O número de farmácias magistrais no Brasil tem aumentado assim como em outros países
Farmácia
16/04/2014
O setor de manipulação de medicamento em farmácia vem aumentando atualmente, devido principalmente à possibilidade de personalizar a terapia medicamentosa. Porém muitos desconfiam da qualidade do medicamento do manipulado e deixam utilizá-los por este motivo. Mas como todos os medicamentos eles só podem ser dispensados se estiveram com a qualidade garantida. Apesar de existir algumas dificuldades para realização dos ensaios de qualidade, é possível que eles sejam realizados. Informando aos usuários de medicamento e prescritores sobre a exigência legal destes ensaios e comprovando que eles realmente são realizados e confirmam a qualidade destes medicamentos é possível tirar o setor da situação de descrédito em que se encontra.
Introdução
Thompson (2006),afirma em seu livro que nos últimos dez anos o interesse por preparações farmacêuticas manipuladas tem aumentado, por vários fatores entre eles: mudança do ponto de vista dos profissionais, que antes meramente dispensavam medicamentos, mas passaram a se preocuparem com o paciente e suas necessidades terapêuticas individuais, fato esse devido ao movimento “assistência farmacêutica”, termo usado como tradução do para pharmaceutical care que prevê uma terapia medicamentosa responsável com o propósito de alcançar resultados definitivos que melhorem a qualidade de vida do paciente e para isso faz-se necessário a dispensação de doses individualizadas; essa individualização de terapia medicamentosa nem sempre pode ser feita com os medicamentos industrializados e a possibilidade de acesso a informações seguras e confiáveis sobre compatibilidade e estabilidade que possibilitam a confecção de preparações farmacêuticas manipuladas seguras.
Silva et al. (2006) confirmam a afirmação de Thompson (2006) apontando as farmácias de manipulação com uma força competindo no mercado de medicamentos no Brasil, estando presente na maioria dos municípios do país.
ANFARMAG (2006) ressalta que o número de farmácias magistrais no Brasil tem aumentado assim como em outros países. Considera que o motivo para este aumento tem relação com a vantagem da terapêutica personalizada que permite a adequação de doses, associação de fármacos e escolha da forma farmacêutica mais adequada ao paciente. Além disso, é possível preparar medicamentos órfãos, inclusive aqueles retirados do mercado pela indústria farmacêutica por razões econômicas ou outras, viabilizando também outros usos para medicamentos tradicionais. Apesar das vantagens do medicamento manipulado, a farmácia magistral encontra alguns obstáculos à sua consolidação e estabilidade no mercado. O maior destes obstáculos é a perda da credibilidade junto à classe médica, órgãos sanitários e sociedade decorrente de desvios na qualidade de alguns medicamentos manipulados. Parte deste descrédito está relacionado com a suposição de que o medicamento magistral não seguiria os mesmos critérios rígidos de controle de qualidade do medicamento industrializado e dessa forma não teria a mesma eficácia e segurança deste. O fato é que a qualidade é um atributo básico e essencial para garantir a eficácia e segurança de qualquer medicamento seja ele magistral ou industrializado.
Thompson (2006) descreve que alguns problemas de qualidade do medicamento enfrentado pela indústria farmacêutica foram compartilhados com farmácia na prática profissional. A falta de qualidade de um medicamento pode acontecer quando não são usados os procedimentos de manipulação corretos e não há um sistema de controle eficiente. Isto pode ser confirmado com incidente que foram relatados e documentados em 1990, no primeiro caso o farmacêutico manipulou uma solução oftálmica que não foi devidamente esterilizada e conservada em consequência vinte pacientes apresentaram infecção ocular e dois tiveram que remover o olho cirurgicamente, no segundo caso onde também faltou esterilidade, mas nesta foi de soluções usadas em procedimentos cirúrgicos ocasionando contaminação e levando dois pacientes a óbito. Devido as ocorrências o Food and Drug Adminidtracion (FDA), órgão americano que corresponde a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicar um alerta informando sobre os incidentes e advertindo para que fosse utilizados procedimentos apropriados para a manipulação e fossem utilizadas medidas de controle para produção dos medicamentos.
