ADEUS, ADONIS: Lord BYRON e SHELLEY Texto Teatral

Percy Bysshe Shelley, Mary Shelley e Lord Byron.
Percy Bysshe Shelley, Mary Shelley e Lord Byron.

Administração e Gestão

31/03/2014

Parte 1: Inglaterra

Ato 1


NOVEMBRO, 1815. Inglaterra


CENA: Byron está sentado. Á sua frente uma mesa cheia de papéis. Ele olha com desprezo para as folhas. Olha para cima. Anne, sua esposa, entra em cena, andando devagar. Está grávida. Ela traz nas mãos uma garrafa de gym, que coloca sobre a mesa com rudeza, fazendo com que Byron saia de seus devaneios.

Byron (fazendo um sinal de agradecimento): Que bela surpresa! Obrigado!

Anne (esboçando um leve sorriso, falando pausadamente): Trago uma noticia para ti...

Byron (Abrindo a garrafa de gym e enchendo seu copo): E que noticia seria ? Os credores todos se suicidaram, pulando nas águas do Tamisa?
 
Anne: Augusta acabou de chegar para ficar uns tempos conosco.

Byron
(disfarçando seu terror, levantando-se lentamente da cadeira e sorvendo um gole de gym): Que bom! Imagino que você a convidou para vir aqui porque não suportava mais minha presença. Mas nem eu consigo me suportar! (rindo): Agora você terá uma companhia melhor... Vocês duas podem conversar bastante! Eu tenho mais o que fazer...

Anne: Ora, que palavras são essas? Acaso queres que eu diga a Augusta que não queres vê-la?

Byron (olha para Anne com um olhar selvagem , numa fúria controlada): Não coloque palavras em minha boca! (tira o relógio do bolso, falando por entre dentes) – O que quero dizer é que... não tenho sido boa companhia para você, estou num estado lastimável, você sabe. Por isso, acho mais saudável você e Augusta se conhecerem melhor.

Anne: Estás com medo de vê-la, não está? Não queres que ela te veja neste estado ? Pois vou pedir a ela para vir te ver imediatamente!

(Byron chuta a cadeira, derrubando-a. Faz um gesto com as mãos, como que mandando-a embora. Anne sai, com passos firmes, raivosamente.)

Byron (em voz alta, pegando a garrafa e brindando á memória do Louco Jack): Louco Jack, que herança você nos deixou!!!

(Entra Augusta)

Byron (exclamando): Augusta!

Augusta (sorrindo, um pouco assustada com a aparência de Byron): George! Há quanto tempo!

(Byron corre até ela, para lhe dar um abraço, quando Anne surge de repente.)

Anne (dizendo para Augusta): É ai onde ele tem se escondido. Vou deixa-los a sós. Precisam colocar os assuntos em dia.

(Anne sai, olhando para Byron. Augusta se senta)

Byron (arregalando os olhos, batendo palmas): Não se assuste, eu ainda não enlouqueci!

(Augusta ri e Byron fica a olhar para ela, pensativo)

Augusta: Que foi? Pareces muito distante hoje...

(Byron se aproxima para beija-la, mas Augusta se esquiva. Ela se levanta, ao que Byron faz um gesto de descrença e impaciência.)


Byron (abrindo os braços): Ora, não estou te reconhecendo? Acaso eu estou num estado tão lastimável assim?

Augusta (em tom firme, decidida): Não foi para isso que eu vim...

Byron (friamente, pega a cadeira caída e se senta nela. Convida Augusta a se sentar novamente, com um gesto): Ah, entendo! (pausa, falando com amargura): Me diga, doce ninfa dos bosques romanos, acaso sentiste saudades de mim?

Augusta
(com firmeza): Sabes que sim! Acaso duvidas de mim? Byron: Você não soube me amar... Me empurrou em direção a um casamento sem sentido...

Augusta (resignada, começa a se abanar com seu leque): Se pensas assim, quem sou eu para tirar esta ideia de tua cabeça?

Byron (rindo prolongadamente): Não te esquives, Augusta, não tens que fingir que é bondosa e compreensiva o tempo todo. Eu conheço você, mais do que imagina. Ambos somos filhos do louco Jack, ou te esqueceste?

Augusta (fazendo gestos intensos, ansiosamente): Ora, o que querias que eu fizesse? Era a coisa mais lógica a se fazer. Eu quis te proteger, me proteger e proteger Medora, também! Acaso esqueceu que ela é... (levantando-se e próxima a Byron, olhando friamente para ele): Que Medora é sua filha?

Byron: Você não aguentou o peso de me amar! (levantando-se energicamente, falando em voz baixa): – Coração e alma, um dos dois há de arder!

(Silêncio. Augusta começa a chorar, suavemente)

Byron (arrependido, colocando as mãos no ombro de Augusta com delicadeza): Não chore, Augusta, você é a mais forte de nós dois!

Augusta: Estou aqui para te ajudar, George. Mas se minha presença te tortura tanto assim, é melhor que eu me vá, então!

Byron
(segurando as mãos de Augusta): Não, por favor, pode ficar!

Augusta
: Não sei mais o que devo fazer.

Byron (dando um passo para trás, falando com amargura): Se você partir agora, cometerei uma loucura, eu juro... Por favor, fique.

Byron (com as mãos no coração, como se estivesse jurando): Não se preocupe, se não queres me dar um beijo, não vou importunar-te novamente.

(Silêncio Mortal. Augusta caminha lentamente, e antes de sair do palco, ela se volta para Byron e diz, com melancolia): Não há lugar no mundo para amores impossíveis. Nem para dois amantes, como nós.

