A IMPORTÂNCIA DE EXERCÍCIOS ANAERÓBICOS SOBRE OS FENÔMENOS APAGAMENTO E SAMBA

Exercício Anaeróbico.
Exercício Anaeróbico.

Enfermagem

06/12/2015

Introdução

A história do combate ao afogamento no Brasil iniciou na cidade do Rio de Janeiro, quando o Comodoro Wilbert E. Longfellow fundou na então capital da República o serviço de salvamento da Cruz Vermelha Americana, utilizando como mão de obra, voluntários que sabiam nadar.
Com o crescimento demográfico em 1963, criou-se então o Corpo Marítimo de Salvamento-Salvamar, subordinado à Secretaria de Segurança Pública, com mão de obra concursada. (RIO DE JANEIRO. Prefeitura Municipal)

Hoje no Brasil o Centro de Instrução e Adestramento Almirante Átilla Monteiro Aché (CIAMA), é a referência nacional para acidentes de mergulho. Conforme a Superintendência da Segurança do Tráfego Aquaviário (SSTA), responsável pelo credenciamento ativo das escolas de mergulho.

Somente o CIAMA encontra-se apto para a formação em mergulhos profundos, considerado o ápice da carreira do mergulho, o que comprova a titularidade de referência nacional deste Centro de formação, cada vez mais qualificada como, descrito pela história.

Nos atuais dias, onde o exercício físico tem comprovadamente sua contribuição preventiva, no bem estar físico e mental das pessoas, o incentivo da prática de exercícios anaeróbicos pode melhorar a apneia dos profissionais, que possam se envolver com possíveis acidentes de mergulho, do tipo apagamento e samba, por condicionar as células a consumir menor quantidade de oxigênio.

Baseando-se no reflexo de imersão dos mamíferos marinhos, resposta comum durante o mergulho, diminuição do batimento cardíaco, sequestro do sangue periférico para o centro do corpo, menor consumo do oxigênio e aumento da apneia. Observam-se nos atletas que realizam atividades anaeróbicas, características semelhantes aos encontrados no fenômeno de Reflexo de Imersão. (Mc ARDLE, 2011)

As atividades anaeróbicas proporcionaram resultados positivos em diversas situações, pelo menor consumo de oxigênio e seu melhor aproveitamento celular, contribuindo para a melhora na concentração, na metabolização, no desempenho físico e emocional. (POWERS e HOWLEY, 2014)

Em média uma pessoa não condicionada permanece em apneia, cerca de sessenta segundos, já uma pessoa com hábitos diários de exercícios, permanece em torno de cento e vinte segundos, o dobro do tempo. O dobro de chance de escapar de uma situação inesperada, debaixo da água.

Possivelmente por este motivo que os militares são vistos como referência no combate ao afogamento, parte desta conquista provém dos deveres militares que emanam de um conjunto de vínculos morais e jurídicos que ligam o militar à pátria e à instituição.

 

Os militares são exemplos de profissionais que pelo dever moral, procuram manter seu condicionamento físico, contudo o tempo e o espaço disponível se tornam grandes inimigos em certos momentos. Estes profissionais sabem que podem a qualquer momento necessitar da apneia, como seu único instrumento numa ação de sobrevivência ou para um resgate, perante um possível afogamento.

Submarinistas, mergulhadores e aviadores, são os mais propensos a acidentes de mergulho, não por uma ameaça de guerra, mas pelas condições de trabalho (ambientes confinados que estão expostos), em geral estão locados em embarcações ou escritórios, que dificulta a manutenção do condicionamento físico.

No interior dos submarinos, as atividades à bordo são restritas, durante as viagens, o ar atmosférico do submarino necessita de uma substância, a cal sodada, para reter o dióxido de carbono, resultante da queima orgânica. Porém também há a necessidade de uma manutenção física, que seja rápida e eficiente durante as viagens.

Na ocorrência de um alagamento e um incêndio simultâneo a bordo esta substância poderá perder sua eficiência por ficar úmido ou saturado pelo monóxido de carbono, gás resultante da queima incompleta. Sendo assim, para iniciar o combate ao incêndio e ao alagamento, a apneia da tripulação terá um papel fundamental para o sucesso das primeiras manobras de controle de avarias (CAV).

Aos mergulhadores quando embarcados, durante seus mergulhos, pode ocorrer problemas em seus equipamentos, ou mesmo, contratempos inesperados e a resposta inicial dentro da água para evitar um afogamento, é essencial.

