Considerando o valor das plantas medicinais não apenas na terapêutica, mas também como recursos econômicos, tendo em vista a crescente utilização de fitoterápicos, a obtenção dos derivados vegetais requer um desenvolvido conjunto de técnicas que garanta a produção, quantidade e qualidade da matéria-prima vegetal. Para isso, as ações necessárias para transformar uma planta medicinal em droga vegetal consistem em aperfeiçoar as condições de cultivo, controle de pragas, colheita na fase e época ideal, seleção e padronização das plantas colhidas, desinfecção das partes vegetais, estabilização e secagem, divisão, controle de qualidade, exame botânico e análises por testes químicos e físicos.
O desenvolvimento de técnicas de manejo ou cultivo adequadas de espécies vegetais garante a boa utilização dessas pelo homem e a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. Diversos trabalhos científicos têm apontado a importância de estudos químicos e farmacológicos que comparem a produção de metabólitos secundários produzidos pelas espécies vegetais em diferentes modos de plantio e ecossistemas.
Duas técnicas empregadas na obtenção de matéria-prima vegetal são utilizadas historicamente: cultivo e extrativismo. O cultivo de plantas medicinais envolve a domesticação da espécie e a necessidade de alteração da paisagem. Essa prática requer o conhecimento da forma de propagação, adaptação ao ambiente de cultivo, forma de crescimento e senescência.
Estudos agronômicos propiciam tecnologias pertinentes para o cultivo de plantas medicinais com qualidade, em sentido à demanda do mercado de produtos de fitoterápicos.
A primeira etapa é definir e conhecer as condições necessárias para o desenvolvimento da espécie vegetal escolhida. O local de cultivo deve ser semelhante ao local de ocorrência da espécie, a fim de garantir o potencial da sua produção. O processo de domesticação da espécie é bastante oneroso em relação ao tempo. Algumas espécies, como o capim-limão (Cymbopogon citratus (DC.) S.) se desenvolve a céu aberto enquanto espécies como a pariparoba (Piper cernuum V.) dependem de condições naturais de uma floresta para que seu metabolismo funcione adequadamente.
Duas espécies podem ser cultivadas, onde uma proporciona condições favoráveis para o desenvolvimento da outra; exemplo é o cultivo da guaçatonga (Casearia sylvestris Sw.) que aproveita a sombra do salgueiro (Sambucus australis Cham. Et Schltdl.). Espécies como o alecrim (Rosmarinus officinalis L.) e a alcachofra (Cynara scolymus L.) podem ser cultivadas em pleno sol.
As condições climáticas influenciam o desenvolvimento de algumas espécies vegetais. Altas temperaturas fazem com que a planta transpire muito e pode resultar na interrupção da fotossíntese; a água necessária para o crescimento e desenvolvimento quando sai por meio de transpiração, reduz a velocidade ou a água que é imobilizada dentro da planta. Por outro lado, o frio intenso pode paralisar ou matar as plantas. Cada espécie possui uma temperatura ótima, geralmente 25º C; plantas do tipo alpinas e árticas a melhor temperatura para seu desenvolvimento é em torno de 15º C.
A umidade, radiação infravermelha do sol na forma de calor, influencia o solo, ar e água dos solos, lagos, mares e oceanos, e seus efeitos podem ser sentidos em maior ou menor grau em diferentes espécies. Espécies de plantas aromáticas nativas de clima subtropical quando introduzidas em local de clima tropical geralmente não se adaptam adequadamente, murcha próximo ao meio-dia mesmo em regiões de solo irrigados.
