Toxoplasmose: os efeitos e causas

O parasito invade as células do hospedeiro
O parasito invade as células do hospedeiro

Farmácia

24/04/2013

Toxoplasma gondii é um esporozoário que infecta grande número de vertebrados de sangue quente, inclusive o homem. O parasito invade as células do hospedeiro, onde se multiplica. Nos adultos causa infecção crônica assintomática, que pode atingir de 15 a 60% ou mais da população. Pode também gerar um quadro agudo febril, com linfadenopatia. Nas crianças, produz uma infecção subaguda com encefalopatia e coriorretinite que nos casos congênitos é particularmente grave. Os imunodeprimidos com sorologia positiva desenvolvem uma encefalite.

Parasito endocelular obrigatório, o T. gondii invade de preferência as células do sistema fagocítico mononuclear, os leucócitos e as células parenquimatosas. Endocitado, ele permanece no vacúolo parasitóforo sem ser digerido e aí se multiplica por um processo de brotamento interno ou endogenia.

Biologia de Toxoplasma gondii

O ciclo dos parasitos faz-se com uma fase sexuada na mucosa intestinal dos hospedeiros definitivos e outra assexuada nos hospedeiros intermediários.

Em um organismo não imune, dentro do vacúolo parasitóforo, a multiplicação é rápida e forma pseudocistos cheios de parasitos - os taquizoítas - que acabam por romper a célula e vão invadir outras células.

Após o desenvolvimento da imunidade, a multiplicação torna-se muito lenta e os parasitos - bradizoítas - acumulam-se em cistos cada vez maiores, característicos da fase crônica da infecção.

T. gondii só é cultivável em meios celulares e, no laboratório, é mantido em camundongos. Tanto os esporocistos eliminados pelos gatos como os taquizoítas e bradizoítas encontrados nos tecidos são infectantes. Mas o poder infectante varia com as fontes de infecção, exigindo por vezes “repiques cegos” para adaptá-los a determinado hospedeiro.

Os ciclos de transmissão incluem: gatos, onde ocorre a fase sexuada dos toxoplasmas; oocistos por eles eliminados com as fezes, que poluem o solo; os roedores, o gado e outros animais que se infectam no pasto; pessoas que comem carne mal cozida de animais infectados. As crianças infectam-se brincando na areia poluída por fezes de gatos. A transmissão congênita ocorre em animais, tal como na espécie humana.

Com linhagens virulentas de T. gondii, os parasitos invadem principalmente os macrófagos e leucócitos, sendo logo encontráveis em todos os tecidos do organismo. Dezenas de taquizoítas acumulam-se no interior de cada célula, formando um pseudocisto que acaba por romper-se e disseminar os toxoplasmas para invasão de novas células. O resultado pode ser fatal em poucos dias.
Com linhagens não-virulentas, inoculadas em animais, formam-se pseudocistos pequenos na primeira semana cujo número passa a decrescer, desaparecendo após duas semanas. Mas, no cérebro e em outros órgãos, alguns parasitos se multiplicam cercados por uma membrana cística. Normalmente, os cistos não se rompem, nem produzem reação em torno. Em todas as espécies de hospedeiros desenvolve-se certo grau de imunidade nas reinoculações. Desde a primeira infecção a sorologia fica positiva. Mas nas fases crônicas da infecção só se encontram formas encistadas, nos tecidos, e as provas sorológicas tornam-se negativas ou extremamente baixas. A proteção do hospedeiro é assegurada, sobretudo pela imunidade celular.

O período de incubação varia talvez de cerca de uma semana a alguns meses. A maioria dos casos de infecção adquiridos na segunda infância ou na idade adulta é assintomática. Os demais podem ser agrupados assim:

a) Formas subclínicas, sem febre ou outras queixas;
b) Com adenopatias e sem febre;
c) Formas febris com adenopatias;
d) A doença pode durar de uma semana a vários meses, de forma irregular, com mal-estar, cefaleia, mialgias e anorexia.

Uma retinocoroidite pode ser a única manifestação da doença. Mas há também formas graves ou fatais, em adultos, com exantema generalizado e lesões viscerais.

A presença de cistos ou de pseudocistos em um organismo constitui sempre um grave risco, em casos de imunodepressão de qualquer natureza. Em pacientes imunodeficientes, pode instalar-se subitamente uma encefalite aguda que mata em poucos dias. Mas há casos de evolução lenta. Nos países em que se consome muita carne mal cozida, a frequência de sorologia positiva pode ir a 70% (na Alemanha) ou 96% (na França), onde ¼ dos aidéticos desenvolvem encefalite toxoplásmica. A sintomatologia varia muito.

Toxoplasmose congênita

Mulheres com infecção crônica não contaminam seus filhos no útero, nem abortam por isso. Mas, se contraírem a infecção durante a gestação o risco é grande, mormente se sua imunidade não for suficiente para proteger o feto.

Se adquirida no primeiro semestre de gravidez, costuma haver toxoplasmose aguda ou subaguda do feto, com lesões disseminadas, principalmente no sistema nervoso e retina. No último trimestre da gestação, a transmissão é, em geral, assintomática ou o quadro clínico é relativamente brando.

A forma aguda grave causa hepatoesplenomegalia, icterícia, exantema e, por vezes, linfadenopatia, hepatite, pneumonite, adenite e derrames cavitários. Há então abortamento ou morte fetal. As crianças que sobrevivem apresentam grande retardo no desenvolvimento físico e mental.

Nas formas subagudas e crônicas regridem as lesões viscerais e permanecem as neurológicas e oculares. Na síndrome típica há:

a) Retinocoroidite (em 90%);
b) Calcificações cerebrais (70%);
c) Perturbações neurológicas (60%);
d) Hidrocefalia ou microcefalia (em 50% dos casos).

Diagnóstico laboratorial da toxoplasmose

O quadro clínico não permite ou é insuficiente para se firmar um diagnóstico. Mas a suspeita cabe nos casos congênitos e nas retinocoroidites.

A parasitemia é fugaz e só se observa na fase aguda. Os toxoplasmas podem ser encontrados no sedimento do liquor ou em cortes de tecidos corados pelo Giemsa. O isolamento dos parasitos pode ser feito por inoculação de material suspeito em camundongos jovens, devendo-se examinar o exsudato peritoneal dos animais de 8 a 10 dias depois. Se o exame for negativo, inocular o exsudato em outro camundongo jovem. Por vezes, várias “passagens cegas” são necessárias para adaptar o toxoplasma ao novo hospedeiro.

Nas formas de toxoplasmose congênitas há parasitos na placenta. Dadas as limitações apresentadas pela pesquisa direta de toxoplasmas, os métodos sorológicos são os mais usados para o diagnóstico, ainda que os anticorpos contra toxoplasmas sejam frequentes na população.

A técnica de ELISA é a mais utilizada para anticorpos IgM, que têm seu pico em um mês. Se negativa exclui o diagnóstico de toxoplasmose aguda. A imunofluorescência indireta é usada para IgG e, no caso de mulheres grávidas, para IgM. Para mulheres grávidas, recomenda-se também o teste imunoenzimático indireto, que está, atualmente, entre os preferidos dada a facilidade de seu uso, a precocidade e a longa duração das respostas positivas. Outros métodos agora menos utilizados são os de hemaglutinação indireta, de fixação do complemento e o de Sabin-Feldman.

Exames neurológicos são necessários nas encefalites toxoplásmicas, inclusive ressonância magnética e tomografia computadorizada, para localizar as lesões e orientar o tratamento.

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