(LUZES SE APAGAM)



Ato 2

(Byron está sentado lendo jornal. Augusta passa por ele. Byron segura o braço dela):

Byron (segurando o braço de Augusta, com expressão de angustia): Não aguento mais fingir que te esqueci...

Augusta (olhando firmemente para ele): Mas corremos um risco inimaginável! A essa altura as pessoas devem estar comentando.

Byron (abrindo os braços e correndo de uma lado para o outro, exasperado): Você parece a Anne falando! Sempre preocupadas com os outros. Eu estou acima dos outros! (subindo numa cadeira): Sou como Alexandre, o Grande, destinado a viver intensamente num só minuto toda uma vida.

(Augusta ri. Byron desce da cadeira e corre até ela, querendo abraça-la, mas ela se esquiva. Byron fica irritado):

Augusta ( contrariada com tanta irresponsabilidade ): Mas isso não justifica nada! Você não entende?

Byron (aproximando-se de Augusta, fazendo gestos rápidos e enérgicos com as mãos): Eu sei que você me ama! Que você me deseja! Pois sei que ninguém jamais a amou, ou amará, como eu! (suavemente, como num lamento): Tudo o que fiz, fiz para despertar tua atenção para o fato de que é inútil resistir a mim. Faça o que o seu coração pede: me ame com intensidade!

Augusta (com tristeza): Não, Byron, eu tenho escolha. Não podemos, isso já durou tempo demais! No começo, eu pensei que...

Byron: Você fala daquela noite, como se tivesse sido um erro! Então, acho que você deveria ter me dado um tapa, em vez de ter alimentado ainda mais o meu desejo.

Augusta (com fúria, avançando em direção a ele): Sim, eu errei! Deveria ter te dado um tapa!

Byron
(selvagemente em pé, em frente a ela): Ainda está em tempo! Ou és fraca demais, ou bondosa demais para negar? Pois no fundo, você é apenas como eu, uma menininha órfã, assustada! O louco Jack batia muito em você?

(Augusta lhe dá 4 tapas, enquanto Byron ri. Ela deixa-se cair no chão, sentada, inerte) Byron (falando consigo mesmo, feliz): Confesse, Augusta!Ou vais negar que não me deseja, que não pensa em mim, toda vez que me vê? Que não arde de desejos em me ter em seus braços?

(Byron fica sério e estende a mão para levanta-la, mas ela se recusa. Ela olha para ele, que está ajoelhado ao seu lado. Byron tira um lenço do bolso e o estende a Augusta, que toma o lenço e começa a limpar as lágrimas.)

Augusta: Eu vim aqui com o firme propósito de te ajudar, George, não para ser tua amante.

Byron: Não entendo o motivo de insistires nisto . O que aconteceu para teres mudado de ideia?

Augusta (se levantando subitamente, ajeitando o vestido, falando com seriedade): Este não é o momento certo, apenas isto! Lembra-se da última vez? Fiquei grávida!

Byron (ficando sério): Sinto muito, eu nem poderia imaginar que isso pudesse acontecer. Creio que nisso você está certa; mas para mim, nunca houve um momento certo... tudo o que sinto é um Destino Desdobrado, escorrendo para longe de mim.

Augusta (suavemente falando): Abra-se comigo, George, sempre fomos sinceros um com o outro. Estais revivendo, como tantos outros, o mito de Werther.... mas não penses que precisas acabar como ele, com um tiro na cabeça!

Byron: De certo modo estais certa, Augusta. Todos nós, poetas, desejamos acabar como Werther, de um modo ou de outro. Mas não falo de destruição física...

Augusta ( tocando o ombro de Byron, nuym gesto amigo ): Estou aqui, George, mas não me peças o impossível.

Byron ( com a voz embargada, lutando contra as emoções ): Sinto que meu tempo está se esgotando, e não sei o que fazer. Meu casamento desapareceu, todas estas dividas, difamações...

Augusta: Me perdoe, Byron, você me tirou do sério.

Byron: Sim, eu sei, eu tenho esse dom de tirar as pessoas do sério. É a maldição do louco Jack, você sabe. Mas é você quem tem que me perdoar!

Augusta: Está tudo bem, agora, descanse um pouco...

Byron ( sorrindo ): Quanto tempo mais você vai conseguir me resistir, Goose?

Augusta: Não sei, mas eu prometi a mim mesma que vou resistir!

Byron:
Eu respeito muito sua decisão, mas quero deixar bem claro que estarei aqui, todas as noites, a te esperar!

( Augusta sorri, tristemente. Ela sai de cena )




ATO 3


CONSEQUÊNCIAS - DEZEMBRO 1815



(todos sentados à mesa. Tomando chá e torradas. Anne, Augusta e Byron)

Anne:
Mas é verdade, meu caro, uma hora ou outra você vai sentir necessidade de encontrar uma religião! (Byron olha distraidamente para o nada. Sorri fracamente. Anne olha para Augusta e fala suavemente): Por favor, Augusta, me ajude com o desmiolado de seu irmão! Pois ele pensa que vai viver eternamente! Ele pode dizer que isso é irrelevante, mas uma hora ou outra...

Augusta (tentando parecer séria): Você deveria pensar mais a respeito disso, George, afinal, não há garantias nem sobreviventes neste mundo.

Byron: Como sempre digo, arte é minha religião! Não que eu seja ateu, pois é uma utopia nos dias de hoje. Eu decidi por romper com tudo isto: o conservadorismo e a religião. O ateísmo anda tão em voga na Europa...

