Teologia bioética e cuidado psicoespiritual em enfermagem

À experiência individual de cada ser humano
À experiência individual de cada ser humano

Enfermagem

13/03/2013

A trajetória histórica e o cotidiano da enfermagem resumem-se no ato de cuidar como essência e como processo interativo entre o profissional e o paciente, ambos manifestando suas características especificas de seres humanos; garantindo um atendimento individualizado e integral que cuida nas dimensões biológicas, psicológicas e espirituais, aspectos interdependentes e complementares, que precisam ser entendido para ser atendido pelos profissionais.

Ao iniciar uma discussão sobre espiritualidade naturalmente o que nos vem em mente é a questão da religiosidade, compreendemos que a espiritualidade pode ou não estar vinculada a uma religião; por isso vamos pensar em duas observações criticas sobre a contribuição das religiões para com a bioética proposta por Leo Pessini, 1991.

A primeira observação se coloca nos tempos modernos em que a referência a autoridade divina já não mais oferece uma inquestionável segurança para as afirmações e normas; cresceu a consciência do homem sobre sua capacidade de interpretar e elaborar a “verdade”. A religião neste ponto ameaça a racionalidade da bioética, por apresentar uma argumentação dogmática, particular e coercitiva; mas já existem correntes de teológico-morais que defendem a identificação entre os conteúdos da fé e os conteúdos da razão moral da vida humana, criando uma perspectiva futura de maior contribuição.

A segunda observação considera a existência de pluralidade das afirmações teológicas, vivenciada pela existência de diferentes correntes e paradigmas dentro da propria igreja Católica. Fato que permite uma postura dialogante, que respeita a autonomia da razão argumentativa dos interlocutores, não impede a atualização constante das próprias posições no sentido de priorizar a saúde, a vida e dignidade humana acima de tudo.

Estas duas ponderações demonstram certa dificuldade de compor os conceitos teológicos com a bioética, mas não discute a “grande contribuição que se pode esperar da experiência religiosa e teológica para a bioética consiste na mística de amor, solidariedade e compaixão em assumir a vida. Nesse sentido, tanto as sistematizações teóricas como as praticas em favor da vida e da saúde instigam constantemente a bioética a superar uma simples ética de conveniência e a se alimentar de uma espiritualidade consistente.” Pessini.

O atendimento do homem enfermo, institucionalizado ou não, requer a atenção de diferentes aspectos: psicobiológico, psicossocial e psicoespiritural. Cada um desenha uma tendência ao pensamento e a ação configurando as possíveis necessidades que irão surgir no aspecto psicobiológico as tendências básicas são de auto conservação e o impulso sexual, no aspecto psicossocial observamos o impulso da auto – afirmação e o impulso à socialização e no aspecto psicoespiritual (foco de nossa discussão) temos o instinto ético e o instinto da transcendência como são tendências que independe de atitude religiosa e por isso cabe o estudo e a busca da significação deste aspecto para o atendimento do individuo em sua integralidade.

O filosofo Platão dizia: “Como não se devem curar os olhos sem levar em conta a cabeça ou sem levar em conta o corpo, assim não se deve querer sarar o corpo sem levar em conta a alma. Para tratar a cabeça e o corpo, é necessário começar por tratar a alma. Isso é capital”.

Se para alguns filósofos isto era orientação para a enfermagem era a missão, porque o exercício da enfermagem surgiu primeiramente vinculado aos interesses cristão de cuidar de pessoas doentes, pobres, viúvas e órfãos, neste modo de cuidar incluíam a assistência espiritual, sob os princípios doutrinários de amor e fraternidade. Florence Nightingale, criadora da enfermagem moderna, teve uma formação em instituições religiosa e acreditava que tinha uma missão divina de cuidar de enfermos.

Segundo Huf, 2002, a partir de 1950, com inicio da produção científica em enfermagem, surgiu uma nova visão, fundamentada no reconhecimento das necessidades espirituais, independente do ser humano ser ou não religioso. No entanto, até os dias atuais, a assistência espiritual em enfermagem não tem sido incluída rotineiramente no processo/prática de enfermagem.

Tal fato é observado através da dificuldade encontrada pela equipe de enfermagem em distinguir claramente as necessidades espirituais das psicológicas e a espiritualidade da religiosidade, além da insegurança e do despreparo da equipe de enfermagem em lidar com conflitos ideológicos, filosóficos - existenciais e de crença religiosa (Harrington, 1995).

O exercício da espiritualidade está ligado, basicamente, à experiência individual de cada ser humano. Considerar o estado permanente de desenvolvimento, de transformações e de ‘vir-a-ser’, a ajuda a compreender as diversas formas existentes de expressão da espiritualidade. Partindo do princípio de que a espiritualidade é constituída por todos os pensamentos, as emoções e as atitudes interpessoais do ser humano, percebe-se a diversidade de expressão das necessidades espirituais, bem como a multiplicidade de intervenções e práticas espirituais e religiosas. (Huf, 2002).

A conceituação de espiritualidade e religiosidade permite afirmar que as necessidades espirituais são mais amplas e profundas do que as necessidades religiosas. A necessidade espiritual atinge o ser humano na sua essência, onde a vontade para busca de sentido pessoal. Quando a necessidade espiritual é atendida, a pessoa vivencia a realidade com esperança e fé, mesmo na presença de sofrimento.

Para a equipe de enfermagem vivenciar a espiritualidade na sua plenitude inclui a manifestação do sagrado nas ações diárias, exercitando a fé, a esperança, a coragem, o altruísmo, a solidariedade, a empatia, o amor e aceitando a finitude humana como uma experiência que propicia sensibilizar–se como o outro e encontrar um significado para a sua própria existência.

“Não importa a pequenez da atitude ou do espaço de influencia do enfermeiro, é preciso acreditar e resgatar a prática da enfermagem na sua plenitude humana, lembrando a importância da sua real presença junto ao outro e do segurar na mão do outro... Pequenos gestos de atenção junto àquele que necessita de ajuda podem constituir grandes elementos propulsores de transformação...” (Huf, 2002)

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