Saberes necessários à prática educativa

Mudanças singulares na prática pedagógica
Mudanças singulares na prática pedagógica

Administração e Gestão

18/04/2014

RESUMO

A discussão em torno de métodos, concepções de aprendizagem referentes à alfabetização e letramento, a questão social da autonomia do educando, relativo às propostas de Paulo Freire em relação à alfabetização, contrabalançado com os apontamentos de Magda Soares e concretizados pela pesquisa e experimentação, de Esther Grossi, abre inúmeras indagações, reflexões e mudanças singulares na prática educativa. Analisar os estudos destes educadores, pensadores, pesquisadores para compreender e limiar a discussão em torno do processo de aquisição da leitura e escrita. A pesquisa e análise sobre o assunto, mostra que Freire não criou um método, mas apontou concepções indiscutíveis e primordiais para a prática educativa, ou seja, os saberes necessários à prática de todo educador que se responsabiliza pelo processo de alfabetização. As concepções de Freire vão além da questão da ética adentram a questão do amor: pelo processo e pelo educando num todo, inegavelmente político e social.



1. INTRODUÇÃO

A construção da autonomia do ser educando, vislumbrando o ser político e social que é, diz respeito à ética, norteadora do processo de aquisição da leitura e escrita, ou seja, alfabetização e letramento, nas escolas públicas.


Analisar a alfabetização e o letramento no âmbito da autonomia, como um elemento indissociável da construção do saber, ampliando assim a visão do processo de aquisição da cultura escrita, ou seja, a sociedade letrada. Segregar alfabetização e letramento impede o educando de exercer o seu papel político e social, segundo Magda Soares (2012), alfabetização, como forma de pensamento, processo de construção do saber e meio de conquista de poder político, vai de encontro com os apontamentos de Paulo Freire em seu livro: Pedagogia da Autonomia, o qual cujo subtítulo dá nome a este estudo.


Inicialmente se abordará as teorias de Paulo Freire, na sequência as análises da aquisição da leitura e escrita segundo Magda Soares, concluindo com o exame do processo de alfabetização e letramento de forma autônoma nas escolas públicas na visão de Esther Pillar Grossi.

2. CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA

A prática educativa como dimensão social da formação humana, atentando aos saberes necessários a mesma, leva ao reconhecimento de que o homem é um ser condicionado e não determinado. A reflexão torna o professor crítico, especificidade inerente a sua profissão, e a observação do que o ensinar exige, segundo Paulo Freire (2011):

Ensinar exige: rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, corporificação das palavras pelo exemplo, risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, reconhecimento e assunção da identidade cultural. [...] Ensinar não é transferir conhecimento, ensinar exige: consciência do inacabamento, reconhecimento de ser condicionado, respeito à autonomia do ser do educando, bom senso, humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores, apreensão da realidade, alegria e esperança, convicção de que a mudança é possível, curiosidade.


A citação transparece o pensamento de Freire frente às possibilidades do professor conduzir o educando a construir a sua autonomia, com bases sólidas reais, conhecidas, verificadas e experimentadas pelo educador. A curiosidade epistemológica incorporada pelo autor remete a especificidade humana de ensinar que salienta em sua teoria, a qual posta em prática exige do educador segurança, competência profissional e generosidade.


Alerta que o comprometimento com a prática pode intervir no mundo, de forma positiva, intensificando e desmistificando a liberdade e a autoridade, onde o educando exerce a cidadania, tomando suas decisões de forma consciente, apropriado de sua liberdade e integridade moral, construída de forma gradativa e autônoma, pois quando o educador escuta, ele corporifica uma educação ideológica, e mais uma vez leva o educando a aprender socialmente e viver a autenticidade que só a autonomia pode proporcionar.