A duração da luz do dia também influencia no desenvolvimento de muitas espécies. As plantas se dividem em três categorias:
Plantas de dias curtos: floração da espécie ocorre depois de certo número de noites mais compridas do que o normal, plantas de origem tropical geralmente florescem ao final da estação chuvosa e suas sementes germinam ainda no período chuvoso;
Plantas indiferentes: plantas que produzem seus órgãos de reprodução em qualquer época do ano, independente da duração dos dias;
Plantas de dias longos: plantas que florescem depois de passado um período determinado de dias mais compridos do que o normal, plantas de regiões temperadas têm floração no verão e suas sementes amadurecem no outono. Essas espécies possuem seu melhor metabolismo quando seu ciclo apresenta dias de mais de 12 horas de luz.
As condições edáficas, ou seja, relativas ao solo do ecossistema em que se deseja cultivar a espécie medicinal deve ser considerada. Primeiramente, o tamanho da área destinada ao cultivo de cada espécie deve ser bem definido em relação aos métodos de propagação, espaçamento de plantio e estimativa da quantidade produzida.
A análise do solo do local de cultivo indica as características químicas e físicas do solo, é necessária para a realização de práticas de correção e fertilização. Solo de pH ácido, como os solos brasileiros, requer correção desta acidez para o cultivo, fazendo-se necessário o uso de calcário, que também serve de nutriente para o vegetal. Caso a análise do solo aponte baixos teores de nutrientes, essa deficiência deve ser corrigida com auxílio de adubação. Para a grande maioria do cultivo de plantas medicinais a adubação orgânica por meio da adubação verde (correção da acidez do solo, restaurado física e biologicamente o solo) e da adubação orgânica (libera de forma lenta e gradual os nutrientes para as plantas), algumas espécies apresentam produção potencial de determinado (s) princípio (s) ativo (s) quando submetida a estresse, como reduzida disponibilidade de nutrientes no solo, já que se trata de um metabólito secundário formado quando o vegetal passa por condições de adaptações, condições adversas e mecanismos de defesa.
A estruturação física do solo, quanto ao seu aspecto arenoso ou argiloso deve ser observado, evitando-se perigos de erosão e má utilização da área de plantio. O tamanho das partículas do solo interfere com que ele retenha ou não maior umidade. Cada planta medicinal, particularmente, prefere solos de secos a alagados.
O plantio da grande maioria das espécies vegetais se dá pela técnica de produção de mudas em viveiro, e posterior transplante a campo em covas, contendo adubação orgânica em proporção adequada e devidamente roçada. Outras técnicas utilizadas para plantio são: semeadura direta no campo (espécies mais tolerantes às variações do solo, menos exigentes na fase inicial de crescimento) e multiplicação vegetativa (assentamento no solo de uma parte ou órgão da planta-mãe que produzirá uma nova planta. As estruturas vegetativas mais comuns são bulbos, estolhos, folhas e raízes divididas).
A poda da planta se faz necessária para muitas espécies, tanto para a retirada dos ramos secos e doentes quanto para formação de copa ou orientação dos ramos. A poda drástica é pouco recomendável já que prejudica o vegetal quanto ao fornecimento de nutrientes necessários para o seu desenvolvimento.
O controle de plantas espontâneas na área de cultivo deve ser efetuado, principalmente no início da germinação das sementes plantadas, já que as plântulas são mais sensíveis à competição entre espécies. A roçada seletiva é um procedimento capaz de conter espécies indesejáveis sem prejudicar o processo de sucessão secundária. Exemplos disso são as ervas invasoras que servem de alimento para predadores e pragas poupando a espécie cultivada.
Apesar da grande maioria das plantas produzirem substâncias de defesa contra o ataque de insetos e pragas que venham prejudicar seu crescimento e desenvolvimento, o controle de pragas e doenças nas áreas de cultivo se faz necessário. Algumas técnicas como manejo adequado do solo, rotação de culturas e uso de materiais de propagação sadios são práticas culturais de cultivo. Para controle específico de pragas e doenças podem ser realizados métodos de catação manual de insetos, eliminação de plantas ou galhos doentes, aplicação do macerado de fumo, da solução de água e sabão, do extrato de alho e pimenta e de biofertilizantes. As próprias espécies vegetais podem ser úteis neste controle; o suco de flores de camomila (Chamomilla recutita (L.) R.) pode ser utilizado no controle de fungos causadores de tombamento de plântulas em viveiros.