Para o mergulhador será necessário primeiramente uma breve apneia para orientar-se e concentrar-se dentro d’agua, evitando o pânico em busca de uma solução, em seguida exalar todo ar possível de seus pulmões, antes de voltar à superfície para não concorrer a outro tipo de acidente de mergulho, a síndrome da hiperdistensão pulmonar conforme descrito pela National Association of Emergency Medical Techiniciam (NAEMT), no atendimento pré-hospitalar ao traumatizado (MOSBY JEAMS, 2011).

Nas situações de pane durante um voo, a aeronave pode cair sobre águas e ficar submersa, os primeiros instantes em apneia do piloto, permitirá ao mesmo, uma ação consciente, na busca de se desvencilhar de obstáculos, analisar e efetuar seu escape e até mesmo auxiliar no escape de outros.

No Brasil, pilotos da Marinha, executam exercícios de apneia, que são realizados na Unidade de Treinamento de Escape, em São Pedro da Aldeia no estado do Rio de Janeiro.

Nos três casos citados acima, nem sempre hipotéticos, o uso da apneia dinâmica fará a diferença para a sobrevivência destes militares. É importante lembrar que em situações onde o movimento muscular ocorre, há uma aceleração na queima do oxigênio, diminuindo o tempo de apneia e contribuindo para a dificuldade de raciocínio e o retardo de respostas simples, podendo decorrer no afogamento, conforme descrito no mecanismo da lesão (MOSBY JEAMS, 2011). A prática de exercícios repetidos por um período menor que 1 minuto, é denominada pela fisiologia do exercício como anaeróbica e é a melhor resposta para manter o condicionamento físico, aí o porquê de exercícios poderem ser realizados em um curto espaço físico e por um menor espaço de tempo.

Simples abdominais associados a flexões de braço, pulos com corda e uso de bolas e pesos, quando bem aplicados são suficientes para aumento da resistência física, manutenção da massa muscular e aumento da concentração (POWERS e HOWLEY 2014).


Métodos

Trabalho realizado por abordagem bibliográfica, visto que o objeto de estudo se refere ao exercício da enfermagem em ação preventiva indireta às urgências e emergências de acidentes de mergulho, em particular afogamento primário, que se estabelecem entre os sujeitos no exercício da mesma.

Originado de analises da produção científica brasileira do período de 2005 a 2015 por diversas áreas como: fisiologia médica, fisiologia do exercício, enfermagem, e protocolos.

A pesquisa utilizou o método descritivo qualitativo assumindo a forma de pesquisa bibliográfica por procurar estudar através de referências teóricas adquiridas em literaturas e informações existentes a respeito do assunto descrito.

A consulta de fontes consiste: na identificação das fontes documentais (documentos audiovisuais, documentos cartográficos e documentos textuais), na analise das fontes e no levantamento de informações, reconhecimento das ideias que dão conteúdo semântico ao documento.


Discussão

Os exercícios anaeróbicos são aqueles cujo metabolismo se dá nos músculos, durante a prática de atividades com alto índice de esforço (POWERS; HOWLEY, 2014). Dentre os quais podemos citar corrida de 100m, natação de 50m, levantamento de peso, flexão, agachamento, ginástica olímpica, salto, entre outros exercícios rápidos com o objetivo de desenvolver força e crescimento muscular, como exemplo o “HIT” que significa treino de alta intensidade (high intensity training), o circuito e crossfit. As atividades anaeróbicas podem ser de dois tipos, lento com carga e sem carga (aparelho de musculação e ginástica localizada) ou de velocidade (corrida, natação). Há dois tipos de sistema de geração de energia anaeróbica: o ATP-CP, que tem a creatina fosfato como principal fonte de energia, e o ácido lático (ou glicólise anaeróbia), que usa glicose na ausência de oxigênio.

Para a geração de energia, moléculas maiores são reduzidas a unidades menores: aminoácidos, glicerol e ácidos graxos. Em uma segunda etapa, ocorre a glicólise. O terceiro e último estágio, conhecido por "ciclo de krebs", onde mais de 90% de ATP é produzido.

Esse último processo ocorre apenas em organismos aeróbicos e consistem na oxidação completa dos piruvatos, provenientes da glicólise, gerando ATP, CO2 e H2O. Em anaerobiose (ausência de oxigênio), após a glicólise ocorre a transformação do piruvato em etanol ou lactato, processo denominado, fermentação. (GUYTON e HALL, et al, 2011; POWERS; HOWLEY, 2014; Mc ARDLE, 2011).