Neste contexto de advento das farmácias magistrais e das inegáveis vantagens e benefícios dos medicamentos manipulados e descrédito deste tipo de produto, por muitos acreditarem que não possui qualidade. Torna-se imprescindível que estudos sobre a qualidade deste tipo medicamento para saber estes estão sendo produzidos com a qualidade necessária para que possa ser dispensado ao paciente, a fim de evitar agravos à saúde devido a erros da manipulação como os relatos em 1990.e garantir que terão a ação terapêutica esperada.
Pasa et al. (2008) afirmam que, “a realização do controle de qualidade assegura a credibilidade do medicamento manipulado e isso é de extrema importância para a saúde pública”.
Farmácia magistral e controle de qualidade.
A manipulação de medicamentos no Brasil remonta aos tempos coloniais. Após um período de declínio, entre os anos 40 e 70 do século passado, os estabelecimentos magistrais ressurgiram a partir dos anos 80 e, em 2001 surgiu a primeira regulamentação específica para o setor, a RDC-33/00 (BRASIL, 2001). No período entre 2001 e 2005 o número de farmácias no país aumentou consideravelmente e, em 2007, a ANVISA publica a RDC 067/07, uma revisão da RDC 33 que estabeleceu critérios mais rígidos para a manipulação de medicamentos. (FUTURO, PIMENTA e SILVA, 2008).
Antes da ANVISA colocar em vigor a RDC 33/2000 não existiam parâmetros fixos para controlar a qualidade das preparações, causando dúvida quanto à eficácia do medicamento manipulado. Muitas farmácias não utilizavam EPI´S (equipamentos de proteção individual) como toucas, luvas e máscaras. Após a promulgação da RDC 33, ocorreram dificuldades de aceitação por parte dos proprietários das farmácias, pensava-se ser um gasto desnecessário. Ocorreu uma evolução do setor, um modo legal para garantir a qualidade das preparações magistrais, fidelizar os pacientes ao uso do medicamento manipulado e garantir a saúde dos funcionários da área magistral. Mas esta RDC ainda deixava algumas perguntas dos farmacêuticos magistrais sem respostas, era necessário melhorar ainda mais o controle de qualidade e destrinchar melhor os parâmetros que norteiam a qualidade. Em que quinze de abril de 2005 a ANVISA lançou a consulta pública número 31, onde foram discutidos pontos falhos na RDC 33 e intenção de promulgação de uma nova resolução, participaram farmacêuticos, membros da ANVISA e a população em geral. As farmácias magistrais a partir de 18/12/2006 deveriam obedecer as novas regras para garantir maior segurança, qualidade e eficácia das fórmulas manipuladas. A RDC 214 traz exigências para armazenamento, avaliação farmacêutica da prescrição, fracionamento, conservação, transporte, dispensação das formulações e atenção farmacêutica aos usuários. A partir de 8 de outubro de 2007, foram revogadas a RDC nº 33, de 19 de abril de 2000, a RDC nº 354, de 18 de dezembro de 2003 e a RDC nº 214, de 12 de dezembro de 2006. Está em vigor a RDC 67 de 8 de outubro de 2007 que modifica e/ou esclarece alguns pontos publicados na RDC 214. (PORTAL FARMÁCIA, 2008)
As farmácias de manipulação, segundo a RDC no 67/2007 da ANVISA, devem dispor de laboratório de controle de qualidade capacitado para realizar os testes de controle do processo e da preparação manipulada, verificando as características organolépticas, o pH, peso médio, friabilidade, dureza, desintegração, grau ou teor alcoólico, densidade, volume, viscosidade, teor de princípio ativo e pureza microbiológica, sendo que os últimos podem ser terceirizados. (GIL, 2007)
Futuro, Pimenta e Silva (2008) afirma que apesar da legislação exigir uma extensa documentação para as farmácias, aborda a questão da qualidade de forma superficial, deixando de enfatizar e aprofundar em pontos importantes como o estudo da estabilidade e capacidade dos processos, elementos estes fundamentais para a garantia da qualidade.