Pleitear o belo, exercer a cidadania, lutar pela dignidade, tanto por melhores condições de trabalho, quanto por melhoria de salários, são exemplos de corporificação do ato político e social por parte do educador. A autonomia do educando é algo que deve ser construída por todos que se envolvem de alguma forma com o processo, não se resume ao professor, nem mesmo somente dentro da sala de aula, ela é resultado da interação social.
3. CONSTRUÇÃO E AQUISIÇÃO DA LEITURA E ESCRITA

Quando a criança é vista como um todo, ser social, fica claro que durante o processo é preciso respeitar as perspectivas na sua multiplicidade, bem como a pluralidade de áreas que envolve todo o processo e encontrar uma forma de articular de forma estruturada, sem fragmentar, tudo isto respeitando os condicionantes, sendo assim o contexto do educando.


Segundo Magda Soares 2012, a postura política em relação ao significado da alfabetização afeta, o processo de aprender a ler e a escrever, a qual fica explícita quando se compara o trabalho desenvolvido em torno da alfabetização, seguindo a linha de Paulo Freire, ”para quem a alfabetização é um processo de conscientização e uma forma de ação política” Magda Soares 2012.


A sociedade constantemente em evolução, bem como em transformação no seu amplo significado exige da educação um homem, um cidadão, um ser socialmente desenvolvido e capacitado para viver no sistema letrado, onde não domine apenas as tecnologias, mas que saibam fazer uso delas.


O educador precisa urgentemente e necessariamente compreender, as facetas da alfabetização: conceitos- natureza do processo- condicionantes, observar e respeitar o processo como algo que não pode ser interrompido, que é levado para fora da sala de aula, que comprovado pelo aluno em sociedade, exerce a sua cidadania.


A busca de um método, não é mais uma afirmação e sim uma pergunta, como diz Magda Soares, houve mudanças nos paradigmas sociais e educacionais, assim pode-se dizer do educando com dificuldades de aprendizagem que as facetas da alfabetização devem ser constantemente observadas, estímulos para a construção de hipóteses de escrita.


“[...] propostas voltadas para o objetivo de conjugar as ideias das crianças com os requisitos do ensino, entendidos como o imperativo do professor para fazer as crianças avançarem” Tebererosky, 1989, p.13 apud Soares, 2012.


Métodos são eficazes, os quais nosso país busca veementemente, quando a ele é impingido, concomitantemente objetivos, capazes de definir conceitos, habilidades inerentes a pessoa alfabetizada que constrói a sua cidadania em uma perspectiva tanto psicológica, linguística e principalmente político e social. A alfabetização e o letramento é um meio de democratização sobre vários aspectos, possibilita ao homem desde criança a fase adulta, a reflexão sobre seu papel no mundo, suas responsabilidades que dispõe direitos, tudo isso aliado ao respeito, sobretudo ao desenvolvimento cognitivo e epistemológico genético segundo pensamento de Piaget, é ético respeitar as fases cognitivas de cada educando, exercício da cidadania desde o início do processo de alfabetização.
A capacidade de ler o mundo, as entrelinhas, as subjeções são resultados do letramento, métodos respeitosos do saber do educando, é dito métodos e não um método, pois é sabido que os condicionantes levam aos educadores a adaptarem métodos em prol do respeito à autonomia durante o processo de aquisição da leitura e escrita, que estes não se aplicam ao pé da letra, ou da mesma forma que é aplicado em outras comunidades, a questão cultural transfere valores ao cidadão que não podem em hipótese alguma deixar de lado ou simplesmente banalizado, descartado.


O educando, repetindo, por ser considerado importante, é um ser social na sua totalidade, carrega com ele a cultura e concepções tanto políticas, religiosas, quanto da língua escrita e falada. Ele precisa compreender o seu papel na sociedade e a relação que a leitura e a escrita têm com as decisões políticos sociais.


Ferraz, 2013 sobre as concepções de Montessori, afirma "Ela acreditava que a educação é uma conquista da criança, pois percebeu que já nascemos com a capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições", diante disto o educador tem um papel ainda mais relevante do que aparentemente levar o educando a alfabetizar-se, mas priorizar condições para que ocorra o letramento permeado pela alfabetização na sua forma de conquista social e como afirma Soares, 2012 “Alfabetização, como forma de pensamento, processo de construção do saber e meio de conquista de poder político”.