A base do planejamento de um programa de condicionamento e realizada através do conhecimento das contribuições anaeróbicas e aeróbicas relativas à produção do ATP durante uma atividade (POWERS; HOWLEY, 2014).

Apagamento é um acidente de mergulho de efeito indireto, uma hipóxia (percentual de oxigênio abaixo de 16%) decorrente da variação de pressão que ocorre na superficialização de um mergulho em apneia, ou seja, na volta à superfície a pressão parcial do oxigênio torna insuficiente para perfundir o oxigênio no cérebro, essa hipóxia em geral se iniciou por uma apneia (BRASIL. Marinha do Brasil).

Os primeiros dez metros são o mais perigoso devido o dobro de variação da pressão, por isso é comum o apagamento ocorrer a uns cinco metros antes, de o mergulhador chegar à superfície. A lei de Boyle-Mariotte explica bem a variação de pressão decorrente deste acidente, esta afirma que o volume de um gás é inversamente proporcional à pressão sob a temperatura constante.

Resumidamente o processo se desenvolve da seguinte forma, a concentração do oxigênio na superfície é de 21% e a pressão parcial aumenta com a profundidade, à 20 metros terá uma pressão parcial de 0,63 ATA, conforme a lei de Boyle.

O mergulhador hiperventilando na superfície, baixa o nível da pressão parcial do dióxido de carbono, gás resultante da queima do oxigênio, responsável em estimular o bulbo que comanda a respiração retardando a inspiração e aumentando a apneia no fundo.

Contudo o oxigênio continua sendo consumido, com uma pressão hipotética de 0,20 ATA nos pulmões no fundo, ao retornar para superfície, aos quinze metros apresentaria uma pressão de 0,15 ATA, ou seja, uma pressão inferior a necessária para manter o funcionamento das funções cerebrais, com esse valor o mergulhador perde a consciência rapidamente sem tempo de respostas (GUYTON e HALL, et al, 2011; BRUNNER, 2011; BRASIL, 2007). “Apagamento é decorrente de mergulhos livres, tem por definição, perda da consciência durante a subida em apneia, causada pela diminuição brusca da pressão parcial do oxigênio” (TRINDADE, 2014: pág 03).

Samba não é um acrônimo, no mergulho é um acidente de efeito indireto, por estar indiretamente relacionado com a pressão, caracterizado principalmente por tremores apresentados pelas vítimas, muito observado em competições internacionais de apneia, é um acometimento decorrente da alcalinidade do sangue, uma resposta fisiológica de uma alcalose respiratória.

Alcalose respiratória é definida como uma situação em que o sangue torna-se alcalino devido à respiração rápida ou profunda e tem como resultado uma baixa concentração de anidrido carbônico no sangue, decorrente de uma hiperventilação (MERCK, 2014).

Esta técnica ainda é muito utilizada para obter mais tempo em apneia, por diminuir a pressão parcial do dióxido de carbono, gás que estimula o bulbo, órgão responsável pela respiração.

Até o momento este acidente é desconsiderado por muitos profissionais do mergulho e praticantes desta atividade por durar alguns segundos e desaparecer sem sequelas e principalmente porque os mergulhadores que passam por este incidente, conseguem escapar ilesos do afogamento.

Esta alcalose respiratória que resulta num acidente denominado Samba, pode ser visível em apneias estáticas e dinâmicas, pode ocorrer em natação de curta distância, de alta velocidade, durante ou após o ápice de grandes esforços do indivíduo. Em geral o Samba ocorre na superfície, porém pode ocorrer durante a imersão de um mergulho sucessivo em apneia devido à hiperventilação decorrente do esforço físico.
Durante a hiperventilação, verifica-se uma diminuição significativa na PCO2 e também na concentração de íons H+. Isto faz com que o tempo de apneia seja prolongado, uma vez que o centro respiratório é ativado pelo aumento da PCO2, até que níveis normais de acidez e de dióxido de carbono sejam restaurados.

Embora tenha sido uma prática muito comum dentre os nadadores, a apneia, através da hiperventilação prolongada, não deve ser praticada durante o mergulho, pois as consequências podem ser fatais (Mc ARDLE, 2011).