Segundo Gil (2007) garantir a qualidade de medicamento produzido não é apenas um predicado comercial, mas também, legal, ético e moral. Pois, para muitos produtos a qualidade é uma questão de competitividade, porém no campo da saúde isto não se aplica. Este requisito deve ser obrigatório e o não cumprimento de especificações de qualidade consideradas imprescindíveis, pode ter sérias implicações. Dessa forma, a metodologia usada para garantir a qualidade, a segurança e a eficácia dos medicamentos deve ser baseada no cumprimento da regulamentação sanitária, destacando-se as atividades de inspeção e fiscalização, com as quais é feita a verificação regular e sistemática coordenadas em âmbito nacional pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a qual tem editado uma série de normas (resoluções e portarias) norteando assim, todo o processo de implantação de uma política de controle de qualidade dos medicamentos no Brasil.
Segundo Futuro, Pimenta e Silva (2008), para garantir a qualidade dos medicamentos produzidos em farmácias, o controle deve começar no processo de produção, pois em função das especificidades dos itens preparados, as inspeções sobre o produto final se tornam limitadas.
Há atualmente, no Brasil, uma ampla discussão a respeito da atuação das farmácias de manipulação, e a crescente regulamentação desse setor, com a reformulação do Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Medicamentos em Farmácias (Brasil, 2000). Diferente de outros países, na última década, a Farmácia Magistral brasileira, além de proporcionar o acesso a fórmulas oficinais e personalizadas, tem representado uma alternativa ao cumprimento de esquemas terapêuticos, manipulando fármacos de praticamente todas as categorias terapêuticas. O consumo generalizado de medicamentos manipulados no Brasil, mesmo quando há disponibilidade da especialidade farmacêutica, deve-se a diversos fatores, tais como, a deficiência governamental em distribuir gratuitamente os medicamentos constantes da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e também ao fato dos preços de produtos manipulados serem inferiores ao praticado pela indústria, entre outros. Porém, a credibilidade nos produtos manipulados tem sido colocada em dúvida pela sociedade, em parte, pela ausência de um rígido controle de qualidade das matérias-primas, de controle do processo da produção e produtos acabados, bem como problemas na sua reprodutibilidade. Tais fatores representam um obstáculo para o crescimento e a manutenção deste setor. Se, de um lado houve um considerável incremento no número de Farmácias Magistrais nos últimos cinco anos e, consequentemente, de postos de trabalho ao profissional farmacêutico (FERREIRA, 2002).
Devido a falta confiabilidade da qualidade das preparações da farmácia magistral, a garantia da qualidade do medicamento manipulado e a sua regulamentação estão sendo intensamente debatidas por farmacêuticos, médicos, setores regulatórios, entidades de classe e pela sociedade, sempre com intuito de obter novas exigências e fazê-las cumprir para assim proteger o consumidor. (MARCATTO et al., 2006)
De acordo com Pugnes, Donaduzzi e Melo (2008), garantir a qualidade dos medicamentos é extremamente importante, pois uma preparação farmacêutica com desvios nas características preconizadas pode gerar um problema de saúde pública devido aos graves riscos a saúde que podem ocorrer por uso de um medicamento com desvio de qualidade. Sendo que “qualquer falha no processo produtivo de medicamentos pode traduzir em risco para o paciente, podendo evoluir desde a ineficácia, à toxicidade ou, eventualmente, à morte” (GOMES e REIS, 2003).