Anne (num gesto de descrença, balançando a cabeça): Tudo bem, mas precisa alardear aos quatro ventos que você não acredita em nada? O que os outros vão falar?

Byron: Ora, que me importa o que os outros pensem? Contanto que leiam meus livros, está tudo bem! Eu me reservo o direito de ser confundido com os personagens de meus livros? Anne (gesticulando com as mãos): Mas você é uma figura publica, Byron! Se ao menos você se contesse...

Byron: Olha, é verdade que muitas vezes me excedo, mas lembre-se de uma coisa: sou como o fogo. Ninguém pode me compreender, a menos que seja como o fogo, também.

(Byron toca de leve os pés nos pés de Augusta, debaixo da mesa, ao que ela fica ruborizada)


Augusta
(sorvendo um gole de chá e olhando para Anne): Não é fácil ser uma figura pública, realmente! Muitas vezes ouvi meu marido dizer isso.

Anne: É por isso, Augusta, que o que quero dizer a Byron é que tome mais cuidado com o que fala! Sabe o que mais me chateia? As pessoas virem me perguntar “ é verdade que seu marido disse isso, ou aquilo?”

Byron (mordaz): Olha, Anne, até entendo seu constrangimento. Mas você deveria ter pensado nisso antes de se casar comigo.

Anne (levando as mãos ao peito, eufórica): Ora, que estais a falar? Foi você quem insistiu, implorou!

Byron (beijando educadamente as mãos de Anne, rindo): Se eu soubesse onde estava com a cabeça...

Augusta (segurando as mão de Anne, num sorriso): Creio que esta semana a criança nascera. Mas dois dias, e então saberemos se é um menino ou menina.

Anne:
Se for menina, se chamará Augusta, eu lhe prometo!

(As duas saem de cena. Luzes se apagam)

(Anne está sentada na cadeira, segurando a pequena Ada no colo. Entra Byron, silenciosamente. Fica olhando para a pequena Ada, mas não se atreve a carrega-la)

Byron: Como vai nossa filha?

Anne: Finalmente resolveste falar? Bem, ela está bem, é forte e saudável! Mas o mesmo não se pode dizer sobre nosso casamento, não é, Byron?

Byron: E a culpa é de quem, Anne? Só minha? Eu lamento termos chegado a este ponto!

Anne: Lembra-se do que você me disse, naquela noite? “ Ficarei feliz em cumprir a minha parte nesta peça “! A principio, pensei que estavas brincando, mas hoje sei...

Byron: E sabes do quê? Poderia me contar?

Anne: Eu sempre soube que nunca te deixarias amar! Teu coração é mais selvagem do que eu sequer poderia imaginar! Fui uma tola em ter acreditado que poderia te abrandar o gênio terrível!

Byron: Todos nós erramos, minha cara! Como uma vez eu disse a Caroline Lambs, “ todos somos orgulhosos, no fundo “; mas admiti-lo, quem o faria?

Anne: Caroline Lambs, aquela louca. Com ela, sim, que você deveria ter se casado! E agora, somos prisioneiros de um conto solitário, pois não é isso que nos restou: solidão?

Byron: Eu sempre estive só, minha cara, eu nunca me enganei, ou quis enganar ninguém!. – Ninguém nunca poderia me conhecer!

Anne (colocando a criança no berço, delicadamente, e se virando para Byron, cheia de ira): Ora, sejamos sinceros, não é isso que Augusta parece sentir com relação a você, Byron!

Byron: O que queres dizer com isto, Anne? Vamos, me diga!

Anne: Para alguém que se diz melancólico e solitário, nunca escondeste que somente uma pessoa neste mundo tem a chave do teu coração: Augusta! Passaste mais tempo com ela do que com tua própria esposa!

Byron (rindo incrédulo): Ora, não me digas tamanho absurdo! Estais a sentir ciúmes de Augusta? Por favor, Anne, se componha.

Anne: Eu pedi a ajuda dela para te ajudar, pois já não havia possibilidades de conversar contigo! Estavas fora de si. Mas agora vejo que nunca estiveste em teu juízo perfeito. Tremo só de imaginar as dimensões de tua loucura.

Byron: Augusta me ajudou, sim! E por favor, mudemos de assunto! Preciso lhe falar algo urgente!

Anne (preocupado): O que aconteceu, desta vez?

Byron (falando pausadamente): Devido a todas e tais circunstâncias que ocorreram... eu reconheço que tenho estado ausente, durante todos estes meses, devido a nossa atual situação financeira, bem, eu acho que é mais saudável, para você e a criança, passarem um tempo na casa de seus pais, Anne! – eu falei, calmamente e pausadamente.

(Anne olha para Byron, surpresa. Haviam chegado ao fim de um pesadelo. Ela teve de se sentar. Byron olha para o teto, constrangido, preocupado) Byron: Acredite, não foi fácil tomar esta decisão, mas é o melhor a fazer!

Anne: Você sempre finge estar no controle, mas no fundo você está totalmente perdido, não é? Sempre esteve, esta é a verdade!

Byron:
Sim, é isso! Estou apenas sobrevivendo, e tentando cumprir com minhas obrigações! Mas você só sabe me atormentar? (energicamente): Eu cuido de tudo, estando certo ou não! E você me deve respeitar!!!

Anne: Eu não conheço mais você, e duvido que algum dia eu tenha conhecido você, realmente. Na verdade, acho que somente uma pessoa neste mundo realmente te conhece, perfeitamente bem: Augusta!

