Hemoterapia e o serviço de hemovigilância

Manipulação de Hemocomponente
Manipulação de Hemocomponente

Enfermagem

28/02/2013

Em 1879, no Brasil, surgiu o primeiro relato acadêmico sobre Hemoterapia. Trata-se de uma tese de doutorado apresentada a Faculdade de medicina do Rio de Janeiro, de autoria de José Vieira Marcondes, mas que foi rejeitada por ser muito polêmica, pois discutia se a melhor transfusão de sangue seria de um animal para um homem ou entre dois seres humanos (BORDIN; COVAS; JÚNIOR, 2007).

Somente na década de 1940, no Rio de Janeiro e São Paulo, a Hemoterapia brasileira começou a se caracterizar como uma especialidade médica (HAMERSCHLAK; JUNQUEIRA; ROSENBLIT, 2005).

A transfusão sanguínea consiste na transferência de sangue total ou de um hemocomponente de um indivíduo a outro.

Na prática médica atual, utiliza-se a transfusão seletiva, cuja indicação a ser observada é a necessidade específica do cliente em relação ao hemocomponente a ser prescrito (FIDLARCZYK e SARAGOSA, 2008).

A transfusão sanguínea é um processo irreversível, capaz de promover riscos ou benefícios para o receptor (HARMENING, 2006).

As transfusões sanguíneas devem ser realizadas por profissional de saúde habilitado, qualificado e conhecedor das normas de segurança transfusional. O paciente deve ter seus sinais vitais verificados e registrados antes do início do procedimento e durante o transcurso do ato transfusional e deve ser periodicamente observado para possibilitar a detecção precoce de eventuais reações adversas (RDC 153/ 2004, MS).

São consideradas reações adversas os incidentes ocorridos durante a transfusão ou em até 24 horas após a mesma, conhecidos como imediatos; ou os que ocorrem após as 24 horas, depois da transfusão realizada, conhecidos como tardios.

Os incidentes imediatos podem se apresentar como febre, cefaléia, contraturas musculares, calafrio, náuseas e vômitos, dispnéia, cianose, urticária, prurido e hipotensão.

Já os incidentes tardios podem se apresentar com o desenvolvimento de doenças infecciosas (sífilis, hepatites, retroviroses, malária, doença de chagas, entre outras).

Na década de 1990, surgiu na França, a HEMOVIGILÂNCIA, que constitui uma análise que visa a detecção prévia de reações adversas que podem ocorrer devido às transfusões.

Por ser uma técnica ainda nova, muitos países não a empregam, embora seus resultados sejam extremamente satisfatórios (FIDLARCZYK e SARAGOSA, 2008).

O Sistema de Hemovigilância teve início, no Brasil, a partir do ano de 2000, com a elaboração de uma proposta para implantação de um sistema brasileiro visando a definição de conceitos, a estruturação funcional e o circuito de informação.

A Implantação das Normas Técnicas de Hemovigilância atende a Lei Federal 10.205, de 21/ 03/ 2001, no que se refere ao disposto no Art. 3 § V _ [...] Prevenção, diagnóstico e atendimento imediato à reação adversa transfusional [...].

No Brasil não se conhece a prevalência/ incidência real dos incidentes transfusionais, sejam eles, inerentes à terapêutica, pela má indicação e uso de hemocomponentes ou devido às falhas no processo durante o ciclo do sangue (BRASIL, 2003).

Só será possível atuar na prevenção dos incidentes transfusionais quando estes forem identificados.

A Hemovigilância é um sistema organizado com o objetivo de recolher e avaliar informações sobre os efeitos indesejáveis e/ ou inesperados da utilização de hemocomponentes para prevenir seu aparecimento ou recorrência.

Para garantir que os recursos hemoterápicos estejam sendo adequadamente aplicados, diversos países instituíram os Comitês Hospitalares de Transfusão (CHT). Tratam-se de comissões de profissionais de diversas especialidades que se reúnem periodicamente para definir e avaliar a prática transfusional em determinada instituição (BORDIN; COVAS; JÚNIOR, 2007).
ATO TRANSFUSIONAL

• INDICAÇÃO:

Toda transfusão de sangue ou hemocomponentes sanguíneos deve ser prescrita por um médico e, esta prescrição deve ser registrada no prontuário médico do paciente na instituição.

É obrigatório que fique registrado no prontuário o número e a origem dos hemocomponentes transfundidos bem como a data em que a transfusão foi realizada.

• SUPERVISÃO:

As transfusões devem ser realizadas por um médico ou profissional de saúde habilitado, qualificado e conhecedor dessas normas, e só podem ser realizadas com, pelo menos, um médico presente, que possa intervir em caso de complicações.