Os ensaios de controle de qualidade são importantes a fim de comprovar que os medicamentos manipulados possuem as características de um produto seguro, ou seja, foi preparado na dose correta, com uniformidade, estabilidade e com as características organolépticas corretas. (ANFARMAG, 2006)
Dessa forma confirma-se que “o controle da qualidade constitui em uma ferramenta importante para assegurar a eficácia e a segurança do medicamento manipulado, contribuindo na conquista da credibilidade e solidez da instituição Farmácia Magistral”. (ANFARMAG, 2006)
A legislação brasileira que regulamente o setor da permite que os testes de controle de qualidade da matéria prima e das preparações manipuladas sejam terceirizados, desde que sejam realizados por laboratórios tecnicamente capacitados para realização destes e que seja firmado um contrato formal. (ANFARMAG, 2006)
Contudo, o controle de qualidade na farmácia magistral representa um importante desafio pela diversidade das matérias-primas utilizadas, incluindo aquelas que não apresentam métodos de análises farmacopéicos e necessitam portanto de validação. Este desafio aumenta ainda mais em se tratando do produto acabado, onde os métodos farmacopéicos não abrangem a grande diversidade de formulações possíveis e a validação de métodos analíticos específicos torna-se tecnicamente e economicamente inviável devido múltipla possibilidade de variação de composição, forma farmacêutica e excipiente. (ANFARMAG, 2006)
É de suma importância que as universidades se atentem para dificuldades expostas no parágrafo anterior e desenvolvam metodologias que possibilitem e facilitem a realização deste tipo teste nos produtos farmacêuticos manipulados.
Como não existe metodologia para controle de todos os produtos manipulados a validação de metodologias analíticas no que desrespeito o controle de qualidade de medicamentos é fundamental, pois é se desenvolve um método, todos os seus requisitos e o seu propósito.
A legislação vigente determina que o fabricante do medicamento é responsável pela qualidade do produto. No processo de produção deste a garantia de qualidade e as boas práticas de fabricação são aspectos interligados com uma gestão do controle de qualidade de todo o processo para assegurar a qualidade do produto final. “Neste contexto, a implantação de uma gestão da qualidade eficaz é estratégica para a sobrevivência do segmento magistral no mercado”. (FUTURO, PIMENTA e SILVA, 2008)
Garantir a qualidade é garantir que os produtos estejam dentro dos padrões de qualidades exigidos. Esta prática previne erros, evita trabalho desnecessário e reduz custos.
Ensaios de qualidade para medicamentos manipulados
A farmácia deverá possuir uma área ou local destinado ao Controle da Qualidade com disposição de pessoas treinadas e equipamentos adequados para a realização de análises (ANVISA, 2000). A instalação e equipamentos de um laboratório de controle de qualidade com recursos básicos podem ser obtidos a custo razoavelmente acessível. Todavia, o investimento realizado retorna à farmácia sob a forma de maior eficiência nos processos de manipulação, avaliação do desempenho técnico dos funcionários, maior segurança, controle do desempenho da farmácia, aumento da conscientização geral da empresa sobre a importância da qualidade, aumento da credibilidade junto aos clientes e profissionais prescritores. O ideal é que a farmácia tenha em sua planta um pequeno laboratório de controle da qualidade [...]. (ANFARMAG, 2006)
De acordo com a RDC no 67/2007 “A farmácia deve possuir procedimentos operacionais escritos e estar devidamente equipada para realizar análise lote a lote dos produtos de estoque mínimo, conforme os itens abaixo relacionados, quando aplicáveis, mantendo os registros dos resultados:
a) caracteres organolépticos;
b) pH;
c) peso médio;
d) viscosidade;
e) grau ou teor alcoólico;
f) densidade;
g) volume;
h) teor do princípio ativo;
i) dissolução;
j) pureza microbiológica”
Testes de qualidade realizados para matéria prima:
Caracteres organolépticos
É o primeiro teste de identificação, de custo zero onde se avalia aparência, cor, odor e sabor, porém não é conclusivo. (GIL, 2007)
Solubilidade
Teste realizado a 25 oC, sendo complementar a identificação da matéria prima, utiliza-se o solvente de acordo com a monografia de cada produto. (GIL, 2007)
pH
Contribui para a identificação da matéria prima, possibilita avaliar possíveis deteriorações decorrentes de problemas no transporte ou armazenamento. A determinação é realizada com auxílio de um pHgâmetro. (GIL, 2007).