Byron: De novo vais tocar neste assunto! Estais louca? Ou querendo me enlouquecer com tuas acusações?

Anne:
Toda vez que ela aparece, só falta você se jogar aos pés dela! Já ouvi muitos comentários a este respeito...

Byron (alterando-se totalmente, andando de um lado para o outro, agitado): Aqueles malditos desgraçados, liderados pela miserável Caroline... (Byron vai até a cadeira e ergue Anne pelos braços, sacudindo-a): Afinal, de que lado você está?

Anne (se soltando de Byron): Como poderia estar do lado de alguém que não se apoia, que nem sequer sabe se controlar, quando conversa com sua esposa?

(Byron leva as mãos à cabeça, e vai saindo de cena, quando Anne bate palmas e lhe dirige um ultimo aviso)

Anne: Penso que você e Werther são a mesma pessoa, cujo maior desejo eram possuírem algo que não lhes pertencia...

Byron
(saindo de cena): Adeus! Boa noite !

(Luzes se apagam)



ATO 4:

Abril 1816 - ADIEU, AUGUSTA. O DESTINO DESDOBRADO NAS SOMBRAS DA NOITE


Augusta (tristemente falando): Então, é isso mesmo, meu amado irmão? Vais partir? Vais me deixar?

Byron (num misto de desespero e esperança): Venha comigo! Ás vezes fico a pensar, como foi extasiante enquanto durou, todos estes momentos que passamos juntos! A certeza do teu amor! Como foi doloroso quando te recusaste a me amar, do modo como você me amava!

Augusta (zangada, dando as costas para ele): Mas foi necessário! Será que nunca vai me perdoar? (Voltando-se para Byron, num sinal de cansaço, tristemente falando): Bem sabes, meu amado, que não posso, jamais poderia! Como eu gostaria que tudo fosse diferente para nós.

Byron (abrindo os braços): Sim, eu sei! Este pais... esta sociedade que uma vez havia me aplaudido, agora vira as costas para mim! (Augusta se senta na cadeira, distante): O que foi que aconteceu, Augusta, entre você e Anne?

Augusta: Bem, eu fiquei sabendo que ela anda dizendo que sou culpada pela separação de vocês, pois em vez de te ajudar, eu acabei incentivando você a se afastar dela. Que eu te apoiei, em vez de apoiá-la. Ela, que se considerava minha amiga... Eu fui conversar com ela, mas ela me desprezou, dizendo “ irmã de Byron, maluca é “...

Byron
(dando um murro na mesa): Aquela maldita! Ela não tinha o direito ter agido assim com você! Não se preocupe, escreverei a ela, exigindo que te respeite! (Byron olha para Augusta, que está visivelmente arrasada): Lamento as coisas que te disse, nos momentos mais infelizes! (se aproximando de Augusta, colocando a cabeça no seu colo e fechando os olhos): Por favor, me perdoe! Afinal, você é minha irmã mais velha e eu tenho me comportado muito mal...

Augusta: Você é meu amado! Tudo está esquecido e perdoado!

Byron
: Se ao menos tivéssemos mais tempo! Mas tudo que sinto é que é o fim de uma estação! É a loucura! Toda vez que te via, abrasava-me os teus olhos ardentes! (olhando febrilmente para ela): Meu Deus, teus olhos! Eles exercem sobre mim, minha doce ninfa, um sentimento tão intenso, que penso que vou enlouquecer! Estou destinado a percorrer este mundo, a ter amantes...mas o que alguém pode significar para mim, depois de ti?

(Silêncio. Luzes se apagam)




Parte 2 - Itália



ATO 5


ITÁLIA, 1819


(Cena: Byron está mortalmente doente, vitimado pela sífilis. Em cena estão o poeta inglês Shelley, amigo de Byron, e sua jovem mulher, Mary. Shelley atravessa um grave periodo de depressão, pois sua filha Clara faleceu em 1818 e seu filho Willian acaba de falecer em 1819. Mary está gravida novamente.)


Mary (entristecida e preocupada): Aonde vais, Shelley? Faz tempo que você trocou o dia pela noite...

Shelley: Estáva preparando um artigo para nosso jornal, " O Liberal ", e preciso consultar Byron, mas ele não aparece faz uns dois dias. Eu não tive animo de ir vê-lo. Como você está? (passando as mãos sobre o ventre de Mary)

Mary (sorrindo melancolicamente): Vamos indo bem... Eu ouvi alguns comentários sobre Byron ter caido de cama outra vez, vitimado pela sifilis. Sabe como ele é, amante dos excessos...

Shelley (pegando o jornal e olhando sem vontade alguma): Toda vez que chega Abril, que é a data em que Byron fugiu da Inglaterra, ele perde o controle, Mary...e já estamos em Setembro.

Mary (tentando animar Shelley): Tem certeza de que não quer ir ao teatro, ou á opera esta noite? Vamos! Você anda muito distante... (contrariada): Talvez não lhe faça bem ir ver Byron, que está adoentado.

Shelley (com a voz cansada): Eu não entendo por que é que você fica tão irritada quando o assunto se refere a Byron. Eu o considero um irmão e um colega de profissão. Não sou seu discípulo, como você pensa (com agitação): Não sou sua sombra!