Na condição fisiológica de alcalose, o organismo pode apresentar sintomas de vertigem, tremores nas mãos, contração muscular, náuseas, vômitos, dormência ou formigamento nas extremidades, espasmos musculares (tétano), ou mesmo uma síncope (perda de sentido) com uma curta duração em torno de cinco segundos (BRUNNER, 2014).

É importante lembrarmos que dentro da água, esta alteração fisiológica, pode ser suficiente para gerar uma vítima de afogamento.

Durante várias vezes ao dia, utiliza-se o recurso da apneia para a realização de atividades de vida diária, por exemplo, subir escadas, carregar pesos, nadar, e tomar banho. A manutenção de um nível menor da PCO2 arterial proporciona um estímulo contínuo para a constrição das pequenas artérias cerebrais (POWERS: HOWLEY, 2014). A redução significativa do dióxido de carbono arterial durante a hiperventilação pode reduzir o fluxo sanguíneo cerebral e causar vertigem ou até mesmo a perda da consciência, criando assim uma situação perigosa na água.

Em virtude disto, torna-se importante a realização de exercícios anaeróbicos com o objetivo de contribuir para o melhor condicionamento e uso da apneia estática e dinâmica, retardando respostas de hipóxia e alcalose.


Conclusão

É importante frisar que o apagamento é uma hipóxia decorrente da variação de pressão, contudo a percepção da diminuição da pressão parcial do oxigênio torna-se mais contundente, com os exercícios frequentes na água correlacionados com exercícios anaeróbicos.

O uso diário e dosado de exercícios anaeróbicos durante a semana não apresenta contraindicação, pelo contrário, é uma excelente forma de prevenção, aos acidentes de mergulho, por que estimula o sistema nervoso a maior percepção da pressão parcial do oxigênio, pode ser realizada e devem ser usados em curto período de tempo.

Estas atividades contribuem muito para uma melhora na frequência circulatória e uma manutenção física. Auxiliam as células a criar mecanismos de adaptação para continuarem funcionando com um menor aporte de oxigênio, aumentando o desenvolvimento muscular, na metabolização do ácido lático, acelerando sua retirada do músculo.

Acelerando uma resposta motora dentro e fora da água, contribui para o aumento do reflexo motor, desenvolvem o sistema respiratório e nervoso, contribuem fisiologicamente, de forma positiva nas respostas ventilatórias e hematogasosas ao exercício.

O indivíduo apresenta aumento na interatividade dentro do trabalho e familiar, mais concentração durante as atividades, significando diminuição de acidentes de mergulho dos tipos Apagamento e Samba, por um contínuo raciocínio lógico, mesmo com concentrações de oxigênio mais baixas, e retardo nas alterações metabólicas provocadas pelo aumento das ventilações.

É natureza do homem, aventurar-se em mergulhos mais profundos, a desafiar seus limites, as leis da física sobre o corpo, contudo, a função básica da enfermagem resume-se no cuidar. Todavia o cuidar do próximo, exige uma contínua manutenção, física, mental, intelectual e a enfermagem não pode encontra-se debilitada e/ou fragilizada, pela falta de conhecimento, para realizar o mais óbvio, a prevenção.

Por isso, fazem-se necessários estudos sobre o assunto descrito e melhor divulgação sobre a fisiologia do mergulho e acidentes de mergulho. Futuras conquistas por enquanto ficam aguardando novas tecnologias e investimentos. Como descrito acima, sem necessariamente com altos custos, longo prazo ou grandes espaços.


REFERÊNCIA

BRASIL. Marinha do Brasil. Manual de medicina hiperbárica. Niterói: Marinha do Brasil, 2006.

BRUNNER, S. et al, Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 12ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

ESPANHA. P. U. Curso de apneia. Barcelona: Ed. Parramon Paidotribo. 7ª ed., 2008.

GUYTON, H. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro. Ed. Elsevier. 12ª ed., 2014.

MC ARDLE, K. et al. Fisiologia do exercício - nutrição, energia e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 7ª ed, 2014.

JEAMS, Mosby et al, Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado, PHTLS / NAEMT; tradução Renata Scavone et al. Rio de Janeiro: Elsevier 7ª ed., 2011.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Marcelo Souza da Fontoura

por Marcelo Souza da Fontoura

Graduado em Radiologia e Imagem (tecnólogo) Pós graduado em Emergencia e Urgencia em Enfermagem Atuando em Medicina Hiperbárica

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