4. A AUTONOMIA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NAS ESCOLAS PÚBLICAS


Quando as políticas públicas e os responsáveis pela educação disponibilizam recursos, tanto humanos quanto financeiro em prol da construção de uma sociedade letrada, ampliam os horizontes, capazes de nortear a prática pedagógica de forma concreta, diminuindo a segregação sócio- econômica.


Para haver autonomia no processo de alfabetização e letramento dentro das escolas públicas, que são maioria no país, é necessário haver um estudo aprofundado principalmente a cerca das múltiplas facetas da alfabetização, reconhecer os níveis de alfabetização que cada criança se encontra, é preciso disponibilidade de tempo, bem como um preparo pedagógico e social. “Uma rede de hipóteses explica o processo de alfabetização” Grossi, 1990. Toda a sociedade deve estar engajada no objetivo da construção da escrita e leitura sem exceções, a percepção de que o processo demanda tempo e preparo sistematizado, gera um clima de respeito e segurança.

A busca por um método mais apropriado a concretização do objetivo de construir uma sociedade letrada, capaz de exercer seu papel político e social, que deve ser primordial na educação pública, leva a estudos direcionados à prática pedagógica no cerne, dentro das salas de aula, com crianças reais, educadores ativos e cientes dos condicionantes da comunidade em que atuam, estes desestabilizam e desmistificam os paradigmas de métodos ultrapassados que, em alguns casos impossíveis de se aplicar naquele meio propriamente dito. “Não há nada pronto no conhecimento há sempre o que melhorar e aprimorar, poderá chegar um momento que talvez, provem que há algo errado com o método" Grossi.


Pinheiro, 2013:
Um professor, hoje, para Alfabetizar de verdade, especialmente em Escolas Públicas, precisa rever muitos conceitos, revolucionar sua prática e apropriar-se de muitas elaborações científicas recentes, para tal, ele merece receber um acréscimo amplo em sua formação. O professor deve ser valorizado como centro de estratégias de ensino. O professor não recebe uma receita pronta para reproduzir, mas, sim, ele se apropria de uma apoiada teoria, e isto implica em ações presenciais de formações, bem como são imprescindíveis muitas estratégias de vinculação da prática com a teoria, para otimizar as possibilidades de profissionalização dos professores regentes de classe, condições necessárias para conseguir alfabetizar.



Ideias pós- construtivistas fundamentam as hipóteses, respeitando as estruturas do pensamento, de acordo com os níveis psicogenéticos exigidos pela epistemologia, levando o educando a autonomia propriamente dita.


O alfabetizador, conhecedor da condição da alfabetização como uma questão popular, atenta aos níveis de alfabetização como nortes pra a sua prática, compreende que “a leitura e a escrita são duas ações inversas” Grossi, 1990.
Conhecer os níveis psicogenéticos: pré-silábico, silábico e alfabético de cada aluno, é um ponto de partida para o planejamento de uma prática que atenda o educando na individualidade e não individualmente, a interação com outras crianças em diferentes níveis propicia a troca de experiências e a discussão de hipóteses na busca da construção correta possibilita inúmeras possibilidades de abrangência mais direta ao objeto de estudo, mas é pertinente saber que o educando pode estar em níveis diferentes quando se trata de unidades linguísticas diferentes, ou seja, “ a combinatória das performances dos alunos nestes eixos por onde se dá a alfabetização- a escrita, a leitura, a associação entre as letras e sons e unidades linguísticas- é o que caracteriza o que passamos a chamar de zona proximal nesta aprendizagem” Grossi,1990, portanto a aquisição da leitura e da escrita não se dá ao mesmo tempo, de forma simultânea, assim fica respeitado a autonomia do educando em seu processo de construção e aquisição da leitura e escrita.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção das hipóteses de escrita e leitura abrange uma gama de processos cognitivos, que comumente a aos agentes condicionantes chega a ermo, ou seja, a alfabetização letrada, é indiscutível e inevitável que o educador se indague quanto a natureza do processo de como a criança realmente se apropria da língua escrita, mas também atentar ao processo de desenvolvimento da língua, acreditamos que este último tem muito a dizer, mensura ato de forma científica com um toque de empirismo, de que adiantaria reconhecer os níveis de alfabetização, se não for devidamente compreendida no seu princípio, o como chegara a tal, como e porque chegou a tais hipóteses, quais foram os condicionantes, por que crianças se encontram no mesmo estágio cognitivo, epistemologicamente aptos, não constroem as mesmas hipóteses estando em igual situação.


