Por que continuar estudos em medicamentos já aprovados?
Por que continuar estudos em medicamentos já aprovados?
Farmácia
03/05/2014
As diversas fases de estudos de um novo medicamento duram, em média, 10 anos, a um custo de 100 a 500 milhões de dólares. Por que a necessidade de continuar estudando os medicamentos aprovados pela ANVISA, em especial os medicamentos novos, se eles já foram amplamente estudados?
Limitações dos estudos pré-registro explicam a necessidade dos estudos pós-comercialização, ainda que parcialmente. As justificativas incluem a pouca quantidade de pessoas estudadas quando comparado com os potenciais usuários, da ordem de milhares no primeiro caso para milhões no segundo; exclusão crianças, idosos e gestantes nos estudos pré-registro, potenciais usuários quando da comercialização; estudo de uma só doença, o que pode ser diferente das situações reais de utilização; o tempo curto de estudo; entre outros fatores.
A farmacoepidemiologia é realizada na fase IV dos estudos clínicos, quando os medicamentos já estão sendo comercializados, e visa a assegurar o uso seguro, racional e amplia o conhecimento sobre o uso do medicamento, monitorando o binômio benefício-risco.
Desde a edição, pela ANVISA, da RDC nº 4/2009, a execução de atividades regulares de farmacovigilância passaram a ser requeridas das indústrias farmacêuticas que comercializam medicamentos no Brasil, incluindo estudos farmacoepidemiológicos. Regulamentação semelhante já existia em nível internacional.
O estudo do uso dos medicamentos em populações é o âmbito da farmacoepidemiologia, o que a difere da farmacologia clínica. Classicamente, os estudos em farmacoepidemiologia são divididos em duas grandes vertentes: farmacovigilância e estudos de utilização de medicamentos (EUM). Atualmente, parece ser consenso que a farmacoepidemiolgia também inclui a farmacoeconomia e o gerenciamento de risco terapêutico. As duas últimas áreas não serão abordadas neste texto.
Farmacovigilância refere-se às atividades de detecção, avaliação e prevenção de reações adversas a medicamentos (RAM) e outros problemas relacionados a medicamentos. Esta definição foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 2002, quando houve ampliação do conceito original, de 1966, que era restrito a RAM. A ampliação inclui queixas técnicas, entendidas como problemas de qualidade dos medicamentos, incluindo até problemas de rotulagem, por exemplo; erros de medicação, ou seja, problemas em qualquer parte do processo de distribuição, prescrição, dispensação e utilização dos medicamentos; entre outros.
Complementarmente, os Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM) têm foco no uso de medicamentos usando a abordagem dos aspectos sociais, culturais e econômicos envolvidos. Portanto, os EUM vão além dos aspectos farmacológicos, campo tradicional da farmacovigilância. O estudo do acesso ao tratamento medicamentoso, ou falta deste, é um dos ramos clássicos dos EUM. A política de medicamentos genéricos é uma das respostas para melhorar o acesso.
Para executar as atividades de farmacovigilância nas indústrias, a RDC requer a existência de um gerente de risco na indústria. Esse será responsável pela elaboração e atualização de documentos de farmacovigilância. Características desses documentos incluem detalhes da comercialização e utilização dos medicamentos, incluindo, se for o caso, sobreuso, uso off label (indicação não registrada) e abuso, incluindo o uso recreativo.
Finalizando, atividades de farmacoepidemiologia representam segurança para o paciente e, também, para a indústria, que poderá tomar medidas corretivas e preventivas, uma vez constatado algum problema na utilização de medicamento.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Carlos Cezar Flores Vidotti
Graduacao em Farmacia pela UFRJ, mestrado em Farmacologia pela Unicamp e doutorado em Ciencias da Saude pela Universidade de Brasilia. Sou professor universitario em Brasilia, na Faciplac, nos Cursos de Farmácia e Medicina. Disciplinas: farmacoepidemiologia, farmacovigilancia, medicina baseada em evidencias, deontologia farmaceutica, legislacao sanitaria, saude publica, orientador.
UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA, com sede na cidade de São Paulo, SP, na Alameda Barão de Limeira, 425, 7º andar - Santa Cecília CEP 01202-001 CNPJ: 17.543.049/0001-93