Mary (zangada): Basta observar os fatos, querido, é o que ele é: não passa de uma farsa, de um homem que perdeu toda a noção de dignidade. E eu sei que você tem muito mais talento que ele, e quem é que sempre leva os louros da glória? (com ironia): O Grande Lord Byron.Deve ter adoecido de sífilis novamente, como muitos comentam. Shelley (com pesar , pegando seu casaco que estava pendurado): Amo você, Mary, e se sou alguma coisa hoje, foi graças ao seu apoio. Você me fez ver que existe uma nova maneira de se ver o mundo, e o que está além do mundo. Mas entenda que Byron não teve a mesma sorte, mas no que diz respeito à sua vida sexual, isto não me interessa. Ele pode ser absurdamente imaturo, mas é um expoente de nosso tempo. Lembra-se do que Goethe escreveu? Pois é o que eu penso.

Mary (lamentando-se): Sinto muito, Shelley, mas eu tenho medo dele. Já olhou dentro dos olhos dele? Parece que não tem alma.

Shelley (dando um beijo em Mary): Sua memória é curta, querida, ou já esqueceu que graças à ideia de Byron de realizar um concurso de contos, naquela noite, na Suíça, você escreveu seu romance " O PROMETEU MODERNO"?

(Shelley sai. Mary sai de cena. Byron aparece de roupão, sentado na cadeira. Com as mão apoiadas na mesa, segura sua cabeça. Shelley entra)

Shelley (com entusiasmo): Acaso esqueceste de nosso artigo, sobre os Carbonários? Que tipo de revolucionário é você? Pois de quem foi a idéia do artigo?

(Byron permanece em silêncio. Shelley bate de leve nas costas de Byron, num gesto amigo)

Byron (sussurrando): Shelley, Shelley...Saiste finalmente de tua cela solitária?

Shelley: Vamos lá, Byron, não me diga que... (Byron acena positivamente com a cabeça. Shelley continua a falar): Com quantas mulheres você saiu neste último mês?

Byron
(olhando para Shelley, inerte,sorrindo fracamente): 216... Nos últimos seis meses...

Shelley (horrorizado): Byron! Eu não acredito! Como você consegue? Não se sente miserável?

Byron (sorrindo de leve): É isso que admiro em você, Shelley, essa sua capacidade de argumentação. Com 16 anos conseguiu a proeza de ser expulso da universidade em Oxford por causa daquele manifesto, como era mesmo o nome?

Shelley: " Sobre A Necessidade do Ateísmo ". Foi este um dos motivos pelo qual meu pai me deserdou... mas que diferença isto faz, agora? Uma hora ou outra um homem tem que vencer seus próprios demônios, não é ? (amargurado e sombrio, levantando-se): Tenho lutado para acreditar, Byron, mas confesso que estou no escuro...

Byron: Sei que tens lutado bravamente, Shelley, e agradeço te por teres vindo me dar um apoio! (pausa): Considero o ateísmo uma moda nos dias de hoje, Shelley. Acho que, quando a Natureza me moldou, colocou em mim um senso muito forte de indiferença. Sou indiferente, só isso. Quanto aos meus demônios, eles me assombram por dias inteiros. Eu não consigo sentir nada, neste momento.

Shelley:
Os excessos é que destroem qualquer tipo de caráter, meu caro! Sem disciplina não há como seguir adiante!

Byron:
Altruísmo, Shelley! E o mais impressionante é que até para escrever você tem um horário especifico. Eu nem sei como é que eu consigo rabiscar umas meras linhas! Talvez Keats tenha razão num ponto: eu escrevo o que vivo, ao passo que ele tem que fazer um esforço inacreditável para compor. Mas mesmo assim, considero Keats um total idiota. Apesar de saber que Você o admira.

Shelley:
Vejo somente o lado bom das coisas, Byron, apesar de o mundo sempre ter girado de ponta-cabeça. Talvez tenha sido a tuberculose, mas o fato é que existe algo além, disso eu tenho certeza. Veja Goethe, por exemplo: é um ser humano completo. Creio que está além de nosso tempo.

Byron:
Quem conseguirá supera-lo? Sim, ele é o maior...mas ainda assim ele ficou pesaroso por causa de todos aqueles suicídios causados pela leitura de seu primeiro livro " O Sofrimentos do jovem Werther ". Queres um conselho, Shelley, de amigo? Diminua a dosagem de laudano que você toma. Isto pode estar te afetando...

Shelley (rindo): Olha só quem fala! Um escravo da luxuria aconselhando um viciado em laudano! Belos idiotas nós somos, isso sim!

(luzes se apagam)


ATO 6

(Cena: Byron e Shelley foram convidados para irem encontrar o Mestre da Lua, líder dos Carbonários. Shelley está sentado conversando com Mary, sua mulher, quando Byron aparece de repente)

Byron (irônico): Vamos lá, Shelley, hoje é dia de limpar o bosque dos lobos, esqueceu?

Mary (olhando com desprezo para Byron e olhando seriamente para Shelley): Agora deram de falar por meio de códigos? O que é que vocês vão aprontar, que eu não possa ir? Byron (beijando as mãos de Mary, sorrindo): Se houvessem jardins por perto, certamente que poderias participar com as outras flores, não é, Shelley?

Shelley (se levantando, beijando Mary com pressa): Sociedades Secretas, Mary, este tipo de coisa, tão antigo quanto as areias do Saara...

Byron (colocando as mãos na cabeça, incrédulo): Não acredito que você falou para ela!

Mary (levantando-se e encarando Byron): Não temos segredos entre nós, caso não saiba!

Confiamos um no outro!

Byron (sarcástico): Não de pode confiar nunca numa mulher...

