e dever do Estado” (Deontologia). Portanto, se o paciente passa mal e o medicamento não dá conta, ele pode ser internado para maiores investigações de seu estado clínico. Já no hospital, serão realizados exames laboratoriais para detectar o motivo de sua internação (Bioquímica Clínica, Hematologia, Citologia e etc) e serão fornecidos medicamentos e materiais médico-hospitalares (Farmácia Hospitalar, Fitoterapia, Homeopatia) para a manutenção de um bom estado de saúde, durante a sua permanência no hospital.


A farmácia do hospital pode ainda, contar com um Serviço de Farmácia Clínica (Farmacêutico Clínico), o qual acompanhará o paciente a beira do leito hospitalar, objetivando excelente tratamento terapêutico e redução de gastos desnecessários com medicamentos (Farmacoeconomia)... e tudo isso e mais um pouco, porque o paciente come muitos doces, muito pão, e não se cuida.


Aí vem a pergunta, é justo ensinar apenas a composição molecular e energética de um carboidrato, quando há tanto mais a ser explorado, evidenciado, sentido e entendido pelo aluno? É justo desfazer a teia do conhecimento ao invés de ampliá-la, abrindo a mente do estudante para olhar para frente, de forma global, sistêmica e não mecanicista?


Resumindo, se o professor não passa de forma sistêmica o problema (consumir excesso de carboidratos), o aluno não entende o porquê de estar ali, ouvindo o professor falar (sobre fórmulas de carboidratos, glicólise, ciclo de Krebs, redução na produção de insulina). Na verdade, o aluno não entende nada, decora o conteúdo antes da prova e segue em frente. Não entende também porque aquela disciplina tão difícil de compreender é necessária em sua carreira acadêmica e dá graças por ter passado, mesmo que de final.


Não vai levar conhecimentos a diante, a não ser o fato de “como o ciclo de Krebs era difícil” e “para que será que serve?”. Logicamente, não apenas o tempo é fator essencial no ensinamento e, com certeza, professores com metodologias ativas de ensino, fazem toda a diferença nestas disciplinas complexas e interdisciplinares, como Bioquímica.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Larissa Comarella

por Larissa Comarella

Graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Paraná (2004) com habilitação em Indústria Farmacêutica (2005) e Mestrado em Ciências - Bioquímica pela Universidade Federal do Paraná (2008). Especialista em Gestão da Assistência Farmacêutica. Atualmente Farmacêutica Hospitalar docente do Centro Universitário Campos de Andrade (Uniandrade) e Grupo Uninter.

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