A colheita da planta é a etapa final no campo e deve ser rodeada de atenção. O teor de princípio ativo de uma planta pode variar de acordo com o meio que a cerca, de órgão para órgão, com a idade, com a época da colheita e mesmo com o período do dia no qual é realizada. O momento da colheita deve ser aquele em que há o máximo de síntese do princípio ativo desejado. Os aspectos, os caracteres organolépticos e a qualidade das substâncias dependem de como se efetua colheita.
O melhor período para realizar a colheita é pela manhã, logo após a secagem do orvalho, e ao fim da tarde, quando em dias ensolarados. Em dias nublados e secos, a colheita pode ser realizada durante todo o dia, a partir do desaparecimento do orvalho. E em dias de chuva, não deve ser realizada a colheita.
A umidade, de qualquer origem, favorece nas plantas o processo de fermentação e formação de bolores durante a secagem. Por isso, não se deve após a colheita lavar as partes coletadas, esse tipo de prática inutiliza a planta como fonte de substâncias ativas. Se necessário proceder à lavagem um dia antes da colheita.
Para as plantas aromáticas, a coleta deve ser efetuada no início da floração, período que o vegetal atinge seu ponto máximo da produção da fragrância.
Cada planta ou parte do vegetal possui um método apropriado de colheita. Deve-se evitar compressão e lesões profundas nos órgãos coletados. As plantas perenes devem-se coletar após um ano de crescimento e duas vezes ao ano, realizando cortes alguns centímetros acima do solo. Plantas anuais podem ser retiradas completamente do solo. Algumas espécies como a espinheira-santa, devem-se manter 50% das suas partes aéreas, não sendo possível a retirada de todas as folhas. Para colheita de raízes devem-se preconizar as raízes próximas da superfície.
A época recomendada de coleta de partes de plantas medicinais: Raízes, rizomas e tubérculos na primavera e/ou outono. Caules lenhosos no inverno ou outono. Cascas na primavera. Folhas durante o dia. Flores na polinização. Frutos no início da maturação (deiscência) ou completa maturação no outono. Sementes no outono ou inverno (antes da deiscência). Gemas logo após o surgimento.
As plantas colhidas devem ser selecionadas a fim de evitar exemplares com manchas, doentes, deformadas, sem características organolépticas, com poeira ou qualquer material estranho que comprometa o lote inteiro do material vegetal. Somente as raízes e rizomas após a colheita podem ser lavados.
A desinfecção das plantas selecionadas: A prática da desinfecção da planta colhida e selecionada visa conter insetos e microrganismos vivos ou mortos. Consiste nos métodos de calor a 60o C; radiação eletromagnética ou pressão com dióxido de carbono, p-diclorobenzeno ou brometo de metila. A estabilização:
O processo de estabilização tem por objetivo destruir enzimas responsáveis pela modificação do conteúdo químico das células do vegetal coletado. A aplicação de calor úmido (vapor de álcool aquecido) e irradiação UV são formas de estabilização de plantas medicinais. Embora obrigatória para a maior parte das drogas, não é utilizada em todos os casos.
A secagem e o armazenamento das plantas A partir do momento da colheita inicia-se um processo de degradação enzimática na planta, que leva também à degradação dos princípios ativos. O menor tempo entre a colheita e a secagem é crucial para a manutenção da integridade máxima dos princípios ativos.
A incidência de raios solares sobre o material colhido também acelera o processo de degradação. A secagem ao sol não é recomendada por promover a degradação dos princípios ativos, gerarem a secagem rápida das bordas dos órgãos vegetais e criação de uma crosta impermeável à água, porém o interior do material permanece úmido. Dessa forma, a secagem deve ser ao abrigo da luz, em secadores que promovam ambiente limpo, bem ventilado e protegido do ataque de insetos e outros animais.