Mary: Se você confiasse deixaria de ficar doente, como tantas vezes fica: vegetando na cama

Shelley (segurando Byron e o empurrando para longe dali , falando com firmeza): Vamos, Byron! Não percamos mais tempo!

(Os dois saem de cena. Sai também Mary. Entra o Mestre da Lua e fica sentado, esperando por Byron e Shelley, que logo chegam)

Mestre da Lua (cumprimentando-os efusivamente): Sentem-se, senhores, é sempre um prazer encontra-los. (Byron e Shelley sentam-se. O Mestre da Lua consulta uns papéis, preocupado): Caros primos, a situação dos gregos não anda nada boa. Cada dia chegam mais relatórios das crueldades do turco louco, o paxa Ali. Se não me engano, Lord Byron se encontrou com ele, certa vez, não foi?

Byron: Na época, ele me pareceu um velho bondoso. As aparências enganam, não é mesmo? Foi por volta de 1809, se não me falha a memória. (Olhando para Shelley): Como pode a Inglaterra apoiar um tirano sanguinário destes, Shelley?

Shelley: Por causa da excelente relação comercial-financeira entre os dois, Byron.

Byron: Toda minha esperança política morreu com o grande Napoleão Bonaparte, mas se há um vestígio de esperança, creio na Venezuela do grande Bolívar.

Mestre da Lua
: Vim alerta-los de que existem espiões por toda parte, e que relatórios semanais são escritos sobre as ações dos senhores, e que consideram a " Romântica " um movimento revolucionário perigoso...

Shelley: Devem estar loucos!!! Falta do que fazer, não é mesmo, Byron?

(Byron faz um gesto vago de indiferença): Eu não me imagino liderando qualquer tipo de movimento...veja por exemplo, a Itália de hoje. Não posso acreditar e falar em termos de uma Roma papal, de uma Veneza austríaca. Todos coexistem, por bem ou por mal, não é?

Shelley: Se eu pudesse eu iria até a Grécia lutar pela causa. Estou cansado de absurdos como esse! Tem gente demais sendo empalada.

Mestre da Lua: Os irmãos da ordem pediram que eu os convidasse para fazerem mais uma vez um discurso.Todos ficaram muito inspirados da última vez.

Byron (com um ar cansado): Houve um tempo em que acreditava em palavras, mas creio que esse tempo findou! Precisamos de mais ação! (levantando-se): Que ao menos eu tenha uma morte de soldado...(olhando para o Mestre da Lua): Iremos fazer mais um discurso, é só mandar me avisar. Vamos indo, Shelley?

(Os dois cumprimentam o Mestre da Lua e se vão)


ATO 7: DELÍRIOS DE SHELLEY VERÃO DE 1822


(Cena: Shelley está andando de um lado para o outro,extremamente agitado. Mary mandou chamar Byron, para que este conversasse com Shelley. Desde 1812 Shelley vem sofrendo de ataques nervosos, tomando laudano para se tratar. Mary acaba de abortar mais uma vez. Byron entra no recinto)

Byron: Como vais, Shelley? Por que está tão agitado?

Shellley: São as vozes dos antepassados que se levantam, Byron, as vozes do Circo Máximo gritando, pedindo nossas vidas!

Os velhos sistemas estão caindo, e qual é o nosso papel? O manto da Noite nos cobrirá!

Byron: (preocupado): Mary me disse que você não está conseguindo dormir! Que tipos de pesadelos tem?

Shelley (cabisbaixo): Pressinto um vento gélido me dominando, Byron, e vozes alarmadas gritando ao longe! Sinto que meu fim se aproxima.... (olhando para Byron): Já sentiste isto, teu fim? Inevitável, consolador? Byron: Estou cansado, Shelley, tanto quanto você. Vejo esta Itália, tão bela e distante, com suas operas e teatros... mas sinto falta é da Inglaterra, mesmo agora eu penso nela...que diferença faz, agora? O que me aguarda? Uma morte de soldado, é isto que pressinto. Não me imagino morrendo velho.

Shelley: Meu fim se aproxima, Byron, é o preço por ter ousado enxergar além! Keats está morto, e quem será o próximo?

Se ao menos me sobrasse tempo para ir salvar a Grécia, pátria dos filósofos e amantes da sabedoria!

Byron: Ora, Shelley, você tem mulher e filho. Se alguém deveria ir, já que o mundo se tornou um deserto sem fim, este teria que ser eu...
Shelley: Um de nós dois irá, querendo ou não! Ao final, todos encontraremos a "morte de soldado".

(silêncio)


ATO 8 - ATO FINAL

ITÁLIA - 1822


(Casa de Byron. Byron acaba de saber que o barco de Shelley naufragou no mar. Mary está aguardando noticias de Shelley na casa de Byron. Byron entra e vê Mary aflita. Ele não sabe como dar a notícia a ela)
.

Mary (correndo ao encontro de Byron, com as mãos juntas): Alguma notícia dele?

Byron (deixando-se cair no sofá, inerte em pensamentos desconexos): Já é tarde, Mary, É inútil continuar as buscas a esta hora. (fazendo um gesto de quem procura amenizar as coisas) Provavelmente deve ter se perdido no mar...

Mary (com os olhos arregalados, inconformada): Como você pode falar deste jeito, como se tratasse de um mendigo? (gritando): Ele era seu amigo, não era? Um ser humano fantástico, ao passo que você não passa de um projeto de homem, medíocre e devasso.