O paciente deve ter seus sinais vitais verificados e registrados antes do início da transfusão. Os 10 primeiros minutos devem ser acompanhados. Durante o transcurso do ato transfusional o paciente deve ser periodicamente observado para possibilitar a detecção precoce de eventuais reações adversas. Se houver alguma reação adversa o médico deve ser chamado imediatamente.


HEMOCOMPONENTE _ TEMPO IDEAL PARA TRANSFUSÃO _ TEMPO MÁXIMO PARA TRANSFUSÃO _ GOTEJAMENTO

Concentrado de hemácias _ 2 horas _ 4 horas _ 10 gts/min nos 5 primeiros minutos, 20 gts/min nos próximos 10 minutos e até 50 gts/min no restante da transfusão.

Plasma fresco _ 20 a 40 minutos _ 4 horas _ 10 gts/min nos 5 primeiros minutos, 20 gts/min nos próximos 10 minutos e até 200 gts/min no restante da transfusão.

Concentrado de Plaquetas _ 30 a 60 minutos _ 4 horas _ 10 gts/min nos 5 primeiros minutos, 20 gts/min nos próximos 10 minutos e até 200 gts/min no restante da transfusão.


• OBSERVAÇÕES:

* Antes da transfusão, o Concentrado de Hemácias só pode permanecer, no máximo, 30 minutos à temperatura ambiente;

* O Plasma Fresco, deve ser transfundido, no máximo, até 6 horas após seu descongelamento;

* O Concentrado de Plaquetas deve ser administrado, no máximo, até 24 horas depois de saírem do agitador contínuo de plaquetas;

* Quando o tempo máximo da transfusão for ultrapassado, o procedimento deve ser interrompido e as bolsas descartadas;

* Deve-se usar equipos próprios para transfusão, que sejam descartáveis e livres de pirogênicos;

* Nenhum medicamento deve ser adicionado à bolsa do hemocomponente, e nem ser infundido na mesma linha venosa, à exceção da solução de cloreto de sódio a 0,9%, em casos excepcionais;

* Em caso de reação transfusional, a transfusão deve ser interrompida, deve-se chamar o médico imediatamente e, assim que possível, encaminhar à Agência Transfusional uma nova amostra do paciente + o equipo + a bolsa + ficha de notificação de reação transfusional.
REFERÊNCIAS:

BRASIL. ANVISA. Resolução RDC nº 153 de 14/06/2004. Determina o Regulamento Técnico para procedimentos hemoterápicos, incluindo coleta, processamento, testagem, armazenamento, transporte, controle de qualidade e uso humano de sangue e seus componentes obtidos do sangue venoso, do cordão umbilical, da placenta e da medula óssea. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 24/06/2004.

BRASIL. ANVISA. Manual Técnico de Hemovigilância, Brasília, 2003.

BRASIL. ANVISA. Projeto “Desenvolvimento da Hemorrede Pública da Região Norte”, Belém, 2007.

COMITÊ TRANSFUSIONAL MULTIDISCIPLINAR. Guia de condutas hemoterápicas_ Reação Transfusional. São Paulo: Hospital Sírio Libanês, 2005.

COSTA, R. Sangue: elemento de mito e cura. Hemo em Revista, a. 2, n. 5, julho/ agosto/ setembro. São Paulo, 2008.

COVAS, D.T.; LANGHI, J.D.M.; BORDIN, J.O. Hemoterapia: Fundamentos e práticas. São Paulo: Atheneu, 2007.

FERREIRA, S. S. História da Hemoterapia. Apostila de aula. Rio de Janeiro: HEMORIO, 2005.

FIDLARCZYK, D.; FERREIRA, S. S. Enfermagem em Hemoterapia. Rio de Janeiro: Medbook, 2008.

GUIMARÃES, D. T. Dicionário de Termos Médicos e de Enfermagem. São Paulo: Rideel, 2002.

HAMERNING, D. M., Técnicas Modernas em Banco de Sangue e Transfusão. 4 ed., São Paulo: Livraria e editora Revinter, LTDA, 2006.

HAMERSCHLAK, N.; JUNQUEIRA, P. C.; ROSENBLIT, J. História da Hemoterapia no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 3, julho. São Paulo, 2005.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

OLIVEIRA, L. C. O.; COZAC, A. P. C. N. C. Reações Transfusionais: diagnóstico e tratamento. Medicina, v. 36, p. 431-438, 2003.

ZAGO, M.A. et al. Hemoterapia: Fundamentos e prática. São Paulo: Atheneu, 2001.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Nayana Santana Soares

por Nayana Santana Soares

Enfermeira da Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado de Rondônia. Atualmente compõe também a equipe de Auditora Interistituscional TCE-RO/MPC/MPE. Possui graduação em Enfermagem pelo INSTITUTO DOCTUM DE EDUCAçãO E TECNOLOGIA LTDA (2006) e Título de Especialista em ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DA FAMÍLIA.

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