As políticas educacionais precisam estar atentas a estas discrepâncias sem excluir, mas proporcionando aberturas para que a escola tenha a mesma autonomia pela qual tem lutado em proporcionar ao seu educando, para expor sua diversidade, que não se restringi a dita cultural, que se enquadra nos Parâmetros Curriculares Nacionais, não estamos falando de inclusão no sentido apregoado nos dias de hoje, mas da inclusão alicerçada no direito do saber, no direito que o professor tem em exprimir suas angústias, buscar respostas e não apenas considerar as concepções de Paulo Freire a cerca da ética, da boniteza, não apenas sintetizada, mas no seu mais amplo significado.


Espera-se que este estudo a cerca da autonomia em relação a alfabetização e o letramento, abra uma nova gama de experiências e indagações tendo como objeto de estudo centralizado no processo de alfabetização e letramento integrado ao ser social que o educando é de fato.


O educando quando indagado, desafiado, dá respostas de acordo com sua prontidão, os recursos utilizados pelo educador, embasado em métodos apropriados à situação podem ou não ampliar os conceitos, as concepções que a criança têm a cerca daquele objeto de estudo, neste caso, a leitura e a escrita, é fundamental investigar desde o primeiro momento, neste ponto de vista. O respeito pelo educando torna-se o primeiro requisito para se planejar e conectar métodos ao procedimento pedagógico, os quais devem elucidar a prática por parte do educando, pois é através dela que se chega ao conhecimento concreto do abstrato.


A mente humana possui conhecimentos intangíveis, mas que precisam de estímulos para consolidar o processo de leitura e escrita, é inconcebível a prática sem respeito a autonomia, sem o respeito gnóstico a sua individualidade. A criança como ser político e social absorve, transforma informações colhidas de experiências proativas do meio, o qual é chamado de condicionante e não determinante. Pensar a alfabetização letrada é pensar o educando.

REFERÊNCIAS


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 43. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

GROSSI, Esther Pillar. Didática da Alfabetização. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 1 v.

______. Didática da Alfabetização. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 2 v.

SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 6. Ed. São Paulo: Contexto, 2012.

FERRARI, Marcio. Maria Montessori , a médica que valorizou o aluno. Disponível em: <http://revistanovaescola.abril.com.br/história/pratica-pedagogica/medica-valorizou-aluno-323141.shtml>. Aceso em: 25 mai. de 2013.

GEEMPA. Métodos existentes de alfabetização. Disponível em: <https://sites.google.com/site/metodosdealfabetizacao/metodos-existentes-de-alfabetizacao>. Acesso em: 20 mai. de 2013.

ELANE, Conceição; ROCHA, Maria de Lourdes da; OLIVEIRA, Janieri de Sousa. AS FASES
DO DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA. 5 f. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/soletras/15sup/As%20fases%20do%20desenvolvimento%20da%20linguagem%20escrita%20-%20JANIERI.pdf >. Acesso em : 18 mai. de 2013.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Alessandra Dettmann

por Alessandra Dettmann

Formação em curso Normal ( antigo Magistério),Professor Alfabetizador, participante do PNAIC ( Pacto Nacional pela alfabetização), graduando em Licenciatura em História.

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