A secagem de folhas e flores deve ser efetuada a temperatura em torno de 38º C; de cascas e raízes, a temperatura de até 60º C são aceitáveis. Temperaturas acima desses limites aceleram o processo de degradação dos princípios ativos. No período da noite, a temperatura deve ser mantida com uso de fornalhas à lenha ou gás, ou auxílio de conversores de energia elétrica em calor (resistências). A diminuição da temperatura deve ser evitada, pois promove a reabsorção de água pelas plantas, retardando o processo de secagem.
O processo de secagem deve ser individual para não ocorrer mistura de elementos voláteis. As partes da planta mais úmidas, como ramos devem ser separadas das partes mais secas, como folhas.
O processo de secagem, independente de como realizado, propicia a redução de volume e de peso e facilita a moagem dos materiais.
O período de armazenamento deve ser o menor possível, ao passar do tempo podem ocorrer perdas qualitativas e/ou quantitativas nas substâncias ativas das plantas. O local de armazenamento deve ser seco, escuro, arejado e isolado da presença de pragas. Como na secagem, o armazenamento das partes das plantas deve ser isolado.
A redução da droga vegetal: O estado de divisão da droga vegetal constitui um fator importante na conservação deste tipo de matéria-prima. A redução da droga vegetal economiza espaço, entretanto, quanto mais dividido o material mais favorece a aceleração dos processos que levam à sua decomposição por absorção de umidade, perda de substâncias voláteis e acelera reações de oxidação.
A divisão só deve ser realizada quando se tem interesse técnico, como proliferação de microrganismos e processos de extração ou terapêutico, visando forma farmacêutica com maior ou menor atividade e uniformidade da dose. Os aparelhos mais utilizados são de vários tipos em conformidade com as características da droga a ser dividida. Uma divisão grosseira pode ser efetuada por seccionamento por meio de tesouras, podões ou facas; por impacto, por intermédio da fragmentação por meio de choques repetidos efetuados geralmente em gral e por rasuração, por meio de raspadores ou processadores de alimentos.
Os tipos de moinhos mais utilizados de acordo com as características do material vegetal (dureza, friabilidade e elasticidade): Moinho de facas – princípio de corte em sistema contínuo para material fibroso; granulometria do produto de 20 a 80 mesh; Martelos: princípio de impacto em sistema contínuo ou descontínuo usado em materiais secos, moles, não friáveis ou quebradiços; granulometria de 4 a 325 mesh; Rolos: princípio de pressão para materiais moles; granulometria de 20 a 200 mesh; Atrito: materiais moles e fibrosos; granulometria de 20 a 200 mesh; Energia fluída: ação mista aplicada em materiais moles e aderentes; produto com granulometria de 1 a 30 ?.
O controle de qualidade de drogas vegetais: Os ensaios de qualidade de matérias-primas vegetais preconizados nas Farmacopeias e Códigos oficinais e nas literaturas científicas da área têm como objetivo: verificar a identificação botânica do material, avaliar a pureza do material, caracterização dos constituintes químicos da espécie e doseamento destes constituintes, principalmente aqueles responsáveis pela atividade biológica. As análises devem ser realizadas em triplicata, os resultados de procedimentos analíticos devem ser validados e os resultados quantitativos deverão ser avaliados estatisticamente.
A qualidade da matéria-prima vegetal é determinante inicial da qualidade do produto fitoterápico. Entretanto, a qualidade da matéria-prima não garante eficácia e segurança do produto final. A eficácia é determinada mediante ensaios farmacológicos pré-clínicos e clínicos, assim como sua aplicabilidade terapêutica. A segurança é determinada pelos ensaios que comprovam a ausência dos efeitos toxicológicos e a inexistência de contaminantes nocivos à saúde. Os parâmetros de qualidade da matéria-prima vegetal devem ser precisamente predefinidos e os procedimentos de preparação dos extratos devem ser padronizados, obtendo-se os produtos chamados padronizados. O produto fitoterápico final deve ser avaliado em cada etapa do processo de fabricação, pois dependem da metodologia de extração dos princípios ativos, da elaboração, formulação e forma farmacêutica, entre outros.