Ponto de Fusão
Utilizado para determinar a pureza e identificar a substância, pois uma vez que ela esteja pura passa do estado sólido para o líquido em uma temperatura pré determinada. Para realização do teste utilize-se capilares fechados.
Controle de qualidade do produto acabado
Peso médio
A determinação do peso médio em formas farmacêuticas é efetuada em balança com sensibilidade adequada, tanto para produtos de dose única quanto de doses múltiplas. Em ambos os casos, a determinação do peso médio é dada pelo quociente da somatória dos pesos individuais de cada unidade pelo numero de unidades da amostradas. Quanto maior o desvio padrão, menor será a uniformidade do envase. A Farmacopéia Brasileira IV define os critérios de rejeição do produto de acordo com a forma farmacêutica e a dose do produto (GIL, 2007).
Viscosidade
Aplica-se a forma farmacêutica semi sólidas, para determinar o padrão da formulação É um parâmetro reológico avaliado por esta relacionado com a estabilidade física do medicamento manipulado e com aceitabilidade pelo paciente no momento da dispensação (GIL, 2007).
pH
Aplicável às formas farmacêuticas liquidas e semi sólidas tanto de uso interno como externo para determinar o intervalo de estabilidade dos ativos.
Friabilidade
A determinação de friabilidade traduz a resistência do comprimido as desgaste. Na prática, o teste se aplica a comprimidos não revestidos, este parâmetro também se aplica no controle de processo de núcleos intermediários de drágeas. De acordo com Farmacopéia Brasileira IV deve haver no máximo 1,5% de diferença no peso das amostras antes de depois do teste. (GIL, 2007).
Dureza
A determinação de dureza está relacionada à resistência do comprimido ao esmagamento. Tal resistência diz respeito a estabilidade física de formas sólidas obtidas por compressão. De acordo com Farmacopéia Brasileira IV, amostras que necessitam de menos de 30N para serem danificadas dedem ser rejeitadas. (GIL, 2007).
Desintegração
Este ensaio é aplicado tanto a formas sólidas como cápsulas, comprimidos, drágeas, supositórios e óvulos, esta relacionado com a biodisponibilidade da forma farmacêutica. Farmacopéia Brasileira IV define o tempo máximo para a desintegração de cada forma farmacêutica. (GIL, 2007).
Volume
A determinação do volume é importante para monitorar eficiência de envase e condições de acondicionamento e estocagem. Os limites de variação de volume estão entre 1 e 3% do volume total do frasco (GIL, 2007).
Viscosidade
A viscosidade é um parâmetro reológico avaliado por esta relacionado com a estabilidade física do medicamento manipulado e com aceitabilidade pelo paciente no momento da dispensação (GIL, 2007).
Teor de princípio ativo
O teor de princípio ativo é o doseamento da quantidade fármaco na preparação farmacêutica, dessa maneira este teste serve para verificar se o medicamente contém a quantidade declarada de princípio ativo.
Pureza microbiológica
A pureza microbiologia indica que a formulação farmacêutica está isenta de contaminação por microrganismos patogênicos ou não
Controle de qualidade e credibilidade do medicamento manipulado
Como já foi bem fundamentado anteriormente questão do controle de qualidade do medicamento manipulado é atributo indispensável, assim como para qualquer tipo de medicamento, que por essa informação não ser conhecimento de todos, e muitos acham o contrario o setor encontra-se em uma situação de pouca confiabilidade por parte tanto dos usuários quanto dos profissionais de saúde.
A avaliação da qualidade do medicamento manipulado não deve ser limitada apenas aos testes citados no tópico anterior, existem outros testes que podem ser feitos como o perfil de dissolução e o estudo de estabilidade, que fornecem informações muito importantes sobre a qualidade do produto, sendo possível verificar a interação do fármaco e dos excipientes, se o produto vai se manter estável com as características desejáveis durante o prazo de validade, se o principio ativo será liberado no tempo e quantidade adequada. Contudo com a realização dos testes mínimos exigidos na legislação já é possível assegurar a qualidade do medicamento, assim é importante realizá-los e manter o registro dos resultados e informar a população e os profissionais de saúde sobre a real situação da qualidade do medicamento manipulado, dessa forma com os testes estando de acordo com os critérios estabelecidos de qualidade é possível minimizar a situação de descrédito em que se encontra este setor.
