A complexa relação entre as cidades e os rios

Rio Tietê - São Paulo
Rio Tietê - São Paulo

Administração e Gestão

02/06/2017

As populações humanas começaram a se estabelecer em assentamentos permanentes há, aproximadamente, dez mil anos. Tal época - conhecida como Revolução Agrícola - foi marcada pelo desenvolvimento da agricultura e pela criação de animais, possibilitando que os agrupamentos humanos deixassem de lado o estilo de vida nômade e fixando seus habitats de uma maneira mais ativa, dando origem, assim, às aldeias primitivas, que antecederam as modernas cidades. Estudos arqueológicos realizados nesses sítios foram categóricos ao afirmar que as margens dos rios constituíam locais bastante vantajosos para o estabelecimento de uma aldeia.

Dentre os motivos dessa vantagem geográfica das aldeias, quando situadas próximas aos rios, destacam-se os seguintes: além de fonte natural de água doce e de alimentos para o consumo humano e animal, a construção de canais nos rios permitiu a irrigação das áreas cultivadas. À medida em que o fluxo de indivíduos nas primeiras cidades passou a ser mais intenso, os rios começaram, progressivamente, a ser usados como reservatórios de esgoto urbano. Ademais, afluentes que conectavam municípios, pequenas cidades e outras regiões também passaram a funcionar como canal de transporte popular e de mercadorias, facilitando o estabelecimento de redes comerciais.

Durante a Revolução Industrial, iniciada a partir do século XVIII, os rios apresentaram papel importante, tanto ao servir como fonte de abastecimento para as máquinas a vapor, recém introduzidas na economia, bem como na geração de energia por meio das usinas hidrelétricas, a partir do fim do século XIX. Atualmente, a água pluvial é usada em diferentes processos industriais: limpeza e resfriamento de máquinas; e em etapas intermediárias de produção, principalmente nos setores de alimentação e petroquímico.

Contudo, o fortalecimento econômico e o crescimento significativo da população urbana causaram aumento considerável da pressão ambiental sobre os rios das cidades. A poluição das águas urbanas atingiu um ponto crítico no século XX, época em que os rios passaram a receber, diariamente, toneladas de lixo, esgoto doméstico e industrial e resíduos tóxicos advindos da atividade agropecuária. Em muitas cidades grandes, os rios urbanos - imundos, malcheirosos e sem vida - se transformaram em elementos desagregadores da paisagem. A gravidade dessa situação foi tamanha que originou uma mobilização dos cidadãos no sentido de refletirem acerca de sua relação com os rios.

No final do século anterior, inúmeras cidades americanas, europeias e asiáticas iniciaram processos de recuperação ambiental e paisagística dos rios urbanos. Além da questão ecológica, outra motivação importante foi a preocupação contemporânea com a integração dos espaços nas cidades. Em inúmeros centros urbanos, as margens dos rios voltaram a ser tidas como áreas passíveis de utilização pelos cidadãos, constituindo espaços públicos dotados de qualidade ambiental e paisagística. Como exemplos de cidades que reverteram o acelerado processo de poluição dos mananciais urbanos, bem como a ocupação de suas margens, destacam-se Nova Iorque, Londres, Madri e Seul, dentre outras.

Voltando o olhar às cidades brasileiras, observamos também um alto potencial de recuperação dos rios urbanos. Contudo, para que essa grande mudança ocorra, torna-se necessário conscientizar a população sobre a importância do desenvolvimento sustentável - crescimento econômico com preservação ambiental - ressaltando ainda o valor da criação de outros espaços de convivência social nas cidades. É imprescindível o estabelecimento de um compromisso social mútuo entre o tripé social - indivíduos, empresas e indústrias - quanto ao correto manejo e descarte de esgoto e resíduos urbanos, para que a vida volte a brotar nas águas de nosso país. Por último, as prefeituras devem lançar um olhar diferenciado aos nossos rios, incluindo-os como espaços públicos de integração social dotados de elevado potencial de melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Nélio Soares Machado

por Nélio Soares Machado

Mestre em Ensino de Ciências, Especialista em Educação e Promoção de Saúde pela UnB; Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas; Bacharel em Gestão Pública; Escritor e Professor da Secretaria de Educação do DF, com experiência na área de Educação e Promoção de Saúde, com ênfase em Ecologia e Sustentabilidade. Site pessoal: www.neliobio.wix.com/sustainability Canal: www.youtube.com/neliobiosoares

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