A análise da qualidade de um lote de matéria-prima é realizada por amostragem, sendo a tomada da amostra um fator limitante para a confiabilidade dos resultados. A droga vegetal acondicionada em caixas ou tonéis deve ter a amostra retirada da parte superior, da metade do conteúdo da embalagem e da parte inferior.
A quantidade de amostra deve ser suficiente para realização dos ensaios necessários quando o material tiver entre 1 a 5 kg; para materiais com mais de 5 kg retira-se de cada amostra 250 g. Para aqueles com peso superior a 100 kg e com fragmentos maiores que 1 cm, a quantidade de amostra retirada deve ser de 500 g. Aos materiais de quantidades menores que 10 kg é permitido amostrar quantidades inferiores de no mínimo 125 g.
As análises realizadas com a amostra irá ditar se tal matéria-prima poderá ser utilizada na elaboração do fitoterápico. Entretanto, durante o procedimento de análise, a matéria-prima deverá ser armazenada separadamente em quarentena, aguardando laudo técnico para liberação da sua utilização. Deve-se guardar uma quantidade de material como contraprova, caso seja necessário a repetição de alguma análise.
Os principais problemas relacionados à qualidade de matéria-prima vegetal são umidade, contaminação por microrganismos, metais pesados e agrotóxicos, impurezas e falsificações.
A análise sensorial ou organoléptica: A análise sensorial visa análise do aspecto visual, do sabor, do odor e da percepção ao tato de matérias-primas vegetais, sendo o meio mais rápido e simples de verificar alguns parâmetros de qualidade, principalmente de identidade e pureza. Deve-se preconizar um padrão do aspecto da droga-vegetal, pois quaisquer diferenças serão rejeitadas pelo consumidor tendo sua credibilidade comprometida.
Os profissionais que realizam as análises de sabor e odor devem receber treinamento específico e experiência a fim de evitar variabilidades sensoriais individuais. Para esse tipo de análise requer uma amostra autêntica utilizada no laboratório como padrão para posteriores análises. Pela análise organoléptica é possível detectar a contaminação por fungos ou odor de decomposição do material. Por meio da percepção visual ou pelo tato pode-se observar se o material foi atacado por insetos, como cupins ou se há presença de insetos.
Comparando-se droga vegetal com amostra padrão em relação odor e coloração é possível avaliar as condições de armazenamento ou do prazo de validade ultrapassado.
A verificação da autenticidade: A autenticidade de uma espécie vegetal é verificada por parâmetros de identificação botânica por meio de ensaios macro e microscópicos. A presença de constituintes químicos ativos e/ou características da espécie também são parâmetros considerados. A identificação de diferentes partes do vegetal, como flores, frutos, folhas e caules aliado com descrição da espécie em literatura especializada em botânica leva a identificação botânica.
As plantas medicinais geralmente são observadas os farmacógenos – parte da planta com princípio(s) ativo(s) utilizado terapeuticamente, sendo necessárias literaturas específicas em que relatam seu uso farmaceuticamente. A análise de amostras pulverizadas requer o reconhecimento de estruturas microscópicas características e diferenciais, complementada com as análises químicas. Dessa forma, prefere-se para a análise da matéria-prima íntegra.
Os ensaios macroscópicos podem ser realizados a olho nu ou com auxílio de lupa, comparando-se a amostra com amostra autêntica, desenhos ou fotos, efetuados por profissional botânico de preferência ou especialista na espécie. É importante o estabelecimento de estruturas específicas que possam diferenciar uma espécie medicinal ou farmacopeica e espécies encontradas como adulterantes.
