A Educação Física Escolar e suas batalhas diárias

A educação física tem buscado o seu espaço
A educação física tem buscado o seu espaço

Educação Física e Esporte

20/04/2014

O relato de uma professora que sabe o quer.

Através de longos anos de experiência na escola, tenho enfrentado várias batalhas no sentido de colocar a Educação Física Escolar no lugar em que ela merece. Mostrar a sua importância dentro do contexto dos objetivos que a escola propõe na educação do século XXI.

Já ouvi inúmeras vezes de outros colegas que o professor de Educação Física só brinca, passa horas ao ar livre se divertindo. O maior absurdo de todos que escutei até hoje foi quando um colega disse a seguinte frase: “o que o professor de educação física ensina é só colocar a bola em cima da linha e chutar”. Confesso que até saí de perto, porque não valia a pena discutir e me perguntei como essa pessoa pode se autodenominar como “professor”, devido a sua ignorância.

E os alunos? Para a uma boa parte deles, que chamam a disciplina de “física”, a hora que eles poderão soltar suas energias. E com aquela visão que a aula de Educação Física se resume aos meninos jogando futsal e as meninas vôlei em rodinha. Que discutem o porquê de não usar a calça jeans achando que ele sabe mais do que você. Discutir com você porque ele tem que fazer a aula, dizendo que não gosta de atletismo, por exemplo. São inúmeras as visões deturpadas a respeito da disciplina Educação Física.

Aí surgem as questões: O que é a Educação Física? A que ela se destina?

Medina (1993), em seu livro "A Educação Física cuida do corpo... E mente”, discute essa questão, e diz que durante anos a educação física tem buscado o seu espaço, e que somente seus profissionais podem mudar essa ideia que a maioria das pessoas tem sobre ela.

Pesquisando, encontrei alguns autores propondo uma resposta para essas questões, dentre eles Mauro Betti que discute amplamente o assunto em seu livro Educação Física Escolar – Ensino e pesquisa – ação, livro muito bom que recomendo a todos os profissionais da Educação Física, em especial aqueles que estão dentro das escolas. BETTI (2013) cita vários pesquisadores da Educação Física dentre eles OLIVEIRA (1983 apud BETTI, 2013, p.25) em seus questionamentos à respeito do que é Educação Física e suas conclusões a respeito:

“A Educação Física é esporte, ginástica, medicina, jogo, política ou ciência e conclui que “Educação Física é Educação [...]”. Enquanto processo individual, a Educação Física desenvolve potencialidades humanas. Enquanto fenômeno social ajuda este homem a estabelecer relações como o grupo que pertence (p.105). A ginástica, o jogo, o esporte e a dança são “instrumentos para cumprir os seus objetivos” (p.86), mas adverte sobre os cuidados necessários para desenvolver essas atividades, pois “a simples prática dessas atividades não caracteriza a existência da Educação Física”. (p.104).

Ao longo de toda a sua discussão à respeito do assunto, BETTI (2013) conclui e conceitua a Educação Física como:

“Uma disciplina que tem por finalidade propiciar aos alunos a apropriação crítica da cultura corporal de movimento, visando a formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar, produzir e transformar as formas culturais do exercício da motricidade humana: jogo, esporte, ginásticas e práticas de aptidão física, dança e atividades rítmicas/expressões, lutas/artes marciais e práticas corporais alternativas.”

A nossa própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei n°9394 de 20 de dezembro de 1996) trata especificamente a Educação Física em seu artigo 26, paragrafo 3° quando estabelece que:

“A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. [Redação dada pela Lei n° 10328, de 12.12.2001].”

Diante disso, surgem outras questões: Por que a Educação Física ainda não é vista como algo de grande importância na educação das crianças e adolescentes? Por que ainda é aquele momento que na ideia do aluno ele vai sair da sala? Que ele vai extravasar, liberar as energias e muitas vezes acha que vai fazer o que ele quer?

Em meu ponto de vista, baseado em minha experiência, observo que parte dessa culpa é dos próprios professores de Educação Física que ainda dão a bola e vão tomar um café na sala dos professores. Outros utilizam da Educação Física do tempo da ditadura, que geralmente criticam os colegas que planejam aulas, buscam novas alternativas, cobram postura dos alunos no sentindo de que a aula não é brincadeira, que a Educação Física é tão importante quanto a Língua Portuguesa, a Matemática, a Geografia, e que ele deve se empenhar da mesma maneira nas aulas.

Construir um novo paradigma é trabalhoso, requer persistência, dedicação e muito esforço para vencer várias barreiras que a Educação Física Escolar tem como: espaços inadequados, falta de material específico, preconceitos de colegas, alunos e famílias. O professor precisa ter a coragem de enfrentar tais dificuldades e fazer com que a Educação Física Escolar seja reconhecida como ela merece. Tenho tido bons resultados! Mas dá um trabalho!!!

À luta colegas!

Bibliografia:

BETTI, Mauro. Educação Física Escolar. Ensino e pesquisa-ação. – 2.ed. – Ijuí: Editora Unijí. 2013.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. DOU 23.12.1996.

MEDINA, João Paulo S. A Educação Física cuida do corpo... E “Mente”. – 8.ed – Campinas: Papirus, 1989.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Aline Aparecida da Silva Lemos

por Aline Aparecida da Silva Lemos

Formada em Educação Física pela Universidade de Santo Amaro e em Pedagogia pela Universidade Ibirapuera. Especialista em Educação Física Escolar. Professora das redes Estadual e Municipal de São Paulo na disciplina de Educação Física.

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