O fichamento como técnica de estudo e pesquisa

Organize seu material com fichas
Organize seu material com fichas

Cotidiano e Bem-estar

15/04/2013

O fichamento é tanto uma técnica de estudo como de pesquisa. Através dela o estudante/pesquisador constrói sua sementeira de ideias e informações. O fichamento é, sobretudo, um arquivo pessoal onde o estudante/pesquisador armazena as informações relevantes de suas leituras ou mesmo reflexões pessoais. Lankshear e Knobel (2008, p. 89) apontam dentre várias vantagens de um arquivo de fichas o fato de poderem ser dispostas sobre a mesa facilitando o manuseio e pesquisa.

Para o sociólogo C. Wright Mills, nesse arquivo o estudioso, como artesão intelectual, tentará juntar o que está fazendo intelectualmente e o que está experimentando como pessoa [...] Sob vários tópicos em nosso arquivo, há ideias, notas pessoais, excertos de livros, itens bibliográficos e delineamentos de projetos (MILLS, p. 212, 214-215).

Todo arquivo precisa está organizado por categorias. O objetivo do arquivo é facilitar o acesso a determinada informação. Categorizamos nossas notas quando damos nome às fichas. Colocamos uma ou mais palavras chaves que nos facilitam encontrar de forma rápida o que buscamos. No entanto, o ato de nomear/categorizar as fichas se reveste de importante atividade cognitiva, pois ao realizá-la estamos realizando esforço de compreensão do tema registrado.

O primeiro passo na tradução da experiência, seja a dos escritos de outros homens, ou de nossa própria vida, na esfera intelectual, é dar-lhe forma. Dar, simplesmente, nome a uma experiência nos convida a explicá-la: a simples tomada de nota de um livro é quase sempre um estímulo à reflexão. Ao mesmo tempo, essa nota é uma grande ajuda para compreendermos o que lemos (MILLS, p. 215).

Qualquer informação é passível de ser fichada. Podemos fichar informações que ouvimos em um congresso, em uma palestra, na televisão, rádio; ou informações obtidas de forma escrita através de jornais, revistas, livros ou suporte eletrônico; podemos fichar nossas próprias ideias. O estudante/pesquisador deve estar atento e não perder nenhuma informação importante que venha contribuir para seu objeto de estudo atual ou futuro.

Para obter o maior proveito das notas registradas em fichas alguns cuidados são importantes.
   

1. A seleção de dados relevantes
Alguns estudantes/pesquisadores à colher dados de um texto (citações, ideias), fazem sem senso crítico. Escolhem trechos que não são relevantes para a compreensão do tema em estudo ou da obra consultada. O critério de seleção deve considerar a pertinência, relevância e abrangência da citação. Quanto à abrangência deve-se cuidar para que a citação não seja demasiado extensa ou breve. Fichas com citações muito breves podem não dar conta do tema obrigando o pesquisador a recorrer à fonte; fichas com citações muito extensas atrasam e dificultam o trabalho de consulta. O bom senso do pesquisador é fundamental.

2. Categorizar de forma correta as notas
Ao categorizar/nomear suas notas o estudante/pesquisador deve cuidar para que estas representem exatamente o assunto da nota. Para tanto, deve o estudante/pesquisador ler com atenção na nota e identificar a ideia central. Logo após deve com base na ideia central determinar uma ou mais palavras chaves que sirvam de chamada geral e outras, quando necessário, que sirvam de chamada secundária. Exemplo:

“... não seria um processo tranquilo e fácil e não poderia dar-se sem resistência. A ciência verdadeira encontra obstáculos no espírito, sendo um deles o fato de ser considerada como o sinônimo de verdade”.

Referência: COELHO, Ana Maria Simões; EITERER, Carmem Lúcia. A didática na EJA: contribuições da epistemologia de Gaston Bachelard. In: SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria Amélia; GOMES, Nilma Lino (Orgs.). Diálogos na educação de jovens e adultos. 4. Ed. (Belo Horizonte: Autêntica, 2011, p. 176).

3. Registro da fonte da informação
As fontes de uma nota podem ser escritas, orais, digitais e etc. É importante o registro exato da fonte. Quando a fonte é bibliográfica (livros, revistas, jornais), devem-se seguir as normas de registro de fontes bibliográficas que inclui título da obra, autor, editora, ano de publicação, página, entre outras. Quando a obra está publicada na internet é importante registrar além de autoria, título da obra, o endereço eletrônico onde a obra está hospedada e a data de acesso. Se as notas forem digitadas em folha A4, baseadas em um único documento e com função de trabalho acadêmico, basta registrar a fonte de forma completa uma vez e após cada nota o número de página que se remete.

4. O registro correto das notas
Conforme visto anteriormente, as notas podem ser citações literais de um texto, sínteses das ideias do autor, ideias pessoais e etc. Severino orienta que:

Quando se transcreve na ficha uma citação literal, essa citação virá entre aspas, terminando com a indicação abreviada da fonte; quando a transcrição contiver apenas uma síntese das ideias da passagem citada, dispensam-se as aspas, mantendo-se a indicação da fonte; quando são transcritas ideias pessoais, não é necessário usar nem aspas nem indicações de fonte, nem sinais indicativos, pois a ausência de qualquer referência revela que são ideias elaboradas pelo próprio autor (p. 38).

Veja o exemplo de uma ficha onde há tanto comentários pessoais como citações literais do texto.

Obstáculos epistemológicos

Conceituação
Para Bachelard, obstáculos epistemológicos é resultado de uma mentalidade pré-científica, preconceituosa e supersticiosa (p. 175). Mais adiante os autores dizem: “certezas adquiridas instalam-se como dogmas e funcionam como obstáculo epistemológico impedindo que se alcance a verdade para superação do erro” (p. 176).

Referência: COELHO, Ana Maria Simões; EITERER, Carmem Lúcia. A didática na EJA: contribuições da epistemologia de Gaston Bachelard. In: SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria Amélia; GOMES, Nilma Lino (Orgs.). Diálogos na educação de jovens e adultos. 4. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

Conclusão
Estudar/pesquisar requer disciplina, esforço e método. O fichamento é uma atividade acadêmica simples, mas de suma importância para desenvolver uma leitura mais atenta de um texto, o registro de uma informação verbal ou mesmo ideias pessoais. Vimos que o processo parece simples, mas na verdade é complexo: cabe ao estudante/pesquisador selecionar os dados mais relevantes, categorizar de forma correta as notas, fazer o registro completo das notas incluindo a fonte. Quando bem feita, a coleta de dados permitirá consultas rápidas que facilitará o estudo e a pesquisa.

Referências
DUZILEK, Darci. A arte da investigação criadora. 4. Ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1983.
LANKSHEAR, Colion; KNOBEL, Michele. Pesquisa pedagógica: do projeto à implantação. Porto Alegre: Artmed, 2008.
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. 4. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 20. Ed. São Paulo: Cortez, 1996.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Eliseu Roque do Espirito Santo

por Eliseu Roque do Espirito Santo

Pedagogo (UERJ), Especialista em EAD (Pós-Graduação SENAC), Mestre e Doutor. Trabalha como professor no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro - ISERJ.

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