Os ensaios microscópicos são realizados com auxílio de um microscópio, necessitando a preparação preliminar do material. A lâmina a ser analisada deve ser preparada a partir da droga vegetal inteira ou fragmentada, por meio de cortes histológicos. Se a droga estiver em pó, esse poderá ser analisado microscopicamente. Além de se verificar a autenticidade botânica, este tipo de análise permite observar interferências a respeito da qualidade do material.
Na análise de flores de camomila a caracterização de estruturas de tricomas glandulares, onde se acumula na planta o óleo volátil servindo de parâmetro para a identificação do farmacógeno pulverizado e o teor de óleo volátil. Estudos demonstraram que altas temperaturas e umidade elevada nos tricomas reduzem o teor do óleo volátil.
Algumas reações químicas ou perfil cromatográfico de caracterização são efetuados para verificação da autenticidade da droga vegetal. Tais métodos requerem conhecimentos fitoquímicos prévios, são de baixo custo e rápida execução. Geralmente, são reações inespecíficas que têm por objetivo verificar a presença de grupos de substâncias, como flavonoides, alcaloides entre outros. A cromatografia constitui um processo físico-químico de separação dos constituintes de uma mistura, sendo muito utilizado na análise de matéria-prima vegetal.
A cromatografia em camada fina é corriqueiramente utilizada nesta análise de autenticidade por sua rapidez e baixo custo. Entretanto, deve-se conhecer o marcador químico da espécie investigada e possuir substância de referência ou marcadores específicos que autentiquem a espécie analisada. Esse método permite identificar nas flores de arnica (Arnica montana L.) se há interferência por outras espécies como contaminação por Calendula, conhecida como arnica-mexicana, além de verificar a decomposição de alguns constituintes originais.
A verificação da pureza da amostra: As farmacopeias estabelecem os critérios para a presença de elementos estranhos, impureza, teor de umidade, contaminação microbiológicos, parasitários, resíduos de pesticidas e resíduos de metais pesados para todas as drogas vegetais. Trabalhos de verificação da pureza de matéria-prima vegetal apontam como maior problema a impureza. A análise de amostras comerciais de camomila evidenciou que mais de 60% das amostras apresentavam sendo a presença de insetos.
A matéria-prima vegetal pode apresentam elementos estranhos, comumente são partes do próprio vegetal ou de outra espécie. A Farmacopeia Brasileira permite na análise de amostras de camomila até 5% de pedúnculos. Em geral, o limite aceitável de elementos estranhos em uma amostra de droga vegetal é de 2% (m/m).
A presença de substâncias indesejáveis é verificada por análise em cromatografia em camada delgada. Na análise de frutos de erva-doce (Pimpinella anisum L.) é indicada a reação de hidróxido de potássio e verificação do desprendimento de odor desagradável, associado com um alcaloide extremamente tóxico – a coniina, presente em frutos de cicuta (Conium maculatum L.), o qual é um dos contaminantes de amostras de erva-doce.
A determinação do teor de cinzas permite verificar as impurezas inorgânicas não voláteis que estão presentes como contaminantes da droga vegetal. O material é colocado em um cadinho de porcelana ou de platina e incinerado quantitativamente em mufla, até o peso constante. Os ensaios são geralmente realizados em triplicata. As cinzas insolúveis em ácido permitem uma melhor quantificação de contaminantes como resíduos de terra ou areia em raízes.
A umidade em excesso nas matérias-primas vegetais permite a ação de enzimas, degradando os constituintes químicos, possibilitando o desenvolvimento de fungos e bactérias. A Farmacopeia Brasileira preconiza os métodos gravimétricos, da destilação azeotrópica e volumétrico. O método gravimétrico é de fácil realização, determina-se o percentual de material volatilizado após a dessecação. Plantas de elevado teor de óleo volátil apresentam alto percentual de massa perdida.