Byron (levantando-se e dando um soco na mesa): Cale-se! Se não fosse mulher de meu amado amigo, eu lhe ensinaria boas maneiras! (sorrindo de uma forma terrível, volta a se sentar, como se nada houvesse acontecido): Por respeito a Shelley, continuaremos as buscas pela manhã, entendeu? Mulheres só sabem atrapalhar nas horas de emergência.

Mary (preparando-se para sair, apontando o dedo para Byron): Adeus, seu maldito desgraçado!

Byron (levantando-se e segurando-a): Queres saber a verdade? (gritando): Pois o barco de Shelley naufragou! Os destroços vieram dar á praia! Cansamos de procurar por seu corpo, mas não achamos nada! (soltando-a): Nada! (Byron afunda-se no sofá, com a cabeça enterrada nas mãos, cabisbaixo. Mary fica sentada no chão, inerte)

Mary: Eu não acredito... você é cruel, ele deve ter sobrevivido, amanhã mesmo saberei que tudo não passou de um engano cruel!

(Silêncio)

Byron (Olhando bem pra ela): Você me odeia, não é mesmo, Mary? Quantas vezes Shelley me disse que você era grata a mim por ter escrito "O Prometeu Moderno" naquela noite chuvosa, na Suíça. Mas eu nunca acreditei nisso! Onde está aquela escritora que surpreendeu o mundo com sua história filosófica de terror e realidade? Sabe o que eu acho? Que você se inspirou em mim para descrever seu Frankenstein, não é mesmo? Vamos lá, cartas na mesa!

Mary (levantando-se e andando uns passos sem rumo): Sempre tive ciúmes de você, pois Shelley lhe devotava mais afeto do que você realmente merecia! Sempre tive medo de você, do que você representa... e da influência ateísta que exercia sobre Shelley.

Byron: E o que eu represento para você, senhora Shelley? Um ser sem alma, sem coração? Pois sei que você se considera uma grande filosofa... mas ficou á sombra de Shelley. Por que não voltou a escrever? Acaso acabou a fonte de inspiração?

Mary: Um fantasma do século 18, Byron, é o que penso que você é! Não há lugar no mundo para seres como você. Você não entende? Seus adoradores e seguidores anseiam somente por um último gesto seu: sua morte, uma morte de soldado, como você tanto pregou. Tenho pena de ti...

Byron: Fui educado com os livros do século 18, Mary, e talvez por isso me considere um ser do século 18. Mas responda a minha pergunta, a fonte de inspiração secou? (energicamente): Por que parou de escrever?

Mary (suspirando): Na verdade, não gostei do que escrevi em "O Prometeu Moderno", esta é a razão. Sou absolutamente critica, por isso sou muito exigente. E não achei nada que valesse a pena ser publicado. Shelley é brilhante, até você consegue iludir milhões de leitores, mas eu... perdi a direção. Naquela noite, na Suíça, eu bebi toda a fonte, e agora, secou. Byron (Sorrindo, esticando os braços, num sinal de cansaço): Vou descansar, e sugiro que faça o mesmo, Senhorita. Se quiser, meu criado lhe providenciará um quarto. Passarei a noite em claro recordando os bons momentos que passei junto a meu amigo Shelley. Num ponto tens razão: não há mais lugar no mundo para seres como eu!

Boa Noite!


(LUZES SE APAGAM)

(CENA: O corpo de Shelley inerte no chão. O mar trouxe seu corpo de volta á terra. Byron vem caminhando e encontra o corpo do amigo. Se ajoelha ao seu lado. Olha para cima, como quem procura ser confortado. Lágrimas caem de seus olhos)

Byron (bradando aos céus, recitando opoema de Shelley " A Noite "):


I

Spectro da Noite, célere atravessa

Os mares do Ocidente!

Das brumosas grutas do Oriente vem depressa,

De onde, enquanto o dia refulgente

Se alonga em solidão, tu teces sonhos

Os mais benévolos e os mais medonhos

– Vem, ó Noite envolvente!


II

Esconde teu vulto em manto sem cor,

Teus astros benfazejos! Venda os olhos do Dia

[com o negro]

De teu cabelo, e exaure-o com teus beijos,

Depois toca a cidade, e a terra, e o mar,

Com teu condão de ópio, a apaziguar

– Noite de meus desejos!


III

Quando acordei e vi o amanhecer,

Eu suspirei por ti;

E quando vi o orvalho esvanecer,

O sol pesar sobre o mundo, e senti

Que o Dia demorava-se, cansado,

Tal qual um hóspede indesejado,

Eu suspirei por ti.


IV

Veio tua irmã, a Morte, e perguntou:

Tu me chamaste aqui?

Teu doce filho, o Sono, se achegou,

E entre suaves murmúrios ouvi:

Queres que me acomode ao lado teu?

Chamaste-me aqui? — Respondi-lhe eu:

Não, não chamei a ti!


V (levantando Shelley, bradando):

A Morte? Só quando houveres morrido,

Em breve, ah, em breve –

O Sono? Quando tiveres partido.

Que não me venha o Sono, nem me leve

A Morte, e sim tu, Noite, ó bem-amada

– Vem súbita, vem célere, alada;

(Silêncio)

Adonis jaz morto! O mundo se tornou mais e mais desolado...

Aqui! Aqui jaz Adonis! Poseidon o enviou de volta, graças aos pedidos de Atenas e Apolo!


(Mary chega correndo, com os braços abertos. Byron o deposita lentamente no chão. Mary fica abraçada junto a ele, chorando baixinho. Byron sai andando devagar. Para por um momento, então grita): Por ti, Shelley, morrerei lutando para libertar a Grécia dos inimigos da liberdade! Juro-te!