Todos precisam saber que o medicamento manipulado deve ter a qualidade garantida assim como o medicamento industrializado e os órgãos fiscalizadores devem está sempre atuantes para garantir o cumprimento desta exigência. Seria interessante que as próprias farmácias se esforçassem em fornecer informações tanto aos usuários de medicamento como os prescritores, para que eles conheçam como é realizada a garantida da qualidade deste medicamento e das vantagens que este tipo de preparação pode fornecer em uma terapia medicamentosa. Com isso seria possível além de garantir que o produto manipulado possui a qualidade necessária para possa ser dispensado, o que é de suma importância, aumentar a credibilidade do setor.
A Associação Nacional de Farmacêuticas Magistrais desenvolve um programa muito importante na área de controle de qualidade das farmácias, o Sistema Nacional de Aperfeiçoamento e Monitoramento Magistral (SINAMM) desde 2006 que permitiu ao setor iniciar um vigoroso processo para criar novos padrões sobre os critérios de excelência farmacêutica em termos técnicos, científicos, de segurança para o consumidor e do gerenciamento da farmácia. A aderência de farmácias a esse programa é relevante para que a equipe profissional esteja sempre atualizada e aprendam procedimentos para garantir a qualidade do processo de manipulação do medicamento. (Conselho Regional de Farmácia – SP)
Alguns estudos relacionados a controle de qualidade em medicamentos manipulados
Pasa et al. (2008) ao analisar o teor de princípio ativo em cápsulas contendo captopril, propranolol e losartana manipulados em farmácias Campo Grande-MS, observou que das quinze amostras de captopril analisadas apenas uma apresentou teor de princípio ativo abaixo do valor preconizado pela Farmacopéia Americana, já das dez amostras de propranolol todas tiveram os valores acima dos valores preconizados e para o fármaco losartana todas as amostras estavam de acordo com os valores preconizados.
Marcatto et al. (2006) analisaram cápsulas de captopril manipuladas em farmácia. No que se refere o teor de princípio ativo e limite de dissulfeto de captopril, todas amostras foram aprovadas. Já no teste de peso médio das quatro amostras analisadas duas foram reprovadas, o que provavelmente ocorreu por falha durante o processo de encapsulação. O autor afirma que estes resultados mostram a necessidade da realização do controle do processo com intuito de garantir a qualidade dos produtos manipulados.
Ferraz et al. (2008) realizaram uma pesquisa a fim de detectar a principais dificuldades das farmácias de Sorocaba – SP em relação a realização do controle de qualidade físico químico tanto de matérias primas como de produtos acabados e quais ensaios elas realizam. As principais dificuldades relatadas foram: curto prazo dado pela ANVISA para adequação às exigências, alto custo de investimento, dificuldades em realizar ensaios específicos de matérias-primas vegetais e teor do princípio ativo. Foi observado neste estudo que a maioria das farmácias optou por terceirizar a realização dos testes de controle de qualidade.
Silva, Pimenta e Futuro (2008), em seu estudo relataram sobre a utilização de ferramentas para controlar o processo de delineamento de cápsulas de losartam 50 mg produzidas pela Farmácia Universitária da Universidade Federal Fluminense, para tal foi monitorado o peso unitário do produto final uma vez que essa variável se relaciona diretamente com a uniformidade da dose do medicamento preparado.
Azevedo, Ribeiro e Araújo (2008), desenvolveram e validaram uma metodologia para controle de qualidade de cápsulas magistrais de captopril através de ensaios de dissolução.
Kulkamp (2003), em sua dissertação de mestrado validou metodologias analíticas (titulométricas, espectrométricas e cromatográficas) para avaliar a qualidade de cápsulas manipuladas.