No método de destilação azeotrópica é determinado à quantidade de água presente no vegetal, destilando-se o material juntamente com tolueno ou xileno, após resfriamento determina-se o volume de água destilado por diferença. O método volumétrico é baseado na reação de Karl Fischer onde a oxidação do dióxido de enxofre por iodo na presença de água. O teor de umidade estabelecido nas diferentes Farmacopeias está entre 8-14%.
As drogas vegetais podem conter um grande número de fungos e bactérias, oriundas do solo, da microflora natural de certas plantas ou durante a manipulação. A contaminação pode surgir nos processos de manejo, secagem e armazenamento. A OMS estabelece os seguintes critérios para as drogas vegetais:
Na Farmacopeia Brasileira não há especificação de limites aceitos para as drogas vegetais, mas se encontra detalhadamente os métodos de filtração por membrana, contagem em placa ou em tubos múltiplos, aplicáveis à contagem de microrganismos viáveis em produtos que não necessitam de teste de esterilidade.
Os agrotóxicos ou pesticidas presentes em drogas vegetais podem ter origem na contaminação acidental de plantas silvestres que crescem próximas às áreas de cultivo, do emprego inadequado de produtos para melhoramento ou tratamento impróprio das drogas armazenadas. Os limites toleráveis de agrotóxicos estão diretamente relacionados às regulamentações para alimentos.
Um estudo com 45 lotes de 14 espécies vegetais utilizadas pela população demonstrou que os chás preparados a partir dessas drogas vegetais continham entre 3 e 67% do teor do agrotóxico encontrado no material de partida; e em 90% das drogas o teor original estava abaixo de 25%. Na determinação do teor destes contaminantes, comumente são empregados os métodos de cromatografia gasosa e cromatografia líquida de alta eficiência.
A contaminação por metais pesados tem seu limite estabelecido de forma semelhante aos limites determinados para alimentos, matérias-primas farmacêuticas e medicamentos. No caso das plantas medicinais, os processos de extração de drogas vegetais são capazes de extrair de 3 a 48% do teor de metais pesados presentes na droga. Os métodos recomendados pelas farmacopeias não são específicos para metais pesados, possuem pouca sensibilidade e baixa precisão. Diversos autores orientam as metodologias de espectrofotometria de absorção atômica, espectrometria de emissão atômica ou voltometria inversa.
Ensaios quantitativos e semiquantitativos de constituintes químicos: A determinação do teor de constituintes ativos presentes nas drogas vegetais é utilizada como forma de avaliar a qualidade da matéria-prima oriunda para emprego terapêutico. O teor dos constituintes pode variar consideravelmente com a época e local da coleta, formas de cultivo, condições climáticas, idade do material vegetal, período e condições de armazenamento entre outros.
O doseamento dos constituintes ativos pode ser realizado de acordo com o tipo de substâncias. A técnica de cromatografia líquida de alta eficiência é bastante comum para a quantificação dos diversos constituintes. Nas drogas com óleo volátil deve-se realizar a extração do óleo essencial por arraste de vapor d’água seguido de determinação volumétrica ou gravimétrica da quantidade de óleo extraída segundo parâmetros estabelecidos. Os métodos titulométricos ou espectroscópicos (ultravioleta ou visível) são empregados no doseamento de flavonoides, taninos, alcaloides, antraquinonas e uma grande variedade de compostos.
Alguns grupos de compostos podem ser empregados métodos semiquantitativos baseados em propriedades fisicoquímicas, como índice de intumescimento para drogas contendo mucilagem e índice de amargor para plantas amargas e em atividade biológica, como o índice de hemólise para drogas contendo saponinas.
A documentação dos procedimentos que envolvem a produção e o controle de qualidade da droga vegetal deve ser preconizada como orienta as Boas Práticas de Fabricação (RDC 134/ANVISA de 2001). A formalização destas atividades por escrito garante a segurança da qualidade da matéria-prima e do produto fitoterápico final.
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por Colunista Portal - Educação
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