(Luzes se apagam)

(Casa de Byron. Faz 8 meses que Shelley morreu. Em cena estão o Mestre da Lua e Byron. Uma carta jaz sobre a mesa)

Mestre da Lua (espantado): Ouvi rumores de que o senhor partiria para libertar a Grécia dos turcos, em especial tomar Lepanto. Isto é verdade?

Byron (rindo alto): Não é engraçado como as pessoas antecipam minhas ações? (amargamente): Como se eu pudesse salvar aquelas pobres pessoas de tiranos como Paxa Ali. Mas creio que no final, o grandioso Shelley tivesse razão: a juventude desiludida de nosso tempo precisa de mártires para seguir adiante. Seria um final grandioso. Mestre da Lua (respeitosamente): Gostaria que soubesses que tens nosso apoio, e falo isso em nome de todos os Carbonários e o primos da Fraternidade Filelênica. Não quero pressiona-lo, caro lorde, mas seria um grandioso exemplo para toda a Europa, já que o senhor é um lorde inglês e a Inglaterra lucra com a tirania dos turcos sobre os gregos... (procurando disfarçar um sorriso, mas permanecendo sério): E este ato demonstraria a nobreza de teu caráter...

Byron (servindo-se de um gole de gym que estava sobre a mesa. Ele então percebe que tem uma carta sobre a mesa. Pega-a na mão e estranha a letra): O senhor que trouxe esta carta?

Mestre da Lua: Não, senhor não trouxe nada comigo. Mas por favor, verifique a data e abra a carta para verificar.

Byron
(abrindo a carta, olhando mais de perto, espantado): Faz duas semana que esta carta chegou! Será de algum estudante lunático? Já recebi milhares desta, mas... (espantado, reconhecendo o sinete e a letra)

É de Goethe! (sentando-se, pálido e comovido): Está em alemão! Por acaso o senhor sabe ler alemão!

Mestre da Lua (abrindo um largo sorriso, pegando a carta das mão de Byron): Felizmente sei! Prepare seu coração, pois eu a lerei num minuto! (O Mestre da Lua faz uma pose, e começa a ler com intensidade. É uma benção que Goethe mandou para Byron, quando soube que este iria para a Grécia. Byron ouve com todo cuidado, de cabeça baixa)

" Que poderia eu dizer à distância, de bastante terno - aquele que há tanto tempo venho acompanhando?

Aquele que vem mantendo consigo mesmo lutas intimas

Aquele que grandemente habituado a suportar as magoas mais profundas,

Ainda assim tem o contentamento de sentir a si próprio?

Que ele tenha coragem de se dizer bem-aventurado

Quando a força das Musas sobrepuja as dores,

E que ele se revele a si próprio, tal como eu o conheço ".


(O Mestre da Lua deposita a carta na mesa e aguarda. Byron se levanta)


Byron: Sim, eu irei até a Grécia, nem que seja a última coisa que eu faça. Pode dizer a eles que tens minha palavras!

Mestre da Lua: A Fraternidade Filelênica lhe será imensamente grata! Adeus!

(cumprimenta Byron respeitosamente e sai de cena)

Byron (em pé, como um soldado): Buscai a morte do soldado, que poucos procuram e muitos encontram. Será para a ti a melhor. Escolhe, olhando em torno, a tua sepultura, e goza teu repouso.

A Grécia será, então, a minha sepultura...


(Luzes se apagam)


FIM



APÊNDICE




SOCIEDADE DOS CARBONÁRIOS:
Membros da Carbonária, sociedade secreta, de caráter politico-religioso, do fim do século 18 e principio do século 19, ativa principalmente na Itália e França. Na Itália eram Carbonari (carvoeiros) e na França Fendeurs (lenhadores) usando, quando se comunicavam, expressões próprias daqueles ofícios. Chamavam barraca ao lugar das reuniões, ao seu interior, choça, e aos seus arredores, bosque. Tratavam-se por bons primos e falavam em nome de grandes ideais e tinham em seu ritual muitas analogias com a Maçonaria. Na Itália lutou contra a invasão francesa e chegou a contar com 600.000 adeptos que se batiam contra os Estados Pontifícios, a Áustria e seus aliados. As chamadas Vendas eram as orientadoras das choças ou barracas, e nomeavam delegados ao conselho supremo. Havia ainda a barraca de mulheres, denominadas jardins, tendo elas o nome de jardineiras. Limpar o bosque dos lobos significava a destruição dos tiranos.

Fraternidade Filelênica:
Movimento de interesse e simpatia pelos patriotas que lutavam pela independência da Grécia contra os turcos. Filelênico quer dizer: "amigo dos helenos", dos gregos, portanto.

ROMÂNTICA: Sociedade da época do Romantismo literário, que teve caráter político em Portugal, com Garret e Herculano. Na Itália, foi chefiada por Manzoni.

Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema, podendo não refletir a posição oficial do Portal Educação.


Davi Oliveira

por Davi Oliveira

Davi Oliveira ; escritor, autor de diversos dramas históricos, dentre eles uma Trilogia sobre a vida de Lord Byron.Como dramaturgo,lançou 3 peças de teatro: A Vida de Lord Byron (2005);Karen (2007) e Encontros e Desencontros (2009) Como compositor, possui mais de 150 músicas, em vários idiomas. Seu Último CD O Testamento de Bardo Liam.

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