Considerações Finais
São inegáveis as vantagens que um medicamento manipulado pode trazer uma terapia medicamentosa individualizada e personalizada. Porém muitos não se beneficiam destas vantagens por terem dúvidas quanto à qualidade destes medicamentos.
Os testes de controle de qualidade existem, as metodologias para realização destes que não tiverem descritas nas farmacopéias ou em competidos oficiais devem ser validadas, mas jamais deixar de ser realizadas. É responsabilidade da farmácia que eles sejam realizados antes do medicamento ser dispensado.
A avaliação da qualidade dos medicamentos manipulados atualmente é importante para verificar se exigências legais estão sendo atendidas, nos casos que não estiverem deve ser tomadas as medidas cabíveis de acordo com legislação vigente, pois os usuários não podem consumir um produto que não tenha qualidade garantida.
Trabalhos de realização de ensaios de controle de qualidade incentivo a maior fiscalização e informação à população sobre os resultados obtidos são de suma relevância, pois as farmácias têm obrigação de produzir medicamentos seguros, os usuários têm o direito de adquirir medicamentos seguros e poder usufruir com segurança de uma terapia medicamentosa com medicamento manipulado.
Uma vez que “a hipertensão arterial é, atualmente, a doença cardiovascular mais comum [...]. Em função de sua alta incidência, tornou-se muito comum na clínica médica a prescrição de um medicamento anti-hipertensivo para uso diário do paciente. (LOURENÇÃO, MAROCLINO E FATIBELLO, 2008). E que atualmente o Captopril, um medicamento anti-hipertensivo, vem sendo muito consumido em forma de cápsulas manipuladas em farmácias. (MARCATTO et al. 2006).
Com os anti-hipertensivos o problema da falta de informação sobre a qualidade do medicamento manipulado ocorre da mesma forma, como já abordado, o que levou a Sociedade Brasileira de Cardiologia a não recomendar o uso deste tipo de medicamento. (SBC, 2006).
No contexto de descrédito, no que desrespeito a qualidade, que o medicamento manipulado se encontra atualmente algo precisa ser feito para reverter este fato, uma vez que já está estabelecido que este só deva ser dispensado com a qualidade garantida. É proposto que se faça testes de qualidade com medicamentos amplamente utilizados pela população e que estes dados sejam divulgados para possibilitar um retrato real da qualidade destes. Como o captopril é um medicamento muito utilizado e sensível a erros de manipulação propõe-se que sejam realizados os testes de controle de qualidade deste medicamento, não só os preconizados na legislação, mas também outros disponíveis, com amostras de varias farmácias de um município ou região. E após a realização deste se houver algum produto com desvio de qualidade seja realizada uma notificação ao órgão fiscalizador competente para que possam ser tomadas as medidas cabíveis e que os dados sejam divulgados para que a população e prescritores tenham conhecimento sobre a qualidade do produto ali produzido e saber se pode ou não ser consumido.
O interessante é que seja um trabalho contínuo, após a realização dos testes com esse medicamente seja realizado de outros medicamentos. Isso não isenta a farmácia de fazer seus próprios testes como prevê a legislação, e não impede que ela divulgue os resultados se seus testes e faça trabalhos educacionais a fim de aumentar a credibilidade do medicamento manipulado.
Referências
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Conselho Regional de Farmácia – SP. SISTEMA NACIONAL DE APERFEIÇOAMENTO E MONITORAMENTO MAGISTRAL. Disponível em: <http://www.crfsp.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&id=1816:sinamm-2010-programa-de-controle-de-qualidade-para-farmacias-magistrais-27112009&catid=40:noticias&Itemid=87>. Acesso em: 15 de novembro 2010.
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THOMPSON, Judith E. A prática farmacêutica na manipulação de medicamentos. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.
por Caroline Dutra Lacerda
Graduação em farmácia e mestrado em farmacologia e bioquímica, ambos pela UFES.
Link para currículo latte: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W3070156
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